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‘JF comemorando’: há 10 anos, Tupi garantia acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro

aaaa tupi Leonardo Costa e Felipe Couri

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Elenco carijó na memorável partida do acesso, em Arapiraca (Foto: Leonardo Costa)
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Há exatos dez anos, o Tupi vivia o ponto mais alto de sua história centenária. No dia 19 de outubro de 2015, em Arapiraca-AL, o clube de Juiz de Fora conquistava o inédito acesso à Série B do Campeonato Brasileiro, ao eliminar o ASA nas quartas de final da Série C. As vitórias por 2 a 0 no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio e por 2 a 1 em Alagoas transformaram aquele grupo em símbolo de superação, orgulho para a cidade, e memória positiva para os torcedores.

Para relembrar a campanha e o jogo do acesso, a Tribuna publica uma matéria especial com diversos envolvidos na conquista: o técnico Leston Júnior, o goleiro Glaysson, o lateral e capitão Osmar e o meia e autor de um dos gols da final, Kaio Wilker. Além dos personagens em campo, o torcedor carijó Rodrigo Liquer, que esteve em Arapiraca no dia histórico, conta como foi a emoção de acompanhar tudo de perto.

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Na partida derradeira, em Arapiraca, o Tupi entrou em campo com Glaysson, Osmar, Sidimar, Fabrício Soares e Bruno Ré; Genalvo, Rafael Jataí, Vinícius Kiss (Ygor Vinicius), Marco Goiano, Kaio Wilker (Carlos Renato); Felipe Augusto (Bruno Aquino).

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(Fotos: Felipe Couri e Leonardo Costa)

‘Lealdade’

O técnico Leston Júnior, responsável por comandar a equipe naquela campanha, recorda com clareza cada etapa do projeto. “Cheguei ao clube faltando duas rodadas para o fim do Mineiro, com a missão de analisar o elenco e planejar, junto ao Cloves (Santos, diretor à época), uma reformulação para a Série C. O que mais me chamou atenção foi a carência e a insatisfação do torcedor, ainda sentindo a perda do acesso em 2014 para o Paysandu”, relembra.

Mesmo já conhecendo Juiz de Fora de visitas anteriores, Leston diz ter se surpreendido com a força da cidade e da torcida. “Aquele grupo tinha muitos atributos, mas o principal era a lealdade. A admiração, o respeito e o carinho entre todos foram marcantes. Foi, sem dúvida, um grupo especial.”

O treinador descreve o time como “muito equilibrado e extremamente organizado”, com uma defesa agressiva e transições ofensivas rápidas. “Sabíamos que era fundamental vencer o primeiro jogo em casa e, principalmente, não sofrer gols. Em Arapiraca, a estratégia era clara: marcar um gol e obrigar o ASA a fazer quatro. Foi exatamente o que aconteceu”, explica.

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Para Leston, os pilares do acesso foram “humildade, resiliência e coragem”. Hoje, ele guarda com carinho as lembranças de 2015, mas lamenta o momento atual do Tupi. “É triste ver o que aconteceu com o clube desde 2016. Todo o legado foi sendo destruído ao longo do tempo. Mas sigo torcendo para que o Galo Carijó se reestruture e volte a viver grandes momentos junto à torcida e à cidade.”

‘Um grupo guerreiro e inesquecível’

O meia Kaio Wilker, hoje com 32 anos e atuando pela ABD, de Goiás, foi o autor do gol do título em Arapiraca. Como se recorda, viveu intensamente aquela campanha. “Cheguei ao Tupi após o Estadual de 2015, num contrato de cerca de sete meses. O que mais marcou foi o acesso e o fato de eu não ter perdido nenhum jogo em que atuei na Série C. Fui até indicado entre os melhores meias da competição pela revista Placar e ao Troféu Telê Santana, em Belo Horizonte.”

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Kaio recorda o ambiente no clube e o carinho pela cidade. “Gostei muito de Juiz de Fora. Levei minha família para passar uns dias comigo. A torcida estava desconfiada, porque o time tinha vindo de um estadual ruim, mas conseguimos reconquistar o torcedor.”

Com uma das folhas salariais mais modestas do torneio, o grupo encontrou na dificuldade sua força. Para o meia, o estilo de jogo “reativo, mas muito disciplinado e organizado” foi decisivo. “Não era o futebol mais bonito de ver, mas fomos competentes. Meu gol no jogo do acesso foi um presente de Deus, uma resposta pela minha fé e resiliência. Tenho até hoje vídeos da cidade comemorando na praça. Foi uma alegria gigante.”

