O presidente licenciado do Tupi, José Luiz Mauler Júnior, o Juninho, pediu ao Conselho Deliberativo do Galo Carijó o afastamento por mais seis meses da presidência do clube. Fora do Executivo alvinegro desde outubro, o dirigente investigado pela Polícia Civil ficará afastado até, ao menos, julho de 2022. Entretanto, documento assinado por 14 conselheiros – emitido na última quinta-feira (11) -, ao qual a Tribuna teve acesso, notifica a exclusão de Juninho do quadro associativo do clube centenário, cabendo ainda prazo para recurso.
Em reunião do conselho ocorrida na última quarta-feira (10), o deliberativo do Galo Carijó decidiu que haveria a necessidade de formalizar as denúncias contra o presidente licenciado para que houvesse apuração interna das supostas irregularidades cometidas por Juninho enquanto estava na cadeira da presidência. Pelo estatuto do clube, após a formalização, o dirigente teria duas semanas para apresentar defesa e, mesmo se houvesse definição pela exclusão, ainda haveria prazo para recurso.
No entanto, o documento elaborado na quinta-feira seguinte à reunião notifica a decisão pela eliminação de Juninho dos quadros do clube, “uma vez que, conforme demonstrado por robusta prova documental, chegou-se à conclusão que Vossa Senhoria causou danos imensuráveis à imagem e ao patrimônio do Clube, não possuindo idoneidade moral para ocupar o cargo de Presidente do Tupi Foot Ball Club, tampouco, para permanecer como membro da referida entidade (sic)”, afirma o documento.
Pelo estatuto do Tupi, o presidente licenciado pode entrar com recurso da decisão em até cinco dias úteis após a notificação. O Conselho Deliberativo, por sua vez, terá outros 15 dias úteis para julgar o pedido de revisão feito pelo dirigente. Em conversa com a reportagem na manhã desta quarta-feira (17), entretanto, Juninho negou que tenha recebido oficialmente a notificação e reafirmou que não houve votação, como teria de acontecer, por seu afastamento definitivo do clube.
Clube confirma o processo de exclusão
Em nota encaminhada à reportagem com a assinatura do presidente interino, Eloísio Pereira de Siqueira, o Tiquinho, a direção do Tupi confirmou que solicitou a “eliminação” de Juninho do quadro associativo após apresentar, na última reunião, documentos que “que comprovam claramente a ocorrência de diversas irregularidades praticadas na gestão do Clube, com severa violação ao Estatuto e graves prejuízos causados à imagem e, em especial, ao patrimônio da entidade”. Toda a documentação, ainda conforme o clube, foi entregue à Polícia Civil para auxiliar nas investigações abertas anteriormente.
“A apuração do valor exato do dano patrimonial causado ao clube dependerá de minuciosa auditoria a ser realizada por profissionais capacitados. Para tanto, já acertamos com a empresa Ética Contábil e Jurídica para que seja apurada a real situação financeira do clube e a extensão do dano patrimonial causado”, afirma, em nota. A direção ainda informou que irá convocar uma assembleia geral para que os demais sócios conheçam a situação do clube e se posicionem sobre a destituição do presidente licenciado. “Importante salientar que a decisão do Conselho independe da decisão da assembleia. Sendo um poder com capacidade de aplicação da destituição e o outro responsável pela pena de eliminação dos quadros sociais”, complementa.
Licenciamento por mais seis meses
Em documento datado da última sexta-feira (12), ou seja, um dia após a notificação da expulsão do ex-dirigente, Juninho encaminhou pedido à presidência do Conselho Deliberativo para que a licença fosse renovada por mais seis meses. Originalmente, o presidente licenciado retornaria ao Executivo do Tupi no início de janeiro. Sendo assim, o novo prazo será encerrado em junho do próximo ano. Atualmente, Tiquinho comanda o clube interinamente.
O pedido foi confirmado nesta quarta pelo presidente licenciado, em contato com a Tribuna. Na última semana, após a reunião entre conselheiros, o ex-dirigente já havia revelado a intenção de se manter afastado do clube. “Na verdade, eu tenho a intenção de me afastar mais um pouco. Estou resolvendo as coisas na minha vida e está muito bom, muito tranquilo. O Tupi toma muito tempo”, disse Juninho à reportagem, na ocasião.
Novela política carijó
O Tupi passa por intensa movimentação nos bastidores desde que foram reveladas denúncias de supostas irregularidades na gestão da base do clube, em junho. No mesmo mês, a Polícia Civil deu início a investigações sobre as práticas. À Tribuna, foram denunciadas cobranças de R$ 300 a R$ 4.500 para avaliação nas clínicas de futebol do alvinegro e até mesmo promessas de profissionalização. As categorias inferiores do Galo tinham a gestão realizada pelo Grupo Multisport, sob a responsabilidade do vice-presidente financeiro do Galo na época, Tiago Ferreira Conte.
Três meses após dar início às investigações, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na sede do Tupi e na casa do agora presidente licenciado. Durante as buscas, os policiais encontraram uma arma de fogo irregular na residência de Juninho, o que gerou a prisão em flagrante do ex-presidente, que foi liberado da delegacia no dia seguinte.
Ainda em setembro, Juninho pediu afastamento da direção do clube por 90 dias, agora renovado por mais 180. A solicitação foi ratificada pelo Conselho Deliberativo alvinegro, abrindo caminho para que o então vice-presidente financeiro do Tupi, Tiquinho, assumisse a cadeira da presidência. Logo nos primeiros dias na direção carijó, o presidente interino tratou de estabelecer diferenças com o dirigente afastado. “Minha relação com o Juninho é só de respeito. Os pensamentos são diferentes”, disse, na ocasião.