O JF Vôlei é o campeão da Superliga B masculina de 2021. Muito mais que a cereja do bolo, uma semana após a equipe juiz-forana ter confirmado o retorno à elite brasileira da modalidade, o time conquistou o primeiro título nacional da história do projeto após vencer o Brasília/Upis na noite desta segunda-feira (19), no Ginásio do Riacho, em Contagem (MG), em confronto emocionante e placar de 3 sets a 2, com parciais de 25/14, 25/21, 18/25, 23/25 e 15/13. O troféu Viva Vôlei, recebido pelo melhor atleta em quadra, foi para o central Bruno.
‘Maior título do esporte coletivo de JF’
Criador do projeto e principal responsável pela trajetória ao longo de 13 anos, o diretor Maurício Bara comemorou o título em entrevista exclusiva à Tribuna, ainda em meio às comemorações.
“A palavra que resume tudo isso é autorrealização. Uma satisfação de liderar esse trabalho, que vai entrando pro 14º ano, e ser coroado nesse novo ciclo de três anos (de Superliga B) com um título inédito e invicto. Hoje não tenho nenhuma aspiração pessoal além de fazer um trabalho bem feito e isso me deixa muito satisfeito. É um resumo momentâneo, temos a certeza de que fizemos as coisas da maneira certa, intensa”, conta Bara. “Ter confiado em um jovem treinador e dado tempo e confiança para ele, vendo que o trabalho foi muito bem feito, isso tudo traz autorrealização pessoal e profissional. Precisávamos desse título. Essa medalha é olímpica pra gente, é a que nós podemos conquistar no nosso auge. Claro que temos todas as condições de conquistar uma Superliga, mas não nesse modelo atual, sem recursos.”
O diretor destacou, ainda, o significado da conquista à cidade. “Outra sensação é a de poder dar esse título para Juiz de Fora. É o maior título do esporte coletivo de Juiz de Fora, coloca a gente campeão, que é o mais importante, e depois de um jogo muito difícil. Conversávamos depois do primeiro set que não seria tranquilo, e foi digno de uma decisão.”
‘Esse título tem muita ciência e conhecimento’
Supervisor do JF Vôlei, Heglison Toledo, desde 2012 no projeto, exaltou a capacidade científica dos profissionais na trajetória histórica. “É um conjunto de emoções. Muita alegria, satisfação. Vejo a luta diária do Maurício, e essa temporada foi muito complicada pela pandemia e outras coisas. E como tá na moda a expressão: ‘é a ciência’. Esse título tem mutia ciência e conhecimento, e o Maurício é o grande mentor de tudo. Com muita expertise dele e de todos os envolvidos, a gente foi merecedor do início ao fim. Foi um jogo duro, uma equipe altamente qualificada e que vem lutando há anos na Superliga B, mas coroou tudo”, reforçou Toledo.
“Temos que entender que esporte não se faz de forma aleatória, tem muita ciência alocada e é um prazer enorme fazer parte desse time. Construímos uma família de camisa e sou muito feliz de fazer parte dela. Agradeci o Maurício porque ele me fez campeão da Superliga B. O professor Daniel Schimitz foi perfeito na preparação física, viajamos mais que todos. São alguns exemplos que temos e estou muito feliz. E o Marcão (técnico) é brilhante, muito estudioso, finalizando o mestrado. Falo isso pra se ver que tem muita ciência embutida. Esporte de alto nível é outro patamar.”
‘Foi um ano de superação’
Ao lado de Toledo esteve o também supervisor Hélder Zimmermann, que também exaltou o trabalho desenvolvido pelo projeto. “A ficha não caiu ainda, mas trabalhamos demais esse ano, que foi muito duro para o projeto. Tivemos muitas coisas para superar, pela pandemia principalmente. Foi um ano de superação, em que todos trabalharam muito. Foi tudo muito desgastante, mas merecemos essa conquista por tudo o que batalhamos, todos os profissionais e essa equipe vencedora.”
‘Nunca vi um grupo com tanta resiliência’
Já o técnico Marcos Henrique reiterou as dificuldades encontradas na final e exaltou os atletas comandados. “Um jogo extremamente difícil, como esperávamos. Sabíamos da capacidade do saque deles, no primeiro set acho que ainda estavam se adaptando com a quadra, sem o costume de jogar no Riacho. E quando começaram, sofremos bastante. Já tínhamos nos preparado até com a função de colocar o ponteiro de oposto para ganhar uma opção de recepção. Mas o treinador adversário também teve mérito, colocou o ponteiro que tava jogando razoavelmente bem no ataque na saída e rodou bola. Ele nunca tinha jogado assim, até nos encontrarmos demorou um pouco”, avaliou Marcão, antes de iniciar os elogios aos seus jogadores.
