A posição de goleiro é conhecida como a mais ingrata do futebol pois, com apenas uma falha, pode comprometer o resultado de uma partida, deixando todo o restante da atuação em segundo plano. O drama vivido por quem é responsável por defender a meta é ser, ao mesmo tempo, herói e vilão. Essa dualidade foi transformada em carreira por Matheus Ferrari e compartilhada com seus quase 1,9 milhão de seguidores no YouTube, TikTok, Kwai e Instagram. O arqueiro de 20 anos, natural de Guarará, cidade distante 41 quilômetros de Juiz de Fora, consegue viver exclusivamente da renda que obtém das redes sociais postando vídeos de suas defesas em jogos na várzea.
O desejo de Matheus por jogar como goleiro começou quando ele tinha 9 anos, em uma brincadeira de criança, como ele mesmo diz. “Eu brincava muito com meus amigos de gol a gol, em que você tem que defender e ao mesmo tempo chutar. Vi que já era meio diferente dos outros meninos quando defendia. Desde então, sempre fui ficando no gol, nunca nem tentei ir para a linha, porque eu já vi que tinha um talento no gol”, conta Ferrari.
Apesar da aptidão para a posição, Matheus revela que nunca desejou seguir carreira profissional como goleiro. “Nunca tive essa vontade porque eu não tenho muita altura (1,71 m). Desde pequeno, sempre fui um dos menores meninos na sala de aula, então nunca achei que ia chegar a uma altura boa para ser goleiro profissional. Vendo pela minha família também, já vi que não tinha muito essa genética”, explica o goleiro.
O começo na internet
Com 13 anos, Matheus decidiu criar um canal no YouTube com a intenção inicial de postar gameplays de jogos. Porém, com o tempo, acabou transformando seu conteúdo. “Fui mudando de ideia sobre o conteúdo no mesmo ano que criei o canal, porque eu via muito um goleiro que morava no Canadá, chamado Leonardo Ramalho. Desde aquela época, ele já gravava os jogos dele e sempre fui muito fã. Aí bateu aquela vontade de criança, de crescer igual e comecei a gravar meus jogos, minhas defesas, meus treinos e comecei a postar no YouTube”, afirma o influencer.
A ascensão de Matheus nas redes sociais se deu no começo da pandemia de Covid-19, em 2020, três anos após o goleiro começar a postar o conteúdo. “Foi no TikTok que eu comecei a crescer. Com cerca de um ano de plataforma, já estava chegando em 200 mil seguidores, um número muito bom. Foi aí que eu pensei: ‘eu estou fazendo certo, então acho que vou conseguir seguir nesse caminho'”, lembra.
A produção dos vídeos
A maioria do material postado por Matheus são de suas defesas durante jogos na várzea. Ferrari, que atualmente atua por três equipes: Tricoloucos, de Juiz de Fora; Leões, de Guarará; e GDO, de Bicas. O goleiro comenta que passou a atuar na várzea há cerca de dois anos. “Comecei a jogar mesmo depois da pandemia, porque antes eu jogava mais com os meninos da minha idade. Depois que passou a pandemia, em 2022, comecei a jogar (na várzea), porque já tinha idade para jogar com os adultos”, relata.
Vivendo exclusivamente da renda que obtém através da monetização dos conteúdos nas redes sociais, Matheus é o único responsável por todas as etapas da produção dos vídeos, desde a gravação até a edição. “Deixo duas câmeras no gol para pegar os dois ângulos, levo as baterias para trocar durante o jogo se precisar e vou defendendo. Depois, chego em casa, pego todo o material e edito. Faço tudo sozinho em quase todas as plataformas: edito, posto, tenho as ideias. De vez em quando, preciso de ajuda nos vídeos do Instagram, porque é um formato diferente dos demais”, explica o goleiro.
“Tenho uma rotina e vou postando tudo em alguns horários já definidos. É claro que, de vez em quando, acontece uma variação porque nem todo dia a gente consegue postar no horário certinho, mas tento não sair desse padrão, porque tem que postar sempre nos mesmos dias e nos mesmos horários para dar certo”, complementa Matheus, explicando sobre a frequência de postagens.
Apesar de seu alcance ser maior no TikTok, rede social em que já ultrapassou um milhão de seguidores, Matheus considera o YouTube sua principal plataforma. “Considero que é a mais difícil para crescer, mas é a que mais dá retorno, tanto com engajamento, quanto financeiramente, até para divulgar algum produto, tem mais retorno”, justifica.
Retorno além da expectativa
Com quase dois milhões de seguidores nas redes sociais, Matheus considera que seus vídeos já ultrapassaram o seu objetivo inicial, quando criou o canal. “Os vídeos de goleiro, como é um nicho mais específico, chegarem nos números que eu tenho hoje, é uma coisa que nunca pensei que chegaria. Hoje, já penso que estou no lucro, mas continuo me esforçando para continuar crescendo. Hoje eu não tenho uma meta fixa, mas é claro que não deixo de postar, sempre quero crescer mais”, avalia.
*Estagiário sob supervisão do editor Gabriel Silva