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‘Preciso de um ritmista’, diz Tite em entrevista

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(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

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(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)
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“Se tiver de enfrentar na Copa, não vou ter de responder tantas e tantas vezes, “a Alemanha veio aqui, venceu e foi campeã” e tudo mais. Está aqui, vamos jogar de novo, passou uma nova etapa, como passou a etapa da Alemanha de 2002
Técnico da Seleção sobre o amistoso com a Alemanha

Em entrevista exclusiva ao Estado nesta quinta (15) na sede da CBF, no Rio, o técnico da Seleção Brasileira, Tite, falou sobre Copa do Mundo, Neymar e os últimos preparativos para o Mundial. “A Seleção está em um processo de consolidar e evoluir ainda”, disse o treinador, esperançoso que o auge seja alcançado durante o torneio na Rússia. Ele também apontou que o time pode ter novidades na sua convocação para a competição. “Para usar um termo próprio de carnaval, eu preciso de um ritmista”. Sobre a derrota do Paris Saint-Germain para o Real Madrid na última quarta-feira, no jogo de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, o treinador procurou tirar o peso do resultado das costas de Neymar. “O PSG está construindo uma equipe para ser forte lá na frente, no ano que vem.”

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AE – Estamos a quatro meses da Copa do Mundo. Em que estágio está a Seleção Brasileira?
Tite – Ela está em um processo de consolidar e evoluir ainda. Eu tenho repetido isso há algum tempo, dei essa mesma resposta um tempo atrás. Os estágios que ela vai atingindo a gente procura de alguma forma consolidar e ampliar. Sendo mais específico em termos táticos, os enfrentamentos contra linhas de cinco defensores, com três meio-campistas e dois que marcam mais atrás, mecanismos que a gente possa encontrar para ser mais objetivos mantendo um equilíbrio da equipe.

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– Isso foi pouco testado, você não teve oportunidades de atuar contra seleções que jogam desta maneira. Isso torna ainda mais importante esses dois amistosos em março, contra Rússia e Alemanha?
– Um dos aspectos que eu gostaria de ter mais e que a gente procurou agora foi de jogar contra equipes que têm essa característica. Para sentir essas dificuldades, para encontrar mecanismos que possam furar esses bloqueios sem se fragilizar. O grande mérito contra a Inglaterra foi ter um primeiro e um segundo tempo mantendo posse de bola, sendo agressivo, não sendo muito contundente, não criando muito, porque o adversário nos neutralizou. Em contrapartida, em nenhum momento a equipe se desestruturou e deu ao adversário a possibilidade de jogar, mesmo sendo em Wembley, mesmo sendo a seleção da Inglaterra jogando em casa, que tinha conseguido contra Alemanha. Então, manter essa estrutura e encontrar atletas armadores que possam jogar no campo adversário, nas entrelinhas adversárias, de dar amplitude, esses mecanismos.

– Esse encontro de atletas significa que podemos ter novidades na próxima convocação. Esses amistosos fecharão o grupo?
– Eu gosto de falar de merecimento, mas o merecimento tem um limite, que é a necessidade da equipe. O que quero dizer com isso é que daqui a pouco vou ser injusto. Alguém que merecia ser convocado, não vai ser convocado. Vou dar um exemplo: talvez um lateral-esquerdo que merecia ser convocado não vai ser convocado. Mas, pela necessidade da equipe, não posso botar três laterais esquerdos, porque daqui a pouco preciso de um articulador, um jogador de armação. Para usar um termo próprio de carnaval, eu preciso de um ritmista. Aí, para encontrar esse jogador, mesmo que ele não esteja na melhor das condições, mas pela necessidade da equipe, que a seleção precisa, vai ser convocado um atleta.

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– Você falou que não pode convocar três laterais-esquerdos, mas, por exemplo, testar o Marcelo no meio de campo não seria uma opção?
– Esse seria um dos grandes objetivos que eu teria se tivesse mais tempo. Vou te dar um exemplo claro do jogo do PSG contra o Real Madrid. Há uma bola em que o Neymar está pelo centro, ele infiltra e o Dani Alves está no lado direito, não mais o Mbappé. Só que ele está tão na pressão do jogo e a cabeça dele funcionando a milhão que ele dá o passe um pouco mais avançado, quando deveria ter sido um pouco mais atrás, porque era o Dani. Quando você mexe na estrutura, aquilo que já está mais organizado se perde. Quando você tem só 17 jogos, quando tem o pouco tempo que eu tenho, é um dilema. Por isso, se eu tivesse mais tempo, eu teria trabalhado com ele nesse setor.

– Neymar, quando foi para o PSG, tinha o objetivo pessoal de cortar o caminho para ser o melhor do mundo, mas também a responsabilidade de levá-lo ao protagonismo na Europa. A situação ficou mais difícil com a derrota para o Real Madrid. Você teme que se, em um primeiro momento, ele não atingir esse objetivo de levar o PSG ao protagonismo na Europa isso possa ter reflexo na Seleção?
– Quem pensa que o protagonismo de uma equipe pode se dar em um ano só da formação dela, pensa muito pequeno, e não sabe como uma equipe é construída, maturada, evoluída, errada, acertada. É um processo de crescimento que o PSG e o Neymar vão passar juntos.

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– Na cabeça dele funciona desse jeito? Ele tem essa compreensão?
– O atleta compreende futebol e compreende a estrutura do futebol muito mais longe do que vocês imaginam. Às vezes, ele não tem a condição de externar a ideia dele, mas ele sabe muito. Eu vi uma manifestação numa grande equipe brasileira onde houve troca de técnico e dois atletas falaram que enquanto não houver estrutura mais consolidada, a gente fica sem saber o rumo. Os atletas falaram isso. Na hora que as pessoas têm a responsabilidade, o comando tem que compreender dessa forma. Isso se chama não ficar em cima de um resultado. Eu estou falando isso do PSG, ele está construindo uma equipe para ser forte lá na frente, o ano que vem.

– Por que o amistoso com a Alemanha?
– Fantasminha aqui na frente. Se tiver de enfrentar na Copa, não vou ter de responder tantas e tantas vezes, “a Alemanha veio aqui, venceu e foi campeã” e tudo mais. Está aqui, vamos jogar de novo, passou uma nova etapa, como passou a etapa da Alemanha de 2002.

– Você vai querer desempenho ou resultado?
– Desempenho antes. Isso é convicção. Você não muda com o tempo a sua opinião? Para essa situação, não. Ela é primeiro de desempenho, vou cobrar jogar bem. Atleta tem de estar mentalmente forte e jogar bem. Isso eu vou cobrar e isso eu cobro de mim antes. O resultado eu não posso controlar. E lá nós vamos ter um desafio inclusive mental. Contra a Alemanha, que nos venceu, dentro da nossa casa, jogar lá na casa deles e ter que jogar bem. O atleta tem de sentir prazer em jogar futebol. Se ele não sentir prazer, ele não vai jogar na sua plenitude.

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