Nesta quinta-feira (20), começa a Copa do Mundo de futebol feminino, com 32 seleções, um recorde de participantes em todas as edições do torneio. Além disso, o valor de todos os prêmios que serão entregues durante a competição será de US$ 150 milhões (R$ 720,4 milhões), três vezes a mais que na edição passada, em 2019. Em meio a todos esses avanços e ao alavancamento recente do futebol feminino, a Tribuna ouviu quatro juiz-foranas que estão envolvidas no esporte para saber suas expectativas para a Copa e as visões sobre o presente e o futuro do esporte no Brasil e também no cenário local.
A cada dia se torna mais notório que o futebol feminino cresce no país e no mundo. Dentro de campo, o aprimoramento da técnica das jogadoras e os avanços nas estruturas táticas são mais visíveis. A obrigação de clubes da Série A do Campeonato Brasileiro masculino expandirem a prática para o feminino também é outra iniciativa para fomentar a modalidade. Inclusive, no início deste ano, foi instituído pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que, até 2027, os clubes das séries B, C e D também terão que formar uma equipe de mulheres.
Já fora de campo, as profissionais mulheres ganham força tanto entre narradoras e comentaristas quanto na arbitragem. Não à toa, essa Copa será transmitida em TV aberta, situação comemorada pela juiz-forana Jaqueane Corrêa, ex-auxiliar técnica do Flamengo e ex-treinadora do futebol feminino do Vasco. “Quem diria que um dia poderíamos ligar a televisão e ver um jogo de futebol menino? As jogadoras, os clubes, a maneira de jogar, e todas as outras áreas estão melhorando. Temos cada dia mais novas profissionais no comando, liderando o futebol feminino e querendo desenvolver ainda mais (…). Isso faz com que surjam novos talentos para o esporte como um todo”, entende Jaqueane.
Brasil pode surpreender?
Enquanto os Estados Unidos já foram campeões da Copa do Mundo feminina quatro vezes, a Alemanha duas, e a Noruega e o Japão uma, o Brasil ainda não tem títulos. Nessa edição, a equipe comandada pela técnica Pia Sundhage vem renovada, com várias jogadoras jovens e sem algumas experientes, como Cristiane. Para todas as entrevistadas ouvidas pela reportagem, o país tem chances na competição.
“A França, a Argentina e os Estados Unidos são favoritos, mas o Brasil tem elenco para ser campeão”, acredita Duda Silva, juiz-forana jogadora do Grêmio. Para Victória Ribeiro, também de JF e atleta do sub-19 do FC Famalicão, de Portugal, “as expectativas estão altas, acredito que as nossas meninas cheguem longe na competição”.
Na visão de Sara Melo, treinadora do PSG Academy, escola de futebol da cidade, “o Brasil tem muita vontade e garra. Temos a Marta, a Debinha, que fazem uma diferença absurda”. Já no entendimento de Jaqueane, “o Brasil tem uma boa estruturação do jogo e vem evoluindo dentro do seu modelo. Nas pré-convocações, foram bons movimentos e ideias de jogo”.
O que é positivo e o que falta melhorar?
Na concepção de Sara, o ponto mais positivo na atualidade é a motivação das atletas jovens. No PSG Academy, ela lida com garotas de 12 anos que já sabem o que querem para a vida: se tornar jogadoras. “Quando eu tinha essa idade, era muito difícil encontrar meninas que queriam jogar. Eu comecei a treinar com 11 anos na escola e era a única menina jogando no meio de meninos, isso me desmotivava. Faz muita diferença ter mulheres interessadas, e hoje, a motivação e o amor pelo futebol está nítido nas garotas”, analisa a treinadora.
Jaqueane complementa lembrando que as oportunidades estão sendo dadas para as meninas. “O Governo está apoiando com projetos sociais, que vão descobrindo mais talentos. O surgimento da seleção sub-15 também alimenta cada vez mais as categorias de base. Vejo que o Brasil está no caminho certo de desenvolvimento no futebol feminino”.
Duda, em sua perspectiva, opina que o espaço e a visibilidade que estão sendo dadas para o futebol feminino é o caminho certo para que a modalidade evolua. Mesmo assim, ela acredita que ainda há o que aprimorar em relação “as estruturas para jogos e a diferença salarial”.
Jaqueane acrescenta que “é complicada a questão do calendário e alguns escândalos nas gestões do futebol”. A treinadora entende que deve haver “um olhar com desenvolvimento a médio e longo prazo, dando estrutura, assim como é para os jogadores de futebol masculino”. Já Victoria atenta para a necessidade de “transmitir mais jogos femininos e a questão da diferença salarial em relação aos homens”.
Cenário em Juiz de Fora
Em 2022, na Copa Prefeitura de Futebol Feminino, somente oito equipes adultas estiveram presentes na competição: A.A Ajax – Bela Aurora; Alpha/Biquense; A.E.C São Bernardo JF MG; E.C Benfica; Buscapé F.C.; Futcats e Sport Club Juiz de Fora. Para Duda, o fato de existir uma competição para as mulheres já indica um avanço. “Vejo que hoje há competição, que quando eu morava na cidade não tinha”, diz. Victória concorda e realça que o investimento é importante para dar oportunidades às futuras jogadoras.
Para Jaqueane, não há ações suficientes para desenvolver o esporte, e por isso, ela sugere que “a região se junte para fazer um time para a disputa do Campeonato Mineiro”. A treinadora acrescenta que o Estádio Municipal poderia ser palco de treinos de futebol feminino e que deveria haver festivais para dar oportunidade para as meninas, além de cursos com ex-atletas, treinadores, para engajar as mulheres a jogar dentro dos colégios e escolinhas de futebol.
Questionada pela Tribuna sobre as ações que realiza para estimular o futebol feminino em Juiz de Fora, a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) da Prefeitura diz, por meio de nota, que “oferece aulas nos núcleos de futsal, no Bom de Bola e em nossas Copas de Futsal e Futebol. Nos núcleos e no Bom de Bola, as meninas que interessam, praticam juntamente com os meninos, respeitando a idade e a característica física de cada atleta. Nas Copas, existem categorias específicas para o feminino, exceto nas categorias iniciais, onde as meninas podem jogar com os meninos. A própria CBF regulamentou o futebol misto no país, o que a SEL já fazia a alguns anos”.