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Sapo de fora: Climas de domingo

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Gosto de acreditar que minha relação com a Copa começa com o meu nascimento. No ano em que eu vim ao mundo, em 1986, porém, a Seleção Brasileira não chegou à final, e quem ergueu a taça foram nossos hermanos argentinos. A primeira Copa da qual tenho lembranças vívidas foi a de 1994, mas só depois fui entender a importância daquela vitória. Ali, nos meus ingênuos 8 anos de idade, eu não imaginava que aquela conquista quebrava um jejum de duas décadas sem título e que devolvia aos fanáticos por futebol a alegria de ver nossa Seleção no topo do mundo.

Apesar da pouca idade, recordo-me bem de vários jogos e do clima de empolgação. A memória mais clara e inesquecível, óbvio, é do dia da final. Minha família, uns amigos e eu estávamos em Piúma, Espírito Santo. O apartamento era numa área da cidade que estava extremamente vazia, e cada vibração nossa, positiva ou negativa, ecoava na rua. Lembro-me da tensão nos rostos de cada um e do silêncio, ainda mais sepulcral, que pairou no ar quando Brasil e Itália foram para os pênaltis. O chute para o alto de Roberto Baggio veio seguido de um barulho ensurdecedor, que preencheu o prédio e a rua vazios. Naquela empolgação, fomos todos de carro para a orla, comemorar o título, e não encontramos absolutamente ninguém. Gritávamos e vibrávamos, balançando bandeiras e camisas, mas o tempo todo sozinhos. Mesmo assim, continuamos a nossa “carreata” desacompanhada por um bom tempo, para extravasar aquela alegria entalada. Só no dia seguinte fomos saber que a concentração de torcedores estava em outro local, e aquela nossa comemoração solitária jamais saiu da minha memória. Os nossos gritos de felicidade, e alívio, marcaram o começo da minha história pessoal com a Copa — assim como o indescritível “ACABOOOU” do Galvão Bueno —, que teve um pontapé inicial com o pé direito.

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Costumo dizer que fiquei mal-acostumada, pois, nas três primeiras competições das quais me lembro, o Brasil chegou à final. Em 1998, durante todo o Mundial, eu estava sempre devidamente paramentada, com esmaltes nas cores da nossa bandeira, camisas, brincos e borrachinhas do aparelho fixo em verde e amarelo (um clássico da época). Lembro-me de comemorar todos os gols correndo e pulando no meio da Rua Santo Antônio (que parecia “abandonada” quando o Brasil estava jogando). Comércio parcialmente fechado, pessoas imóveis em frente à televisão, ruas absurdamente vazias… Adorava ver aquele clima de domingo no meio da semana. Apesar do trauma da final, daquela sensação de que aquele jogo com a França poderia não ter sido daquele jeito, não me abalei e segui os mesmíssimos procedimentos em 2002 (mas, graças a Deus, sem o aparelho fixo), quando tivemos a felicidade da conquista do pentacampeonato, no Japão. Eu tinha a maior facilidade em despertar de madrugada para ver os jogos, mas acordar qualquer dia da semana para ir para a escola era “sofriiido”…

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A partir de 2006, já adulta, as práticas da infância/adolescência ficaram para trás. Naquela época, universitária, e já em Viçosa, os jogos passaram a ser só um pretexto para a gente se unir no meio do dia e fazer as habituais festinhas. Não havia mais camisas, unhas coloridas ou correria no meio das ruas (que foram parando de ficar tão vazias). Com o passar das Copas, apesar da falta de indumentária e apetrechos, meu gosto pelo futebol — herdado do meu pai — e pela aura dos jogos não se abalou. Definitivamente, não dá para me esquecer de tudo o que o país passa, das eleições que logo logo batem à nossa porta e dos boletos para pagar, mas, nesse período de um mês, naqueles intervalos de 90 minutos, dá para torcer, me divertir, me irritar, me emocionar e, principalmente, reviver a mesmíssima alegria daquela menina de 8 anos ao assistir às partidas.

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