A Justiça expediu, na manhã desta terça-feira (14), alvará de soltura do presidente do Tupi, José Luiz Mauler Júnior, que passou a noite no Centro de Remanejamento Provisório (Ceresp) em Juiz de Fora. Juninho foi preso em flagrante na última segunda-feira (13) por posse ilegal de três armas, apreendidas pela Polícia Civil na residência do mandatário carijó durante a ‘Operação Tupi: Jogando Limpo’, que investiga a gestão do clube nas clínicas para as categorias de base e, a partir do avanço das análises, também da administração geral da agremiação.
Após a liberação, Juninho concedeu entrevista à Rádio Transamérica Juiz de Fora e reforçou que as armas eram de sua posse. “São armas que eram do meu pai, que faleceu e dividimos as coisas dele entre os irmãos. Um pegou geladeira, outro televisão e tinha armas de enfeite guardadas lá”, relatou.
O presidente alvinegro ainda criticou a decisão da titular da 4ª Delegacia da Polícia Civil de Juiz de Fora, Ione Barbosa, que havia determinado fiança de R$ 50 mil. “Não tem nada de apavorante nem que mude a minha vida pessoal. O que a polícia fez foi um exagero. Foi uma arbitrariedade tão grande que o juiz imediatamente revogou o comando que a delegada deu. Tudo o que for pra dificultar, ela vai fazer. Ela quer dar a entender que a arma foi raspada. Mas foi oxidada com o tempo, qual o problema nisso?”, questiona Juninho.
À reportagem, em relação à menção de Juninho em sua entrevista, a delegada Ione Barbosa salientou a decisão do juiz José Clemente Piedade de Almeida, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Juiz de Fora, na soltura do presidente do Tupi, que destaca, no processo, que a prisão foi “totalmente legal”. “É importante falar que não houve nenhuma arbitrariedade. A liberdade dele está condicionada ao fato de vivermos uma pandemia e amplia medidas cautelares. (…) Meu procedimento de flagrante é completamente legal, ele foi liberado por ser réu primário. Inclusive foi muito bem tratado na delegacia”, elucida Ione.
Justiça determina recolhimento domiciliar e proibições ao presidente
Na decisão do juiz José Clemente Piedade de Almeida, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Juiz de Fora, como destacou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais à Tribuna, “o magistrado impõe uma série de obrigações ao flagranteado, como condições a cumprir para que ele permaneça solto. Entre as razões para a liberdade dele, por enquanto, estão o fato de a pessoa ser primária, sem antecedentes relevantes, não se tratando de delito cometido com violência e/ou grave ameaça a pessoa.”
Conforme o documento processual de liberdade provisória, entre as medidas cautelares estão o comparecimento mensal em juízo “para justificar atividades, bem assim a todos os atos processuais para os quais for intimado”, as proibições de se ausentar de Juiz de Fora sem pedido escrito do advogado e autorização do juiz, e de mudar de endereço sem solicitação protocolada pelo advogado e com prévia autorização judicial. Juninho também não poderá “frequentar locais de reputação duvidosa, bar ou estabelecimento similar, nem consumir qualquer tipo de bebida alcoólica ou drogas.”
Outra medida que chama a atenção é a obrigatoriedade de se manter distância mínima de 300 metros das testemunhas, com quem ele não poderá entrar em contato sob qualquer meio. Juninho ainda terá que realizar o recolhimento domiciliar de 18h às 6h e, quando não estiver trabalhando, de 24 horas por dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados. A ordem de liberação será revista em caso de descumprimento de qualquer ordem oficializada pela Justiça.
Investigações na base
Ainda conforme o mandatário, os documentos apreendidos pela Polícia Civil, na verdade, deveriam ser buscados com os diretores Tiago Conte, responsável pela empresa MultSport, que gerenciou as clínicas de base investigadas com suspeita de estelionato, e o supervisor Luigi Firmiano, que também participou do processo e teria recebido pagamentos de jovens para as avaliações.
