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Em nome dos filhos

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Ian entre a mãe Rosânia e o padrasto Gilson Tussi, ex-Tupi
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Ver os filhos crescerem e se desenvolverem sadios em um ambiente seguro, fazendo o que gostam e sendo felizes é o desejo de cada pai e mãe que já viveu a alegria de ter em seus braços um pedacinho de si mesmo. Ajudar na realização dos sonhos de criança é mais do que uma missão. Na verdade, é um privilégio. Nesse contexto, nenhum esforço é demais, nenhum desafio é desencorajador para quem quer estar certo de que sua cria está bem e em um bom caminho. Por isso, alguns pais juiz-foranos fizeram do sonho de seus filhos no futebol seu próprio objetivo e embarcaram com tudo na viagem pelo mundo da bola para dar suporte àqueles que mais amam.

Desde pequena, Flávia Guedes demonstrava aptidão para o esporte bretão. Nascida em Mar de Espanha, a garota tinha o apoio da família e sempre dizia à mãe, Leda, que um dia seria jogadora. Incentivando o desejo da filha e tomando seu sonho como meta pessoal, a dona de casa não teve dúvida, foi atrás de concretizá-la. “Nos mudamos para Juiz de Fora quando a Flávia tinha 14 anos, justamente para encontrarmos um time para ela jogar. Primeiro, fomos ao futsal do Vianna Júnior, depois ao Esporte Clube Benfica. Mais tarde, em 2009, pesquisando na internet, vi que haveria duas peneiras em São Paulo, uma do Santos e outra do Palmeiras. Então, coloquei-a ‘debaixo do braço’ e fomos para lá. Ela foi aprovada, ainda na linha, para jogar no Palmeiras. Nos mudamos de vez e lá ela se tornou goleira”, conta.

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Bem mais jovem que Flávia quando começou a seguir os caminhos que o levariam a ser jogador, o hoje adolescente Ian Brito, 14 anos, também contou com a ajuda da mãe, Rosânia, que embarcou de cabeça em seu sonho. Desde 2011, os dois moram na capital do Paraná, onde o garoto juiz-forano iniciou sua trajetória nas categorias de base do Coritiba. “Viemos a primeira vez quando ele tinha 11 anos. Meu marido é jogador (o volante Gilson Tussi, ex-Tupi) e é daqui do Paraná. O Ian fez o teste no Coxa e passou, ficando para disputar um campeonato de setembro a dezembro. Nesse período moramos em um hotel e, no fim daquele ano, voltamos para Juiz de Fora. Conversamos, ele disse que era isso mesmo que queria e voltamos então para nos instalar de vez. Parei minha vida para dar esse suporte a ele”, explica a gerente de recursos humanos.

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Apoio

A mudança de cidade para acompanhar os filhos tem a ver com questões práticas e de fundo psicológico para os pais que optaram por seguir seus rebentos. Pai do hoje jogador profissional Thomás, atualmente emprestado na Ponte Preta pelo Flamengo, Otávio Bedinelli transferiu a maior parte da família para o Rio de Janeiro quando a carreira do filho tomou o rumo da Cidade Maravilhosa. “Ele já ficava entre idas e vindas de Juiz de Fora, onde passava a semana, e nos fins de semana descíamos para o Rio para que ele jogasse futsal no Botafogo. Em 2007, resolvemos ir de vez. Meu filho mais velho, Leandro, já tinha idade para permanecer aqui e ficou. Fomos eu, minha esposa Denise e minha filha Bárbara. Não podia deixar ele nessa idade, de 14, 15 anos, sem o convívio familiar. É uma fase de afirmação como pessoa, e não poderíamos deixá-lo crescer longe de nós. Como trabalhava com consultoria na época, não fazia diferença estar em um lugar ou outro”, lembra o engenheiro civil.

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Para Leda Guedes, as viagens de mudanças com Flávia fora fruto de uma relação natural de suporte que vinha de toda a família. “Ela sempre teve meu apoio em tudo, assim como o de toda a família. Não sofreu nem aquele preconceito que existe muito por aí de uma menina tentando ser jogadora de futebol. Então, naturalmente acompanhei de perto e dei esse suporte quando necessário, me mudando, indo com ela para São Paulo, arrumando apartamento, indo a treinos e jogos. Acredito que apoiar dessa maneira era meu papel”, explica.

