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Estádio Municipal corre risco de virar elefante branco

estadio municipal by fernando
Apenas 12 partidas das equipes de base de Tupi e Tupynambás estão previstas para o Mário Helênio até o fim do ano (Foto: Fernando Priamo)
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Se no ano passado o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio completou 30 anos – foi inaugurado em 30 de outubro de 1988 -, o palco que já recebeu partidas como a decisão da Primeira Liga e duelos do Campeonato Carioca e de todas as divisões do Brasileiro não vive o auge de sua história. Sem partidas das equipes profissionais de Tupynambás e Tupi até o fim do ano, o principal palco esportivo da cidade, alvo de concessão planejada desde janeiro de 2019, possui diminuição de eventos em seu espaço, com gastos de manutenção que giram em torno de R$ 1 milhão ao ano.

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Ao todo, nove partidas da dupla Tu-Tu foram realizadas no Estádio nesta temporada. O melhor público no ano foi justamente no clássico municipal, com 5.770 presentes, longe da capacidade máxima do local, de 31.863 pessoas. Nem mesmo somadas as presenças em todas as nove partidas o Estádio estaria lotado – receberia 17.415 torcedores. O espaço também recebe os compromissos das equipes sub-15 e sub-17 do Baeta, pela Segunda Divisão do Mineiro de base, assim como o sub-20 carijó, no Estadual desta categoria.

Até o final do ano, estão previstos apenas 12 jogos destas equipes no Estádio, além das finais da Copa Prefeitura Bahamas de Futebol Amador e do futebol de campo dos Jogos Intercolegiais e, durante quatro sábados, jogos do torneio interno dos funcionários da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), segundo informações da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL). A concorrência com o poder financeiro de empresários que levam partidas de âmbito nacional para locais como Manaus e Brasília também tem impedido o município de receber eventos de porte.

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O cenário pode se agravar ainda mais caso o Tupynambás não siga ao menos na Série D em 2021, visto que o Tupi só poderá voltar a uma competição nacional em 2022. O contexto gera, de forma consequente, a preocupação com a chance de o principal palco juiz-forano virar o popular “elefante branco”. A possibilidade, no entanto, foi descartada pela pasta esportiva da Prefeitura, que adiantou, como uma das possíveis soluções para a otimização do uso da estrutura, o planejamento de privatização em parceria com o órgão público.

“A PJF/SEL não vê este risco, já que o Estádio Municipal possui 30 anos de história e por inúmeras vezes foi palco de grandes jogos. A Prefeitura sempre buscou a manutenção e melhoria do equipamento esportivo para atender os eventos com melhor estrutura, tais como placar eletrônico, pintura de arquibancada, melhorias nos vestiários, nas cabines de imprensa e no hall de entrada. A PJF, através da SEL, assim como em grandes cidades, está realizando o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), a partir daí será feita a licitação para concessão do complexo esportivo, com o objetivo de fomentar o esporte na cidade trazendo grandes eventos, valorizando os equipamentos esportivos que temos, sem onerar o município e, ainda trazendo receita para a cidade. Consequentemente, fomenta o turismo, o comércio local e a valorização do esporte de rendimento”, informa nota enviada pela secretaria.

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Prejuízo também aos clubes

Maior público do ano no Municipal, 5.970 presentes, foi no clássico Tu-Tu, em janeiro (Foto: Fernando Priamo)

A utilização do Estádio Municipal também tem sido onerosa para os clubes juiz-foranos. É o que aponta o vice-presidente do Tupynambás, Cláudio Dias. “Com ingresso médio de R$ 15 (R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia), precisamos de cerca de 2 mil torcedores para não termos prejuízo. Com bilhete médio de R$ 20, são necessários 1.500 pagantes.” Somente na partida contra o Tupi, em que a renda foi igualmente dividida por acordo entre os times locais, houve lucro.

No clássico municipal, com planejamento de evento para até 5 mil pagantes, o Baeta teve, segundo Dias, gastos com quadro móvel, segurança, orientadores, bilheteria, gradil e Lei Mário Helênio. A despesa com a ambulância não existiu graças ao convênio com a Unimed. Como todos os ingressos foram vendidos, houve lucro de R$ 29.774,58, dividido com o Carijó.

Já o duelo contra o Galo de Belo Horizonte foi projetado para até 9.990 pagantes. Logo, as despesas chegaram aos R$ 43.096,90, de acordo com Dias. Com renda bruta de R$ 23.400, houve prejuízo de quase R$ 20 mil. Uma saída estudada pelo Leão do Poço Rico, que já pode ser colocada em prática em 2019, é levar partidas entre equipes do interior para o José Paiz Soares, na sede do clube. “Para jogos menores seria uma saída para a redução de custos”, avalia Dias.