“Todas as despesas pra execução dessas clínicas, compra de ônibus, material, alimentação, tudo era por conta deles. E, obviamente, as receitas também seriam. Nosso objetivo era que, se saísse alguém dessas clínicas que fosse capaz de integrar o elenco profissional, nós apresentaríamos a ele e, se achasse viável, contrataríamos. Como fizemos nesse ano com o zagueiro Vitor, o meio de campo Gonçalo e o atacante Macário, todos contratados. Essa empresa apareceu e, obviamente, pelo que todos têm apurado, deixou de cumprir, de fazer a avaliação em alguns garotos e não devolveram o dinheiro”, explicou Juninho.
‘Eu amo o Tupi’
A investigação da Polícia Civil na administração do clube foi iniciada após depoimentos de testemunhas veladas e que vivenciam o dia a dia do Tupi. Para Juninho, seria obra de uma oposição também criticada pelo presidente.
“Isso não é direcionado a uma pessoa só, parece que tem gente que tem interesse em deteriorar a imagem do clube. Não estão preocupados com a imagem do Tupi, se vai fechar suas portas. Têm seu ego pessoal. Quando fui presidente pela primeira vez, de 1999 a 2004, eu vim e trabalhei. Quando saí, jamais você me viu ficar procurando o que a outra administração estava fazendo ou como eu poderia prejudicar ela. Porque eu amo o Tupi, eu sou Tupi. Esquecem que estão prejudicando é o clube, não o Juninho. Se amanhã alguém vier a ser presidente, vão pegar um Tupi deteriorado. É uma burrice muito grande, uma oposição burra. Não sei que tipo de benefício pode trazer pra eles.”
Empréstimo ao clube e recibos em contas pessoais
Outro ponto questionado foi a aprovação de um empréstimo pessoal de R$ 200 mil, no nome de Juninho, ao clube, para o pagamento dos vencimentos relativos ao futebol de 2021. “Esse ano, o que tivemos de patrocínio real, em termos monetários, foram R$ 15 mil do Bahamas durante quatro meses. Não tivemos nem R$ 1 a mais pra fazer futebol. Obviamente que com esse valor mensal é impossível de fazer futebol. Aí chamei o pessoal da diretoria, do Conselho Deliberativo, e sugeri de vender meu carro pra cobrir e eles me davam uma garantia. Todos concordaram e foi feito. Quitamos com todos os jogadores, terminamos o campeonato e não devemos R$ 1 pra quem jogou pra gente.”
Ainda na coletiva realizada na segunda, a delegada Ione Barbosa confirmou que Juninho estaria recebendo pagamentos relativos à permuta do Salles Olveira em sua conta bancária pessoal. Juninho confirmou a informação,mas ressaltou que é uma prática antiga e que impede a penhora dos valores por conta das dívidas avaliadas em mais de R$ 10 milhões do clube, de âmbitos trabalhista e fiscal.
‘Não queremos vender o Tupi’
À Rádio Transamérica, Juninho voltou a reiterar a importância, em sua avaliação, da venda de terreno na sede social do clube, no Centro, para o pagamento das dívidas e a sobrevivência da agremiação. “Se a gente não conseguir fazer um empreendimento na sede social, não tem jeito de salvar o clube. Não vai aparecer nenhum milionário maluco, excêntrico, que vá dizer que o Tupi deve R$ 15 milhões, vai doar e está tudo certo. É uma dívida que se arrasta há mais de 12 anos, são débitos fiscais, ações trabalhistas. Temos que usar essa área central do clube pra um empreendimento que salve o Tupi.”
Ele afirmou que já negocia com pessoas e construtoras. “Mas é um negócio delicado. Várias pessoas do ramo imobiliário têm interesse justamente pela localização do terreno. Mas o que não queremos é vender o Tupi. Isso é muito fácil, fazemos da noite pro dia. Muitas pessoas chegaram aqui e disseram que se quisermos vender o terreno, pagam. Mas não é assim que queremos. Vamos colocar o Tupi onde? Pra um lugar em que os sócios não tenham proximidade? Porque a grande maioria dos associados é da Zona Leste, do Vitorino, Linhares, Grajaú, São Bernardo. Então não adianta vender e fazer um clube lá em Grama. Por isso estamos tentando uma parceria, o que é muito mais difícil de resolver. Alguém que queira um empreendimento e coloque o Tupi nele.”