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Pesquisa da UFJF aponta necessidade de máscara nas atividades físicas externas

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Vale a pena praticar atividades físicas fora de casa durante a pandemia? Seja atletas, amadores ou pessoas que gostam de levar uma vida saudável, essa é uma dúvida recorrente desde o início do isolamento social. Sem competições, manter o ritmo se tornou desnecessário para os atletas, enquanto outros passaram a adaptar suas rotinas à segurança de casa. Mas quem deseja se aventurar nas ruas precisa tomar uma série de medidas para que essa prática saudável não se torne mais um risco de contrair ou transmitir o coronavírus.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional (PGMC) da UFJF, sem o uso de máscara, a distância a trajetória de gotículas de espirro é superior à margem de segurança que vinha sendo divulgada até então, de dois metros de distância. O estudo considerou o espirro por ser o fenômeno da via respiratória que mais produz espalhamento, em comparação com a tosse, a respiração e a fala.

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Foto: Reprodução

De acordo com os resultados, considerando uma pessoa estática (parada em pé), o espirro pode se espalhar por até 4 metros. Em caso de caminhada a 1,2m/s ou 4,32km/h, é necessário um distanciamento mínimo de 5 metros. Já em corridas, em velocidade de 4m/s ou 14,4km/h, é necessária uma distância de 10 metros entre as pessoas para que haja segurança. A pesquisa observou situações em que os indivíduos estejam um atrás do outro. Porém, em caso de se estar lado a lado com uma pessoa contaminada, observou-se que também há risco de transmissão, embora o estudo não tenha se aprofundado na situação.

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“As gotículas tendem a cair no solo, mas em função da gravidade, algumas ficam em suspensão por mais tempo. Se uma pessoa estiver dentro desse percurso, dependendo de sua altura, ela pode ser contaminada na região da face ou mesmo através do contato com a parte inferior do corpo, atingida pelas gotículas. Crianças e cães são menores e, até que as gotículas chegarem ao chão, elas estão propensas a se tornarem vetores da doença. A barreira (máscara) certamente diminui o espalhamento, embora ainda não tenhamos testado. Dependendo do formato da máscara e do espaço entre o tecido e o rosto, pode sair algumas gotículas, mas a intensidade é bem menor”, explica a pesquisadora Patrícia Hallak, que realizou o projeto ao lado do doutorando Nícolas Lima. A simulação computacional foi comparada com a literatura acadêmica e passou por revisão para ser submetida a um congresso. Os novos resultados ainda não foram divulgados.

Incômodo necessário

“Quanto mais a máscara protege, mais difícil torna a execução do exercício”, explica Dr. Marcus Abreu, médico do esporte (Foto: Arquivo Pessoal)

A necessidade do uso da máscara, desta forma, se torna inquestionável. No entanto, muitas pessoas reclamam do desconforto de usá-la e temem por alguma situação de sufocamento durante a prática de exercício. Segundo o médico do esporte Marcus Abreu, com máscaras de tecido, recomendadas para uso da população, isso não acontece. Já as máscaras hospitalares, que são mais vedadas, podem trazer esse risco.

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“Quanto mais a máscara protege, mais difícil torna a execução do exercício. A preocupação é de que, com máscara, não conseguiríamos eliminar tão bem o gás carbônico durante a expiração, deixando-o retido e levando a alguma problema. Mas a imensa maioria dos modelos (de tecido) não têm essa vedação. Com a máscara, o que acontece é que temos que fazer mais força na musculatura para inspirar e expirar, por isso a sensação que temos é que nos cansamos muito mais, mesmo com um exercício de baixa intensidade. Porém, as máscaras de tecido, que permitem uma melhor execução, são as que protegem menos, pois ficam úmidas em cerca de 15 ou 20 minutos, quando precisam ser trocadas”, explica o médico e destaca ainda que o mercado têm buscando criar modelos mais eficazes, no entanto, ainda não há comprovação de um modelo ideal para a prática esportiva.