Rosânia nem cogitou se desligar de Ian, então com 11 anos. Com o tempo, passou a se integrar ao Coritiba e se tornou uma espécie de conselheira das novas mães. “Na idade em que viemos, era uma época de formação de personalidade. Não deixaria ele vir sozinho. Convivo muito no clube, moramos em frente ao Couto Pereira. Vejo a realidade de mais de cem crianças. Embora a estrutura seja boa, são muitos garotos. Procuro comparar a realidade do Ian com a dos colegas que não têm os pais aqui. Fico comovida, pedimos autorização para eles dormirem lá em casa. Agora sou escalada para conversar com as mães e pais que levam seus filhos para jogar no clube. E sempre que me pedem conselho, falo para virem junto se puderem”, conta.

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A hora de deixar a cria bater asas

Otávio faz coro com a mãe da jovem promessa que hoje integra o ataque do sub-15 do Coritiba. Segundo o engenheiro, quem pode deve ir atrás do sonho boleiro dos filhos. “Claro que cada caso é um caso. Mas meu conselho é que, se você tiver condição de fazer isso, acompanhe seu filho. É uma etapa muito importante da vida, e o apoio familiar, fundamental nos percalços do caminho. Me lembro uma vez que o Thomás machucou no último ano de infantil, chegou a achar que não jogaria mais futebol. Demos toda força e carinho, e ele se recuperou até mais rapidamente do que o previsto”, relata.

Mas chega uma hora na qual o filho terá que caminhar sozinho. Assim, o cordão terá que ser cortado, com um misto de sentimento de dever cumprido e aperto no peito. “O Thomás completou 21 anos quando estava na Itália (jogando pelo Siena), então decidimos voltar. A saudade bate às vezes, vamos passar um tempo com ele em Campinas, mas agora ele tem que viver a vida dele, de jogador, praticamente uma hora em cada lugar. Nós retornamos para Juiz de Fora”, diz Otávio.

A goleira Flávia, hoje com 20 anos, defende atualmente o Columbia College, do Missouri. “Ajudei na decisão dela de ir para os Estados Unidos. Falei para ir. Com o coração na mão, mas falei. Claro que tenho saudade, mas a carreira dela, aliada aos estudos lá, era uma oportunidade imperdível”, conta Leda. Rosânia sabe que a hora de dar asas a Ian também está próxima de chegar. “Mantenho muito diálogo com ele sobre isso. Por enquanto, ele diz que não quer, mas vai ter que caminhar com as próprias pernas, até para fazer carreira. Já estou nos preparando para isso.”

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Gratidão

Na palavras de quem teve o apoio e contou muitas vezes com o sacrifício dos pais para seguirem seus sonhos, o que se percebe é uma grande gratidão. “Se não fosse minha mãe, não poderia estar aqui. Quando vim, com 11 anos, não poderia ficar sozinho. Ela me proporcionou isso. Sempre cuida de mim, e seria muito pior sem ela por perto. Vejo pelo que passam meus companheiros que moram no alojamento, longe de suas famílias, por exemplo, e tento até trazê-los para casa para que tenham um pouco do convívio diário que tenho. Ela se preocupa com tudo, desde os estudos até meu desempenho nos treinos. Vive o futebol, dá conselhos. Principalmente na hora das derrotas, é importantíssima, dando seu colo. Tenho nela meu suporte”, define Ian.

Para Flávia, mesmo à distância, sua mãe continua a dar o apoio que precisa, como sempre fez.”Ter minha mãe sempre por perto no início de minha carreira ajudou muito, fez toda a diferença. Eu era nova, tinha vergonha de tudo. Ela estava sempre por perto, me ajudando a encarar qualquer problema. Sempre me proporcionou as melhores coisas, e eu não tinha com o que me preocupar além do futebol e da escola. Me incentivou a vir para os Estados Unidos, enfrentar meus medos e tentar, sempre deixando claro que, se não desse certo, poderia voltar para casa que ela iria me receber e tentaríamos outra coisa. Por isso costumo dizer que é como se ela sempre estivesse comigo.”

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