Importância do esporte na superação do câncer
Cleonice dos Santos Teixeira, de 61 anos, teve câncer de mama duas vezes. Na primeira, em 2010, fez radioterapia, quimioterapia e cirurgia. Na segunda, teve que realizar a mastectomia. Ela conta que descobriu a doença ao passar um sabonete na mama durante um banho. “Senti um caroço e imediatamente fui no posto de saúde. Me pediram a mamografia e foi detectado o câncer de mama. Fui encaminhada para o médico especialista na Ascomcer e comecei o tratamento”, conta Cleonice à Tribuna.
Antes de ser paciente oncológica, a mulher não praticava nenhum exercício por conta do excesso de trabalho que tinha. Depois da radioterapia, começou a se movimentar por meio da fisioterapia, pois segundo ela, estava “totalmente desequilibrada fisicamente e emocionalmente, mas me mexer melhorou minha qualidade de vida”. Após retirar a mama, o esporte tomou conta de sua rotina. “Participo de corridas de rua e faço exercícios físicos e funcionais, musculação, hidroginástica e caminhada”, detalha a agora atleta.
Para a esportista, as atividades físicas foram e continuam sendo essenciais. “Acredito que as outras mulheres enxergam em mim uma guerreira. Quando eu me deparo com outras pacientes oncológicas que estão precisando de carinho, uma palavra um ou apoio, eu faço o máximo para ajudar. Câncer não é brincadeira. Mas se encontrado a tempo e tratado da forma correta, você pode sobreviver, assim como eu”, se orgulha Cleonice.
Meio de prevenção
Bruno Laporte, mastologista da Acispes, esmiuçou à Tribuna como o esporte ajuda na prevenção, no tratamento e após a superação do câncer. “Na medicina moderna, o objetivo é que a pessoa não fique doente, ao invés de tratar que já estão doentes. Nesse sentido, um dos carros-chefes na prevenção do câncer de mama é a atividade física. Mulheres que praticam de 150 a 300 minutos de esporte por semana podem diminuir a possibilidade de terem câncer de mama pela metade”, explica. “Se fizer mais tempo, melhor. O esporte se torna uma forma prazerosa de fazer atividade física. Além do lado psicológico, tem o ganho para sua saúde”, conta Bruno.
Já durante o tratamento, a atividade física precisa ser proporcional ao estágio em que se encontra a doença. “Precisa de um profissional adequado, um educador físico para o controle. As mulheres não podem ser expostas a ambientes cheios por causa da queda de imunidade, por exemplo. Mas se for personalizado, o esporte é importante para a recuperação da cirurgia e para a recuperação psicológica. A paciente muitas vezes fica retraída, em casa, se sentindo sozinha. O esporte tira a sensação de doença. É como se a ficha caísse que ela está se recuperando”, enfatiza o mastologista.
Após superar a doença, o esporte continua como grande aliado no dia a dia. “A atividade física tem a capacidade de diminuir a chance do tumor voltar pela metade, que é o grande pesadelo delas. Temos que levar em conta também que os esportes ajudam no controle da obesidade, doença que leva ao aumento do risco de câncer de mama”, expõe o especialista da Acispes.
‘Exercícios deveriam ser obrigatórios’
A reportagem conversou também com Henrique Mansur, responsável pela ONG MapleTree Cancer Alliance em Juiz de Fora, que oferta exercício físico de forma gratuita a pacientes com câncer. Conforme o educador físico, os exercícios possuem papel vital na prevenção, no tratamento e no período subsequente ao fim do câncer.
“Esporte, musculação, pilates, caminhada ou corrida são fatores fundamentais na prevenção de inúmeras doenças, entre elas o câncer. Deveria ser obrigatório como prevenção, uma vez que a ciência já comprovou seus inúmeros benefícios como tratamento não medicamentoso. E, diferente do senso comum, não é somente para ajudar a lidar com as questões psicológicas advindas com o diagnóstico e o tratamento (onde também atua). Já sabemos o quanto o exercício físico é fundamental no controle do tumor, na redução da inflamação, na redução da fadiga atribuída ao tratamento, entre inúmeros outros benefícios”, explica Henrique. “A orientação pelo profissional de educação física ou fisioterapeuta é imprescindível para que os benefícios sejam alcançados com o mínimo de risco possível”, reforça.
Segundo ele, o esporte é importante em todo o percurso da doença, inclusive para se preparar para a cirurgia. “E após o sucesso do tratamento, continua sendo fundamental, uma vez que o risco de recidiva existe e todos os benefícios adquiridos com a prevenção continuam atuando. É recomendado que se procure um médico responsável e um profissional do movimento qualificado. As próprias atividades físicas do dia a dia são muito indicadas também, como caminhadas e subir escadas. Todo movimento conta”, explicita o educador físico.