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Após infância difícil, Jorge Emídio é maratonista e cursa Educação Física aos 74 anos

qual seu corre by couri
(Foto: Felipe Couri)
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Nascido em Rio Bonito, interior do Rio de Janeiro, em uma família com doze irmãos. Precisou começar a trabalhar aos 7 anos na horta, em Ewbank da Câmara. Aos 12, já carregava caixas de tinta de 50 litros e ajudava a abastecer os caminhões. Jorge Emídio de Oliveira, hoje com 74 anos, radicado em Juiz de Fora, é sinônimo de luta e perseverança. Através da corrida, ele adquiriu uma vida que jamais imaginaria ter: se tornou maratonista, ingressou em uma faculdade de Educação Física e criou um “décimo terceiro” irmão. 

Pela sua história de vida inspiradora, Jorge é personagem da “Qual é o seu Corre”, série da Tribuna de Minas em que as trajetórias de corredores da cidade são contadas, assim como os desafios do esporte, a cada etapa do Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora. Neste domingo (22), acontece mais uma etapa da disputa mais movimentada da cidade, a prova Camilo dos Santos, com largada no Centro de Futebol Zico. O percurso será de 7,5 quilômetros, na Cidade Alta. Foram, ao todo, 3.818 inscritos.

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Da infância humilde à faculdade 

Jorge nasceu em uma família simples, que trabalhava em fazendas. Desde os sete anos, ajudava os pais nas atividades. “Isso trouxe um fortalecimento para mim, tenho muita coragem e não tenho preguiça. Meu nome é trabalho. Meus pais eram analfabetos, mas deixaram uma herança muito boa de educação, respeito e honestidade”, afirma. Durante a infância, ele deixou Rio Bonito e foi para Ewbank da Câmara com sua família para um novo trabalho. Depois, retornou a sua cidade natal, e, aos 16, veio pela primeira vez para Juiz de Fora, para fazer o serviço militar. Ainda morou em Nova Iguaçu (RJ), onde trabalhou em um hospital.

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Aos 35 anos, o carioca retornou para Juiz de Fora para trabalhar de vigia. Depois, atuou como cobrador de ônibus por 15 anos, quando pôde conhecer diversas pessoas do município. Aposentou aos 56, em 2006, mesma época que a corrida entrou em sua vida. “Eu brinco que era levantador de copo. Bebia e fumava desde os 18. Entrei no esporte através de uma amiga que fiz no ônibus. Fui muito criticado pelos colegas, achavam que eu não ia conseguir. Mas agora, já são 18 anos correndo”, comemora ele, que já esteve no primeiro lugar no ranking de maratonistas do Brasil na sua faixa etária quando tinha 64 anos. 

Desde então, o senhor adquiriu mais saúde, coragem e ânimo. “A corrida é tudo para mim, um remédio que todos deveriam tomar”. Morador do Bairro Nova Califórnia, Cidade Alta, Jorge treina aos domingos, entre 30 e 36 quilômetros. “Vou na Trilha da Pepsi, Matias Barbosa. Às vezes, cruzo da Rua Benjamin Constant até Igrejinha. Gosto de treinos e provas longas, porque me dá consistência, consigo ter um ritmo legal”, explica.

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Hoje cuidador da horta da Escola Fernando Lobo, o corredor, aos 74 anos, também faz faculdade de Educação Física na Estácio. “Não tinha o fundamental completo, mas fiz o EJA e depois ingressei na faculdade. Me apaixonei pelo esporte e quero me aprofundar mais para orientar quem está entrando. Pretendo trabalhar com os jovens que ficam na praça fazendo exercício, mas sem saber os movimentos corretos. Eles precisam adquirir saúde, não lesões. Quero orientar os corredores também, mostrar que tudo tem seu limite”, almeja.

13º irmão – um maratonista

Desde 2012, Jorge e Vagner são companheiros de corrida (Foto: Felipe Couri)

Em 2012, Jorge foi, de caravana, para uma prova em Niterói (RJ). Nela, estava Vagner de Almeida, de 52 anos, realizando sua primeira meia maratona. “Fomos trocando ideia no ônibus e no hotel, o santo bateu. Ficamos amigos e desde aquele momentos começamos a correr juntos”, relembra Vagner.

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Agora, são 12 anos de amizade e de treinos intensos juntos. “Já fiz 29 maratonas, 28 foram ao lado dele. Aos finais de semana corremos juntos, fazemos os treinos ‘longões’. Nossa parceria também se estende na academia e na família. Ele é padrinho do meu filho”, conta o morador do Vitorino Braga.

Ainda neste ano, os dois, juntos, vão participar da Maratona Pedra Azul, no Espírito Santo. “Ele se tornou um amigo, paizão, irmão. É pau para toda obra. Aos 74 anos, faz faculdade, é muito orgulho. Nunca reclama de nada, sempre está rindo e brincando. É muito competitivo e bruto, não tem limite. Ele transformou minha vida, hoje conheço muitos lugares e pessoas. Já fomos para São Paulo, Brasília, Espírito Santo, Rio Grande do Sul. A gente se diverte e ganha saúde”, vibra o amigo. O sentimento de Jorge é o mesmo. “Somos iguais carrapatinhos. Onde um coloca o pé, o outro também. Pretendemos correr juntos até os 220 anos”.

*Sob supervisão do editor Gabriel Silva

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