Para ele, isso não vai mudar o resultado do jogo. Mas pode ajudar a Fifa a avaliar seu próprio processo. “Não acho que o juiz deveria ter dado aquele gol”, defendeu. “Essa é minha opinião pessoal”, ponderou. Na carta, a CBF solicita uma cópia do áudio das conversas entre o árbitro de campo e a cabine que se ocupa do vídeo. A entidade também quer as imagens. Ainda que não haja como objetivo rever o resultado do jogo, a CBF quer que a Fifa tenha consciência de que o sistema falhou.
A Fifa já indicou que irá responder à carta enviada pela CBF. Mas teme que, ao entregar o áudio à seleção, abrirá um precedentes perigoso, levando a uma pressão indevida sobre os árbitros. Já os comentários do ex-jogador holandês apontam que não existe um consenso dentro da entidade sobre o tratamento do caso de Miranda. A avaliação de Marco Van Basten não é a mesma da cúpula da arbitragem na entidade.
A percepção no Comitê de Arbitragem é de que o juiz da partida agiu de forma “correta” e não houve nem falta em Miranda e nem pênalti em Gabriel Jesus. Segundo o corpo técnico que se ocupa da aplicação do VAR, os árbitros na cabine avaliaram a cena do suposto empurrão sobre Miranda, inclusive em câmara lenta. Mas chegaram à conclusão de que não houve uma falta. Por isso, não pediram que o árbitro em campo paralisasse a partida e apenas o disseram para seguir. Um dos aspectos avaliados foi o posicionamento de Miranda, que não teria sido desequilibrado na visão dos árbitros.
Já no caso de Gabriel Jesus, o mesmo processo ocorreu. Na cabine do VAR, os árbitros reavaliaram o lance, mesmo sem que o juiz da partida soubesse. Mas optaram por não alertar o árbitro mexicano César Ramos sobre uma eventual irregularidade e indicaram que poderia seguir. Por isso, o lance também seguiu. Fontes na Fifa ainda indicaram que usaram o “super slow replay” — uma tecnologia que permite rever a imagem em um ritmo ainda mais lento — para tomar uma decisão no que se refere ao lance de Gabriel Jesus. Mas concluiu que não houve pênalti.
Na avaliação da cúpula da Fifa, o VAR não pode tirar do futebol seu caráter de contato. “Caso contrário, matamos o jogo”, afirmou um dos principais dirigentes da entidade. Entre os membros da CBF, a percepção era de que a carta não mudará nada do resultado. Mas a entidade precisava “se pronunciar”. “Precisamos marcar posição”, disse Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF.
Gustavo Feijó foi alvo de uma operação policial em meados do ano passado por conta da suspeita de recebimento de R$ 600 mil da CBF para sua campanha eleitoral para prefeito de Boca da Mata (AL). A Polícia Federal apurou que a sua campanha teria custado R$ 2 milhões. Mas Feijó apenas declarou R$ 105 mil. Já o presidente da CBF, coronel Antônio Nunes, preferiu não se pronunciar sobre a carta e nem sobre o lance. Quando foi questionado pela imprensa internacional e brasileira sobre o assunto, apertou o passo e foi conduzido por um de seus assistentes para longe dos jornalistas.