Gol de Kaio Wilker em registros do fotojornalista Felipe Couri (Fotos: Felipe Couri)

‘Um time que sabia sofrer’

O goleiro Glaysson Rodrigues, que defendeu o Tupi em 2015 e hoje trabalha na área da saúde, também não esquece aquela temporada. “O que mais me marcou foi o jogo da Copa do Brasil contra o Atlético Paranaense e, claro, o duelo em Arapiraca, que garantiu o acesso. Foi um momento inesquecível.”

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Ele, assim como os outros envolvidos, destaca a união e a blindagem do elenco. “Éramos um grupo sem vaidades, muito fechado. O Leston e o Cloves criaram um ambiente em que nada externo atrapalhava o foco. Essa união foi a diferença.”

O goleiro relembra o estilo do time, que priorizava a solidez defensiva. “A gente esperava o adversário, marcava bem e saía rápido no contra-ataque. O Leston estudava cada rival e adaptava os treinos conforme o adversário. Por isso, fomos uma das defesas menos vazadas de todo o campeonato.”

‘Recompensa e orgulho’

Outro nome importante e de liderança daquela campanha, o lateral e capitão Osmar Claudiano, hoje professor de futevôlei em Belo Horizonte, define o acesso como o auge da carreira. “Joguei um ano e meio no Tupi, entre 2015 e o Mineiro de 2016. O que mais me marcou foi essa conquista. Gostei muito da cidade e da torcida, sempre calorosa e presente.”

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Osmar resume o espírito daquele elenco: “Não tínhamos um craque, mas o conjunto era muito bom. Sabíamos sofrer, defendíamos bem e tínhamos consciência das nossas limitações. Foi algo de superação, um prêmio para quem acreditou.”

A conquista de um torcedor que cresceu nas arquibancadas

O professor Rodrigo Liquer, 37 anos, carrega o Tupi no coração desde a infância. “Desde que me entendo por gente, lembro de estar nas arquibancadas. Quando tinha 7 anos já ia aos jogos com meu pai e meu tio, que eram apaixonados pelo clube. O que me inspirou foi essa paixão herdada do meu pai e a festa da torcida”, conta.

Rodrigo lembra do clima de tensão na primeira partida decisiva, em Juiz de Fora. “Foi um jogo nervoso, por tudo que o Tupi já tinha vivido em anos anteriores e pela fase que o time atravessava. Mesmo assim, com dois gols de bola parada, o clube se impôs e abriu grande vantagem com a vitória por 2 a 0 em casa”, recorda.

Para ele, o segredo daquela campanha foi a união, a entrega e a organização dentro de campo. “Talvez nem fosse o melhor elenco tecnicamente, mas coletivamente o time estava muito bem encaixado. A vontade de vencer fez toda a diferença, e finalmente conseguimos o tão sonhado acesso.”

O torcedor também destaca o orgulho de ver o clube da cidade alcançar o feito histórico. “Foi emocionante. Meu pai, por motivos de saúde, não pôde ir comigo a Arapiraca, e lembro da emoção dele acompanhando de casa. Ver o Tupi chegar à Série B foi extraordinário. Havia 20 ou mais torcedores que saíram de Juiz de Fora para assistir in loco essa façanha, inclusive (torcedor que) saiu de Londrina para acompanhar a partida em Alagoas. O sentimento foi de muita emoção e alegria”, recorda. “Ver o Tupi chegar à Série B foi extraordinário. Juiz de Fora inteira vibrou”.

Para o torcedor, ainda há a esperança de que o clube volte a ter dias de glória. “Com uma administração séria e honesta, o Tupi pode se reerguer. Somos campeões brasileiros, isso ninguém tira. Se tiver que virar SAF, que seja com transparência e respeito à história do clube e de seus torcedores.”

Tupi em 2025

Apesar do melhor momento esportivo do clube ter ocorrido em 2015, com disputa da Série B na temporada seguinte, uma década foi suficiente para que o Tupi vivesse cenário completamente oposto. Após inúmeros insucessos nos últimos dez anos, incluindo sucessivos rebaixamentos, presidente preso e denúncias de fraude na base, o Tupi amarga, pela primeira vez na sua história, a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, a popular “Terceirinha” – última divisão estadual.

No momento, o time se prepara visando à disputa do hexagonal final da competição, que começa no dia 22. Na primeira fase, o Galo Carijó terminou na liderança do Grupo A, com 12 pontos em cinco jogos, sem derrota. Caso consiga encerrar o campeonato entre os dois melhores na fase final, o time de Juiz de Fora garante acesso ao Módulo II.

 

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