Não seria um equívoco dizer que boa parte de Juiz de Fora amanheceu rubro-negra neste sábado (21), em que o Flamengo disputou o título mundial contra o Liverpool. No São Mateus, certamente preto e vermelho eram cores que predominavam nas ruas do bairro abarrotado de barzinhos, a maioria dos quais transmitindo a disputa.
Antes mesmo da partida, trombei com o ambulante José Maria Melo, 57, que é paulistano e palmeirense. Especialmente neste sábado, foi flamenguista desde criancinha. Paramentado com camisa, bandana e tudo, ele carregou bandeirolas, flâmulas e diversos acessórios que esperava vender até o fim da partida. “O Flamengo está muito bem, e é bom ver as pessoas felizes assim. Acho que vendo tudo”, disse ele.
No Point da Esquina, famoso reduto de flamenguista, a disputa pelas mesas começou por volta de 13h. Tinha até gente esperando presente de aniversário – e duplo – do time de coração. Os irmãos Leonardo e Luiz Fernando Gonçalves, estudantes, que comemoraram no sábado 21 e 22 anos respectivamente, marcaram a festa no boteco, fazendo uma fé para o Flamengo dar uma forcinha na comemoração. “Estou muito feliz com essa coincidência, o Flamengo nesta fase ótima, esse jogo e esses amigos”, diz o caçula. “Prestigiar o Mengo e esses camaradas, de uma vez só, já é motivo pra festejar”, arremata o gráfico Mateus Alves, 21. “Não consegui nem dormir direito, nunca vi meu time desse jeito, a sensação entre os flamenguistas, principalmente da minha idade, é muito diferente, é bom demais”, completa Lucas Scarlatelli, 21, estudante.
Quando se fala em torcedor de futebol, não falta superstição. O empresário Marcos Paulo Agostinho, 42, tem poucas recordações do mundial conquistado pelo Flamengo, mas só assiste aos jogos do time no mesmo bar. “Vi todos os jogos aqui para não arriscar e dar azar.”
Na mesa ao lado, três gerações dividiam a paixão pelo Flamengo. O corretor de seguros Carlos Marangon, 51, ainda traz recordações do mundial do Fla. “A torcida está contagiante” diz ele, sentado ao lado do sobrinho, o advogado Arlindo Marangon, 35 anos. “É muito bom ver o jogo em família, que, na verdade, é a razão de sermos todos flamenguistas, vem do meu pai, do meu avô, dos tios que estão chegando, é uma coisa que nos une.” A caçula da mesa, Carla Marangon, de 14 anos, compartilha do sentimento. “É muito divertido mesmo.”
No bar do Bigode, a camisa rubro-negra era praticamente um uniforme. Amigos de longa data, Alexandre Brasil, 50, Marcelo Alvim, 55, e Jorge Rogério Rocha, 58, compartilhavam a torcida.
Na mesa ao lado, a esposa de Marcelo, a educadora Renata Mattar, acusada de ser antiflamenguista, fez questão de acompanhar cada detalhe do jogo. “Mas é mais pela brincadeira, quero ver todo mundo feliz e participar da bagunça”, garante ela. Entre risos, as amigas dizem que não é bem assim. “Ahhhh, é difícil ser amiga de antiflamenguista num dia desses”, diz, entre risos, Célia Cruz, também educadora, 55. A funcionária pública Marília Henriques estreia no bar. “Gosto de ver em casa porque fico nervosa, xingo, grito! Mas dessa vez era especial”, conta ela.
A assistente social Cleide Ana Mendes, 51, reuniu irmãs e sobrinhos para assistir a decisão. “O Flamengo é uma nação, é um momento de celebração e alegria de que precisamos tanto nestes momentos difíceis do Brasil. O Flamengo une.”
No Putz Grill, entre buzinas, cornetas e cantos de torcida pelas ruas, a família Deolinda torceu unindo forças. “Em casa não dá para gritar, vibrar, no bar tem mais essa emoção, ainda mais ao lado do meu pai, que me ensinou a ser Flamengo, a ter essa paixão”, conta o analista Leonir Alves Deolinda, 35. O patriarca, Laurentino Deolinda, 68, tem claras lembranças do mundial que o Fla tem na conta. Esposa de Leonir, a psicóloga Leiriane, 32, se entregou aos encantos do time. “Eu só via futebol em Copa, agora sou apaixonada, estou aqui de Flamengo da cabeça aos pés, porque a paixão foi contagiante”, conta ela, com camisa assinada pelo Zico, um dos maiores ídolos do Flamengo – se não o maior.
Apesar da derrota, torcedores tocaram hino, soltaram fogos e se abraçaram
Apesar de toda a mobilização da torcida, que acompanhou lance a lance o jogo que poderia dar o título ao Flamengo, o Liverpool levou a melhor na decisão, marcando o suado gol da vitória na prorrogação. Mas engana-se quem pensa que o clima entre os rubro-negros foi de derrota. No Alto dos Passos, local clássico de comemoração de vitórias futebolísticas, ouvia-se o hino do Fla, fogos e a torcida se abraçava. Uma chuva fina começou a cair bem ao fim do longo jogo. “Não é à toa que está chovendo, esse título era pra ser nosso. Mas Flamengo é Flamengo, e esse nosso ano foi melhor do que a gente podia sonhar”, diz o comerciante Luiz Alberto Silva Campos, batendo forte sob o escudo da camisa de seu time.