“Mas esse grupo é especial. Jogadores fantásticos. Nunca vi um grupo com tanta resiliência. Nos momentos mais difíceis, eles crescem. Sou um privilegiado de trabalhar com homens, que para mim ainda são meninos, fortes assim. Muito feliz, agradeço a todos que acompanharam e torceram. Juiz de Fora merecia muito esse título. E o Maurício Bara é um cara sensacional. Só tenho a agradecer também. A forma que encontrei de agradecer a quase tudo o que ele faz por mim é me dedicando ao máximo para conseguir esse primeiro título nacional para o projeto. Conseguimos juntos, muito obrigado a todos.”
A equipe
Sob o comando do técnico Marcos Henrique do Nascimento, o JF Vôlei teve time titular de quase toda a temporada mantido para a decisão, com o oposto Paolinetti, o levantador Gustavo, os ponteiros Viller e Celestino, os centrais Bruno e Pilan (capitão), com Dayan de líbero. Entraram, ainda, o oposto Leonam, o levantador Erick e o ponta Thiago Marques.
O jogo: JF tem início dominante
Apenas quatro pontos foram precisos para o primeiro tempo pedido do jogo. E a pausa veio de Brasília, após o JF Vôlei iniciar com 4 a 0 em ataques de Paolinetti da saída de rede, bloqueio de Celestino e um erro adversário. Na volta, o oposto de JF teve mais dois sucessos até os visitantes, enfim, estrearem no placar (6/1). A agressividade no saque, marca de Brasília, era evitada pelos erros ofensivos e consistência defensiva juiz-forana.
Mas se o serviço visitante não encaixava, na passagem de Gustavo, levantador de JF, os mandantes voltaram a alargar a diferença (17/8) deixando o fechamento do set ser questão de tempo. Com o volume de jogo apresentado em toda a campanha, Juiz de Fora dominou o parcial, finalizado em 25/14.
Equilíbrio até a passagem de Gustavo
Brasília cresceu após a derrota no período anterior, e o placar se desenvolveu em diferença menor. O JF Vôlei viu um adversário mais competitivo nos side outs, mas que ainda abusava dos erros individuais, como toques na rede e ataques na antena. Prova matemática disto é que nove dos primeiros 11 pontos de JF foram em erros do rival (11/8).
Quando a oscilação visitante diminuiu, o JF Vôlei chegou a sofrer a virada (15/17), mas veio, novamente, grande passagem de Gustavo no saque, dificultando a recepção e virada de bola candangas. Com cinco pontos seguidos (20/17), os invictos na Superliga voltaram à frente do placar e conseguiram fechar o set em 25/21 com ataque rápido de Pilan do meio de rede.
Apagão juiz-forano
No saque de Lucaian, do Brasília, o JF Vôlei começou a viver sua maior dificuldade no jogo até então, no terceiro set. O 5 a 1 brasiliense no placar gerou tempo e bronca do técnico Marcão, pedindo concentração para sua equipe. Apesar de voltar a pontuar, o time juiz-forano não conseguia frear o ímpeto dos atacantes do outro lado da quadra e viram o Brasília disparar (6/14).
Quando JF Vôlei ameaçou encostar no placar, com bloqueios de Gustavo e de Celestino (16/20), o técnico de Brasília, Marcelo Thiessen, parou o jogo e esfriou a reação mineira, com set fechado em 18/25 após ponto de saque de Cristiano, destaque ofensivo do confronto.
Viradas, rali e emoção
Com Celestino deslocado à saída de rede e Thiago na ponta, o JF Vôlei voltou ao jogo, mas ainda com dificuldades na recepção diante da potência nos saques adversários. Em dois bloqueios, Brasília abriu vantagem (6/8) e forçou tempo de Marcão. Em má atuação de Viller, por exemplo, e com elevado número de erros, o time juiz-forano chegou a ficar cinco pontos atrás (9/14), mas a diferença virou mínima após sequência justamente do argentino no saque (14/15).
Após rali com grandes defesas do líbero Dayan, JF Vôlei chegou a passar no placar, mas novamente o saque de Lucaian fez diferença e colocou seu time de volta no comando (19/21). E o atacante do time visitante foi acionado consecutivamente, sem ser parado, levando a decisão para o tie-break após um 23/25.
No suor e nos bloqueios
Como não podia ser diferente, o tie-break começou equilibrado, com Brasília forçando as bolas em Lucaian, que não era parado, e JF efetivo na distribuição e no block de Pilan (4/4). Mesmo recebendo quase todas as bolas, Lucaian acabou colocando o time visitante em vantagem importante (5/7), mas o empate veio após Viller explorar bloqueio e Bruno pontuar no saque flutuante (8/8). Eis que outro atacante de destaque, Cristiano, voltou a pontuar no saque e abrir dois (8/10). Mas Pilan apareceu novamente em bloqueio e igualou o parcial emocionante (10/10).
A virada veio em largada e novo bloqueio, ambos de Thiago Marques, pouco depois (13/11), em momento vital do duelo. E justamente o ponteiro fechou o jogo com mais dois ataques precisos. Título conquistado com 15/13 no fim.