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O Tupi também foi procurado pela reportagem, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.

Obras recentes contemplaram melhorias e revitalizações

De 2013 até o ano passado, o Estádio Municipal recebeu a maior reforma em seus 30 anos de história. Segundo a PJF, mais de R$ 1,5 milhão de investimentos foram destinados às melhorias estruturais do palco esportivo, divididas em quatro etapas ao longo dos anos. Os valores tiveram origem tanto de recursos municipais e federais, nas três primeiras fases, quanto da iniciativa privada, na parte final das obras. Quase todos os setores do espaço de 90 mil metros quadrados sofreram mudanças, desde revitalização até atualizações para seguir os padrões demandados por entidades do futebol como a CBF e a Fifa para que o espaço pudesse receber partidas de campeonatos como a Primeira Liga, o Campeonato Carioca e a Série A do Brasileiro, e almejar, inclusive, sediar eventos internacionais.

Estádio Municipal passou por diversas obras que incluíram melhorias e revitalizações (Foto: Leonardo Costa)

Entre as mudanças, houve troca e alinhamento do gramado, na primeira fase, seguidas por reforma dos vestiários, das cabines de TV, da sala de imprensa, da cantina e dos sanitários, além da construção de 12 cabines de rádio. No Pórtico 1 (principal), por exemplo, foi implementado um corredor de alambrado, para separar a entrada das delegações e da arbitragem do acesso dos torcedores. Outra alteração foi a expansão da área de torcedores no Pórtico 3 (visitantes), a fim de facilitar a chegada e a saída do público, evitando aglomerações em grandes jogos.

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Já na última fase, foi instalado, em novembro de 2017, o placar eletrônico com 6,40m de largura por 3,20m de altura, com área de 20,5m quadrados, divididos em 20 placas de LED. A aquisição foi feita por meio de licitação, com custo de R$ 230 mil, oriundos de convênio firmado entre o Ministério do Esporte e o município. Por fim, foi realizado o processo de pintura das arquibancadas, intervenção iniciada em dezembro de 2017 pela PJF, com chamada pública que teve como vencedora a cervejaria Antuérpia. O custo estimado divulgado à época foi de R$ 166.466,78, sem ônus para a Prefeitura. Em contrapartida, a empresa obteve autorização para divulgar sua logomarca através de placa de identificação e permissão para instalar placas de publicidade em diferente áreas do estádio.

Câmara quer fiscalizar uso do estádio

Sargento Mello é autor de pedido de informações sobre o estádio (Foto: Olavo Prazeres)

No último 28 de maio, foram encaminhados documentos de pedido de informação à PJF, através da SEL, de autoria do vereador Sargento Mello (PTB), com o objetivo de “fiscalizar o correto uso do dinheiro público e o trato da coisa pública”. Entre as solicitações estão a apresentação de registros de eventos no Estádio e a relação de gastos e de pessoas físicas ou jurídicas que utilizaram o espaço entre 2014 e 2019. “Tudo começou por causa dos estudos que o nosso gabinete fez a respeito do esporte na cidade. Tem, por exemplo, a Lei Mário Helênio, que não vem sendo cumprida na cidade”, destaca o vereador. O dispositivo ao que o parlamentar se refere prevê a destinação de 5% da renda bruta de todos os eventos esportivos realizados na cidade para um Fundo Municipal de Apoio ao Esporte.

A intenção é que o debate sobre o esporte local seja intensificado com um novo Conselho Municipal de Desportos (CMD), como relata o presidente da Comissão de Educação, Cultura, Turismo e Esporte e Lazer da Câmara Municipal, o vereador Júlio Obama Jr (PHS). “Confesso a você que pela palavra ‘educação’ vir no início, a gente está mais envolvido desde as creches conveniadas à construção de creches, tentando mediar algumas situações no momento. E geralmente a comissão vai de acordo com a demanda que chega. Mas essa situação do estádio me preocupa e não é de hoje, até mesmo quando há jogos de Tupi e Tupynambás, afinal, R$ 1 milhão de custo é muito dinheiro e estamos em uma crise. Mas essa crise não pode impedir as atividades esportivas, porque isso também faz parte da interação da comunidade. Fiz comentário com vereadores mais ligados ao futebol e isso já foi citado na discussão da formatação do novo Conselho de Esportes da Prefeitura. Demoramos quase cinco meses para aprovar uma nova composição, e acredito que a discussão tem que ser feita lá, primeiro, e depois aqui (na Câmara). A Prefeitura precisa estudar ações administrativas, não necessariamente políticas públicas. Será que o custo do Estádio é o mesmo com os times jogando? Tem que ser debatido.”

Segundo o Sargento Mello, o antigo CMD tem 60 dias a partir da publicação do prefeito para eleger a composição subsequente e formatar um novo regimento.

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