Ícone do site Tribuna de Minas

Há 60 anos, Brasil espantava complexo de vira-lata e apresentava Pelé e Garrincha

D. Seleção Brasileira
PUBLICIDADE

O trauma do Brasil pela derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950 demorou oito anos no calendário e três minutos em campo para ser expurgado. Foi este o período de tempo que separou o Maracanazo e o início avassalador que a Seleção Brasileira exibiu na vitória por 2 a 0 sobre a União Soviética no Mundial de 1958. Antes do jogo, disputado em 15 de junho daquele ano, no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, havia dúvidas sobre o potencial do time nacional, ainda mais que a equipe havia empatado sem gols com a Inglaterra no confronto anterior, após estrear no Mundial da Suécia com vitória por 3 a 0 sobre a Áustria.

Para piorar, em tempos de Guerra Fria, uma aura envolvia o adversário seguinte, a União Soviética, com suas camisas vermelhas com a inscrição CCCP, a lenda Yashin no gol e o título olímpico em 1956 no currículo — dois anos depois da Copa de 1958, a equipe conquistaria o único título europeu da sua história, com seu futebol “científico”. Em uma decisão que provocou o surgimento da lenda de que Vicente Feola adotou os conselhos de Nilton Santos, Bellini e Didi para tomá-la, o técnico brasileiro colocou Zito, Garrincha e Pelé nas vagas de Dino Sani, Joel e Mazolla, respectivamente. Manchetes do jornal O Estado de S. Paulo de 17 de junho de 1958 dão o tom do êxito das mudanças, que alteraram o rumo da história do futebol: “Os brasileiros dominaram totalmente os soviéticos” e “Unânime a imprensa em elogios à seleção”.

PUBLICIDADE
Seleção Brasileira de 1958, que disputou o Mundial da Suécia e apresentava Garrincha (primeiro sentado da esquerda para a direita) e Pelé (terceiro sentado da esquerda para a direita) (Foto: Fifa.com)

Convocado por Feola para defender esta lendária seleção naquele Mundial, o ex-atacante Pepe, de 83 anos, lembra com saudade daquela partida contra os soviéticos. “Eu estava lesionado e não joguei, mas estava na arquibancada vendo o jogo. Na época, não tínhamos os recursos que temos hoje para conhecer os adversários. A seleção mandou um espião para filmar uns 15 a 20 minutos do treino da União Soviética, e os comentários dele eram os de que a Seleção Russa, a começar pelo goleiro, o ‘Aranha Negra’ Yashin, era muito boa”, afirmou Pepe, em entrevista ao Estado.

PUBLICIDADE

O ex-jogador do poderosíssimo ataque do Santos de Pelé, porém, enfatizou que o Brasil acabou conseguindo desbancar o teórico favoritismo da URSS por causa de jogadores brilhantes como Didi e Garrincha. O gênio das pernas tortas provocou um estrago na defesa rival com dribles desconcertantes e assustou os soviéticos, que já aos 3 minutos do primeiro tempo viram o atacante Vavá abrir o placar para o Brasil após lançamento genial de Didi.

“O time deles era forte, mas tinha um jogo baseado muito em se defender e depois sair para o contra-ataque. O Vavá foi um grande nome daquele jogo e foi fantástica realmente a participação do Garrincha nesta partida e durante toda a Copa. Eu lembro do Nilton Santos gritando para o time: ‘Dá a bola pata ao Mané, dá a bola para o Mané’. Depois do Pelé, ele foi o melhor jogador que eu vi jogar”, disse Pepe.

PUBLICIDADE

E o ex-ponta-esquerda exaltou o peso histórico que aquele jogo com a URSS e a própria conquista do primeiro título mundial tiveram para o Brasil. “A seleção mostrou que tinha condições de conquistar vários resultados bons, como de fato aconteceu. Didi foi considerado o jogador da Copa, jogou muito também, e ali o Brasil mostrou que era o País do Futebol, como passou a ficar conhecido no mundo”, reforçou.

Ali, por sinal, a dupla formada por Garrincha e Pelé, nunca derrotada em uma partida da seleção, se apresentou ao mundo. “Foi, sem dúvida, a vitória que abriu o caminho para tudo que aconteceu depois. Ali começou a acabar o ‘complexo de vira-lata’. A URSS era considerada poderosíssima, quase um fantasma, e o Brasil acabou com ela em três minutos”, disse o escritor Ruy Castro, em entrevista ao Estado, lembrando as bolas na trave de Garrincha e Pelé e o gol de Vavá, no começo do confronto – depois, já no segundo tempo, Vavá marcaria o segundo gol brasileiro após tabela com o Rei do Futebol.

PUBLICIDADE

Sair da versão mobile