Alfredo de Paula, de 70 anos, tem uma longa história com o aikido. Quando tinha 47, decidiu levar seu filho, José Alberto, então com 8 anos, para fazer aulas dessa arte marcial, em busca de que perdesse a timidez. Após o treinamento, o pai ficou encantado e comentou com o professor que, se fosse mais jovem, teria iniciado a prática. Ouviu do sensei que “não há idade para esse esporte, faz tudo dentro da sua capacidade física”. Assim, começou a praticar a modalidade com o filho. Desde então, são 25 anos dedicados à prática e ao ensino em Juiz de Fora, por meio da WA Dojô, projeto ligado ao Instituto Takemussu.
Com alunos desde criança de 5 anos até idosos, a academia de Alfredo é referência na cidade. A Tribuna esteve no local que fomenta a prática do aikido na última quarta-feira (15), para a gravação de mais uma reportagem do TM Esporte Clube, série que mostra o cenário das mais diferentes praticas esportivas oferecidas em Juiz de Fora. Até o momento, foram abordados o paraquedismo, a esgrima, o rapel, o foot table, a canoagem, o parapente, a bocha, o squash e a escalada indoor.
O aikido
O aikido é uma arte marcial japonesa criada pelo japônes Morihei Ueshiba no século XX, que foca na defesa pessoal e na harmonização com o oponente. Baseia-se em técnicas de projeção e desarmamento, utilizando movimentos circulares para neutralizar sem causar ferimentos, promovendo o equilíbrio físico e energético.
Com um lado filosófico forte, o aikido ensina os praticantes a se superaram a cada aula. Busca, também, resgatar o respeito pelo próximo e também o respeito próprio, explica Alfredo. “Vivemos em uma sociedade extremamente competitiva, em que muitas vezes o sucesso é buscado a qualquer custo. A modalidade te ensina a aceitar suas limitações, trabalhar para superá-las e se esforçar para ser uma pessoa melhor, física e mentalmente”, define.
Dessa forma, o esporte não estimula a agressividade. “Apenas o fato de saber que você pode se defender já proporciona uma sensação de segurança, como se estivesse armado para situações de risco. Essa segurança, porém, não depende de armas, mas de autoconfiança e equilíbrio. Ele não trabalha apenas o físico, mas também o psicológico, tornando a mente mais flexível e tolerante”, explica o sensei.
Golpes, aulas e cenário
Os golpes no aikido são baseados em movimentos que envolvem o corpo inteiro e podem ser divididos em duas categorias: os de aprisionamento, usados para desarmar oponentes, e os de arremesso, que ajudam em situações de defesa coletiva. Não há um número fixo de técnicas, pois elas variam conforme o momento. Cada situação exige ajustes em tempo real. Por isso, as aulas são dinâmicas.
“Comparo com a alegria das crianças brincando, correndo atrás de bola ou soltando pipa. No aikido, há um espírito de companheirismo e amizade. A satisfação de ver o crescimento dos outros é tão grande quanto o de ver o seu próprio. Todos somos professores e alunos, aprendendo uns com os outros ao longo da vida. Respeitamos princípios e identidade. Nos lembra de onde viemos, para onde vamos e da importância de nunca perder de vista aquilo em que acreditamos”, reflete o professor.
Apesar disso, o cenário em Juiz de Fora é pequeno. Além da WA Dojô, só há mais duas academias na cidade. “O número de praticantes caiu bastante, especialmente após a pandemia. O aikido nunca atraiu grandes públicos, porque não é uma arte focada em competição ou medalhas. Ele propõe uma reflexão mais profunda, voltada para o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal”, afirma Alfredo, que disponibiliza o contato (32) 99112-9047 aos interessados em iniciar na modalidade.
Por ser um esporte em que valores de cooperatividade são ensinados, não há competições, apenas seminários. “São momentos de celebração em que aprendemos muito. O professor se reúne com outros mestres e demonstra aos alunos o que estudou. Buscamos dar lições, mostrar que não devemos nos afastar dos nossos princípios. O essencial é não perder a identidade, tendo uma nova perspectiva a cada fase, com outros significados”.
Entretanto, há diferentes faixas, conforme o atleta evolui a prática. “Da amarela até a marrom, os movimentos são coreografados. A partir da faixa preta, o foco muda para aplicar os princípios de forma adaptativa, mas sem ferir o outro. Assim, todas as pessoas podem praticar, como as crianças, que precisam de estímulo e acolhimento. Em resumo, o aikido é para crescer como pessoas e superar os limites. Sem essa filosofia, são apenas técnicas. O respeito é a base de tudo, e isso se reflete tanto no tatame quanto na vida”, finaliza o sensei.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva