Quando a temporada de handebol foi, em 13 de março, paralisada devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), Thiagus Petrus ainda comemorava, junto aos companheiros de Barcelona, o título da Copa do Rei contra o Benidorm, o 28º seguido do clube em domínios espanhóis. Desde então, Petrus mantém, em casa, por meio de programação repassada pela preparação e fisiologia do clube, o condicionamento físico. Nas horas vagas, por sua vez, aproveita a quarentena para cursar a pós-graduação à distância em Gestão Esportiva, no Cruyff Institute – o juiz-forano já é formado em Administração. À Tribuna, o atleta relata que a sua maior angústia durante o isolamento social tem sido pensar sobre o que acontecerá no Brasil.
Os treinamentos repassados pela comissão técnica do Barcelona lhe tomam entre uma hora e meia e duas horas por dia, cinco dias da semana. “O nosso último treino foi em 12 de março. Depois que viemos para casa, a comissão técnica nos passou um plano de preparação física. Cada jogador fez com o material que tinha. Comprei uma bicicleta, já tinha TRX (fitas de treinamento funcional de resistência) e mais outras coisas. No começo, era para manter a forma e, à medida que foi aumentando o tempo de quarentena, diminuiu bastante o nível de treino. Mas, ainda assim, a cada semana, temos uma programação nova e treinos diferentes para fazermos”, detalha Petrus. Conforme o atleta, mesmo em quarentena, o contato com a comissão técnica é constante. “Temos reuniões semanais. Falo com o preparador físico (Roger Font) todos os dias, e com o fisioterapeuta, quase todos.”
Petrus aproveita as horas vagas do isolamento social para se dedicar às atividades da pós-graduação em Gestão Esportiva, que começou em fevereiro. “O curso é todo on-line. Então, tenho estado bastante ocupado durante o tempo todo. Estou colocando em dia ou adiantando algumas coisas da pós-graduação. Na realidade, a pós é para aproveitar o tempo livre e seguir me formando.” Perguntado se já estaria pensando na carreira pós-aposentadoria, Petrus diz que não tem ideia do que pode vir a acontecer. “Também vou fazer o curso de treinadores de handebol da Espanha, com o qual poderia exercer a função de técnico. Estou abrindo portas para o futuro.”
Conforme Petrus, a sua maior angústia é quanto à evolução epidemiológica da Covid-19 no Brasil. “Aqui já está diminuindo. O pessoal está de quarentena, a maioria das pessoas está em casa. O Governo já vai abrandar um pouco o confinamento. A tendência é melhorar. A minha angústia mesmo é em relação ao Brasil.” A Espanha está em estado de alerta desde 14 de março. O atleta tem uma tia, em Juiz de Fora, e a avó, em Volta Redonda (RJ), ambas consideradas em grupo de risco. “A angústia não é só pelos que estão no grupo de risco. Muitos dos infectados na Espanha não estão no grupo de risco, por exemplo.”
Sem data para retorno
Apesar de o Barcelona ter suspendido as atividades presenciais, o clube não liberou os atletas para viajar às suas cidades ou países de origem. “Quando a quarentena começou, pensei (em voltar para o Brasil), mas o clube não liberou, então todos os jogadores estão por aqui. E, agora, sinceramente, não sei quando vou para o Brasil, porque, enquanto as coisas não melhorarem por aqui e por aí, vai ser difícil.” De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, até a sexta-feira (17), dia de fechamento desta reportagem, a Espanha somava 19.130 mortes para a Covid-19, além de 182.816 casos confirmados. Já no Brasil, 1.736 haviam morrido até a edição desta matéria, e outras 28.320 haviam contraído o vírus.
‘Aplicam multas para quem desrespeita o confinamento’
Questionado sobre as ações implementadas pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, Petrus afirma que o Governo demorou para começar a atuar, mas, desde então, a atuação tem sido boa. “Faltam materiais para fazer os testes, houve problemas com leitos de terapia intensiva – o que já melhorou, aliás -, ainda faltam máscaras e álcool em gel, mas o Governo está fazendo muitas coisas e elas têm funcionado. Na Catalunha, o Governo local fechou as estradas, os aeroportos e as estações de trem. Ainda funcionam, na verdade, mas na capacidade mínima. Para nos locomovermos, precisamos ter uma justificativa bem convincente, porque tanto a polícia quanto o exército estão aplicando multas para quem desrespeita o confinamento.”
Embora a evolução epidemiológica do novo coronavírus esteja mais avançada na Espanha, ainda não há data para a retomada das temporadas espanhola e europeia de handebol. “Não tem nenhuma data prevista por agora. Estamos à espera de saber o que vai acontecer com a Liga Espanhola e com a Liga dos Campeões. No momento, não sabemos. Estamos em ‘stand by’. O certo é que, se voltarmos, teremos ao menos duas semanas de treinamento para poder retornar às competições. É uma situação que está em aberto. Enquanto o Governo não acabar com a quarentena, com o confinamento, ninguém vai saber ao certo”, revela Petrus. O Barcelona segue em duas competições na temporada: lidera a Liga Sacyr Asobal – o campeonato nacional – e está nas oitavas de final da Liga dos Campeões, em confronto contra o Montpellier, da França.
Retorno em junho
Em comunicado à imprensa nesta quinta-feira (16), a Associação de Clubes Espanhóis de Handebol (Asobal) manifestou o desejo de retomar e finalizar a Liga em junho. Entretanto, “tão somente e quando garantidas todas as condições de saúde e segurança aos atletas, técnicos, árbitros e a todos os protagonistas que intervêm na competição. Todos eles são as nossas máximas prioridade e preocupação”. Conforme a Asobal, a associação está em contato permanente com a Real Federação Espanhola de Handebol e com o Conselho Superior de Desportos, e acompanhando atentamente as informações e disposições do Governo e das autoridades sanitárias e esportivas para cumprir as suas recomendações. Ainda na quinta, a Federação Europeia de Handebol havia anunciado o adiamento do quadrangular final da Liga dos Campeões para 28 e 29 de dezembro, mudado, inicialmente, para 22 e 23 de agosto.