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Paratleta que quase perdeu a vida e atira de forma inusitada vibra com medalhas

sergio luiz destacada site by couri

(Foto: Felipe Couri)

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“O tiro com arco salvou a minha vida”, garante o paratleta (Foto: Felipe Couri)
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O esporte salva e transforma vidas, como a do paratleta Sérgio Luiz Gonçalves, de 31 anos, morador do Bairro de Lourdes, na Zona Sudeste. Militar reformado, o juiz-forano define que chegou “ao fundo do poço” em dezembro de 2021, quando tentou tirar a própria vida ao se jogar na frente de um trem. Ele teve o antebraço amputado, o pé esmagado e a coluna fraturada, mas, por “sorte divina”, como ele mesmo diz, ganhou uma nova chance de trilhar seu caminho no mundo. Seis meses após o acidente, Sérgio conheceu o tiro com arco, e, hoje, já acumula medalhas em diversos campeonatos do país.

“A expectativa era que eu nunca mais saísse da cama por ter fraturado a coluna e pelo meu pé ter ficado tão ruim. Fiquei 45 dias no hospital, estava muito debilitado, com várias dores, e estava perdido sobre como seria desse momento para frente”, conta Sérgio. Após sua recuperação, foi convidado por um amigo que participava do Programa Militar Paralímpico a entrar no mundo esportivo e encontrou no tiro com alvo a modalidade que transformaria tudo ao seu redor.

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“Pensava que o que viesse seria lucro, jamais esperava ter uma vida ativa depois de um acidente dessa proporção. Todas as pessoas que me conhecem ficam surpresas de, em tão pouco tempo, eu estar em um esporte de alto rendimento. O tiro com arco salvou a minha vida”, afirma o atleta.

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Tiro com a boca

Por ter um braço amputado, Sérgio pratica a modalidade de um jeito curioso: apoia o arco no braço e atira a flecha com a boca. Como não poderia ser diferente, ele vira atração nos campeonatos em que disputa. “Quem vê pela primeira vez fica ‘de cara’. Não entendem como eu atiro, e, quando olham o primeiro disparo, ficam extremamente comovidos. Isso me deixa muito feliz, realizar algo diferente, inusitado, que desperta a curiosidade e emociona as pessoas”.

Mas, pela rotina intensa de treinamentos – que inclui 60 tiros diários – o paratleta precisa tomar diversas precauções tanto antes quanto depois de praticar o esporte. No tiro com arco, a distância do atirador ao alvo é de 18 metros quando realizado indoor e 70 metros para outdoor, e a velocidade pode chegar até 240km/h. “É um jeito exótico, que exige muito. Preciso pegar a puxada certa e travar no local certo da boca. É necessário também um trabalho físico, liberação miofascial, destravamento e fortalecimento da musculatura. Necessito de uma equipe multidisciplinar, com psicóloga, fisioterapeuta e hidroterapeuta.”, explica.

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Medalhas e próximas competições

Atirador projeta títulos nacionais e continentais, além de participação nas Paralimpíadas (Foto: Felipe Couri)

Há menos de um ano no esporte, Sérgio já representa a Seleção Militar Paralímpica de Tiro com Arco e tem se destacado nos campeonatos. Na modalidade, há a classificatória geral, que é a soma da pontuação dos competidores, os quais dão 60 tiros, que valem dez pontos. Depois, acontecem várias subcompetições, como o combate (1 contra 1), a disputa por equipes e também a disputa por categoria. Em todos os embates, no Campeonato Regional das Paralimpíadas Militares, que tiveram etapas em São Paulo e em Goiânia, o juiz-forano subiu ao pódio. Ao todo, foram seis medalhas – três de ouro, uma de prata e duas de bronze.

Entre os próximos dias 18 e 22, o paratleta participará da última etapa regional das Paralimpíadas Militares, que será realizada em João Pessoa (PB), cidade em que o atleta passa 15 dias do mês, revezando com Juiz de Fora. Por já estar familiarizado com a capital paraibana, seu objetivo no torneio é buscar a excelência e conseguir mais medalhas. “A tenente Simone Matheus, de Juiz de Fora, me arrumou várias parcerias, incluindo clubes para treinar em João Pessoa. Vou, nessa etapa, tentar bater minha própria meta, e, com muito foco, buscar as medalhas de ouro”, projeta.

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Sérgio ainda conta que, por todo o seu destaque, tem recebido apoio de Márcio Sotto-Maior, campeão sul-americano da modalidade e sua maior inspiração. Em busca de trilhar o mesmo caminho que o ídolo, o militar pretende, a longo prazo, “conquistar campeonatos nacionais e mundiais, e participar das Paralimpíadas”.

“Não é o fim”

Depois da transformação – em menos de dois anos, ele saiu de um momento em que quase perdeu a vida para se tornar um paratleta consolidado nacionalmente – Sérgio considera que sua história pode ser inspiração para outras pessoas que estejam sofrendo com depressão. “Às vezes, chegamos no fundo do poço, mas precisamos entender que não é o fim. É nesse momento que temos que criar forças, porque acontecem coisas inesperadas. Se dermos nosso melhor, vamos colher coisas boas”, aconselha.

Questionado sobre o que poderia recomendar para aqueles que estão passando por problemas de saúde mental, o atleta não pestaneja. “Sem dúvidas, o esporte. Ele transformou minha vida, é muito melhor que antes, sou muito mais ativo. Me fez começar a ter sonhos e objetivos, e hoje, além de hobby, paixão e profissão, é o meu propósito de vida”, define.

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