Apesar de indicar que seja dada preferência às atividades físicas feitas em casa, o médico do esporte não desaconselha a prática de corrida na rua, desde que seja feito o uso de máscaras, por respeito à coletividade. “Estamos sob risco de viver a epidemia do sedentarismo, já que tanta gente começou a abandonar a prática do exercício. Vemos a obesidade como um fator de risco da Covid-19 e não há estratégia melhor que uma boa alimentação e exercício físico. Inclusive, indivíduos saudáveis costumam responder melhor quando estão infectados. O ideal é que sempre fiquemos atentos às recomendações das autoridades de saúde locais”, explica. Segundo o especialista, ganhar performance nesse momento está fora de cogitação, sendo possível apenas diminuir os danos.

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Buscando manter distanciamento, ultramaratonista Gláucio Monte-Mór tem treinado em casa e na BR-040 (Foto: Arquivo Pessoal)

Atletas se adaptam

Com o início do isolamento social em Juiz de Fora, o ultramaratonista Gláucio Monte-Mór, de 42 anos, tem mudado seus costumes para manter uma prática mais segura. Em seu calendário, o atleta amador planejava participar de duas grandes provas esse ano e uma caminhada de cinco dias até Aparecida do Norte (SP), mas os planos mudaram. Por isso, o volume e a intensidade dos treinos também diminuíram, mas não foi só isso que mudou. Antigo frequentador de espaços como Via São Pedro e UFJF, Gláucio tem dado preferência à BR-040 para treinos longos ou as ruas próximas de casa em horários de menor movimento.

“Reduzi os dias e os quilômetros que corro e estou evitando locais de práticas coletivas para fugir das aglomerações. Como as ruas estavam vazias, saia cedo, mas agora está ficando mais cheio. Alguns dias, estaciono o carro na BR-040, corro sem máscara e volto. Perto de casa, corro de máscara, porque o treino é mais curto de intensidade baixa, mas não é muito confortável. Porém, é mais seguro para todos”, conta o corredor e professor de educação física.

Atleta e treinadora Zirlene Santos deixou de focar na performance e usa esteira de casa apenas para manter-se ativa (Foto: Arquivo Pessoal)

A treinadora e corredora Zirlene Santos, 53 anos, tentou fazer o mesmo próximo da região onde mora. A tentativa de buscar lugares isolados, porém, trouxe insegurança. “Somos mulheres. Se o lugar está deserto de pessoas e aparece alguém, ficamos com medo de que algo aconteça. Preferi comprar uma esteira e treinar em casa tranquila, em qualquer horário, com chuva ou com sol. E treino também em uma granja em Igrejinha, com subida e descida”, comenta.

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Evitando utilizar planilhas de treinamentos nestes meses de quarentena, Zirlene tem usado a prática somente para manter a saúde. Segundo ela, suas atletas Aline Barbosa e Amanda Oliveira também foram liberadas da rotina antes toda planejada. “Os treinos que desgastam mais pode interferir na imunidade e é o momento de estarmos fortes. Além disso, se eu continuasse montando planilha de treinos, de repente elas estariam sendo incentivadas a correr na rua, saindo do isolamento social. Mas eu não queria isso, pois temos que ter responsabilidade. Falei para procurarem lugares com menos movimento e não se expôr.”

Performance

De fato, treinos de ganho de performance podem comprometer a imunidade, segundo confirma Marcus Abreu. Essa prática é comum entre atletas em fase de competição, quando se aumenta o volume e a intensidade das atividades antes das provas. No entanto, com o adiamento e cancelamento de competições, é normal que o ritmo dos treinamentos seja desacelerado.

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O médico do esporte adverte que é falsa a ideia de que treinar com máscara melhora a performance. “Acredita-se que há redução de oxigênio, como em treinos de altitude ou câmaras especiais, algo que também é muito controverso. Mas, na verdade, a concentração do oxigênio no ar com ou sem a máscara é a mesma, a única coisa que muda é o uso da musculatura (fazendo mais força para inspirar e expirar).”

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