Atividade completa, que trabalha força, equilíbrio, flexibilidade e concentração. Durante a prática, os atletas precisam resolver problemas e enfrentar desafios pessoais, se tornando uma experiência tanto física quanto mental. Para quem nunca fez, os ginásios oferecem instrutores para garantir a segurança e ensinar as técnicas básicas. Essa é a escalada indoor, esporte presente nas Olimpíadas de Paris de 2024 e que ganha mais adeptos a cada ano.
Em Juiz de Fora, a modalidade pode ser praticada no Ledge Escalada, no Bairro Borboleta, Cidade Alta. A Tribuna esteve no local na última terça-feira (19), praticou a escalada e entrevistou instrutor e atletas. O esporte é o nono protagonista do “TM Esporte Clube”, série que mostra o cenário das mais diferentes práticas esportivas que são oferecidas na cidade. Até o momento, foram abordados o paraquedismo, a esgrima, o rapel, o foot table, a canoagem, o parapente, a bocha e o squash.
Cenário da escalada em Juiz de Fora
Leonardo Almeida, de 26 anos, nascido em Belo Horizonte, se mudou para Juiz de Fora em 2018, para trabalhar no Exército. Com isso, começou a treinar na categoria outdoor, feita em pedras. Junto a um amigo, também militar, notou a falta de um ginásio de escalada na cidade, pois as pessoas praticavam na natureza dos bairros Retiro e Linhares, mas com dificuldades, principalmente à noite. Assim, realizaram a montagem das paredes e marcenaria e construíram a Ledge Escalada em 2021, após visitar ginásios em Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba.
“Juiz de Fora ainda está engatinhando no esporte, mas tem tido um aumento de procura. Para fomentar o interesse, fazemos eventos como festivais de boulder, além de levar muros móveis para escolas e festas. No Brasil, o esporte está em crescimento, com resultados recentes que mostram evolução, como a presença de brasileiros no pódio em Campeonatos Sul-Americanos”, analisa Leonardo, sócio e instrutor da Ledge.
Tipos e competições
No local, há diversas possibilidades de escalada. O boulder é praticado sem cordas e em alturas menores, com colchões para proteção; o top rope, indicado para iniciantes e crianças, que utilizam cordas para maior segurança; e a escalada guiada, mais próxima do estilo tradicional outdoor, na qual o escalador vai costurando a corda durante a subida. Além disso, há uma variedade de agarras, desde as mais fáceis, como os agarrões, até os regletes e abaulados, que simulam diferentes tipos de pedra. Em todos os tipos há o uso do capacete e sapatilhas específicas, além da orientação de um instrutor que garanta a prática segura.
Já as competições de escalada são realizadas em três diferentes formatos. Na “boulder”, o objetivo é resolver problemas de escalada em um muro mais baixo. Os competidores têm um tempo fixo e podem tentar quantas vezes quiserem, mas ganha quem resolver o problema no menor número de tentativas. Por outro lado, a “speed” conta uma via padronizada, com agarras idênticas, sempre no mesmo lugar e na mesma distância. O objetivo é subir a via o mais rápido possível, competindo diretamente contra outro escalador. Vence quem bater o botão no topo primeiro, no menor tempo. Por último, na “lead”, o escalador sai com a corda presa e vai costurando ao longo da via até o topo. A pontuação é baseada em quem completa a via, e, em caso de empate, quem terminou mais rápido vence.
Autorrealização
Um dos praticantes da região é Luiz Henrique Castro, de 35 anos, natural de São João Nepomuceno. Com mais de dez anos de experiência, ele define o esporte como viciante. “Além de trabalhar o corpo inteiro, como mãos, braços, dedos e pernas, exige movimentos únicos que outros esportes raramente demandam. A escalada não é apenas sobre força física, também desafia a mente. É preciso desenvolver autocontrole, autoconhecimento e aprender a lidar com os medos. Pessoas impulsivas podem se arriscar demais e cair, enquanto os mais medrosos aprendem a enfrentar e dominar suas inseguranças. É uma combinação de controle físico e mental”, define.
Na visão de Luiz, que é dono da “Dipo Escalada”, em São João Nepomuceno, a modalidade ainda não é tão difundida por medo e preconceito. “Muitos acham que é perigosa, mas quando os procedimentos são seguidos corretamente, é extremamente seguro. Se torna uma experiência de autorrealização, na qual o principal desafio é sempre contra si. A escalada ensina lições valiosas sobre a vida. É um esporte que exige paciência e evolução gradual. Cada dia, um novo movimento pode ser conquistado, um progresso que reflete a importância de respeitar o tempo e o processo em tudo que fazemos”.
Mudança de casa para escalar
Jordana Lemos, de 26 anos, se mudou do Bairro Granbery, região Central de Juiz de Fora, para a Serra do Cipó há dois meses por causa da escalada, que adquiriu total importância em sua vida. “Tive uma depressão profunda e, ao sair dela, percebi que precisava encontrar maneiras de redescobrir o brilho da vida. Foi nessa busca que conheci a escalada. Em uma viagem, vi pessoas comuns escalando e me dei conta de que era algo acessível, não reservado apenas para atletas. Decidi fazer um curso, achando que seria algo pontual, mas a prática acabou se tornando um estilo de vida”, conta.
Antes de iniciar no esporte, ela era sedentária e fumante. “Tudo mudou com a escalada. Comecei a fazer musculação, condicionamento geral, aeróbico e treino específico, como fingerboard para fortalecimento. Hoje, faço escaladas quase todos os dias diretamente na rocha, além de vir para a Ledge. Para mim, é uma forma de autoexpressão, quase como uma arte em movimento. Escalar não é apenas um esporte, é uma experiência completa. Seja na natureza ou no ginásio, é um momento de conexão, superação e aprendizado. Além de trazer felicidade e realização, também ensina a lidar com frustrações e a respeitar o tempo das coisas”, declara Jordana.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva