O tabu de que grávidas não podem realizar atividades físicas “caiu por terra”, segundo a ginecologista e obstetra Mariana Sirimarco, que trabalha há nove anos em Juiz de Fora. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o esporte na gravidez traz benefícios mentais e físicos, neste período em que as mulheres passam por mudanças no corpo e nas emoções. Nos Dia das Mães, a Tribuna conta a história de Marcela Sales, de 35 anos, grávida de oito meses e duas semanas, que utiliza os exercícios como aliados durante a gestação.
Dona de uma marca de produtos menstruais e de amamentação, Marcela conta que sempre gostou de atividades físicas. Ela foi bailarina até os 20 anos e depois migrou para o yoga. “Fiz outras atividades e fui intercalando, gosto de aprender, de conhecer novas modalidades. Fiz lutas e danças diversas, como a do ventre, tribal e pole dance, além de participar de corridas”, diz. Há quatro anos, ela tomou a decisão de ter um filho, com o apoio do marido Marco Túlio. Após tentativas, no ano passado, ela perdeu um bebê com oito semanas de gestação. Mas há 34 semanas (oito meses e duas semanas), engravidou novamente e agora espera o nascimento do filho Vicente. Durante a nova gestação, a atividade física tem sido fundamental, como fala Marcela.
“Um pouco antes da gestação, fiz dois meses de fisioterapia pélvica, o que foi fundamental para a minha gestação. Durante ela, comecei a fazer yoga particular, todo pensado no meu corpo e na minha gestação. Mantive a natação e as caminhadas e atividades ao ar livre sempre que é possível. Nesse momento final da gestação, estou um pouco mais devagar na caminhada, mas continuo com a yoga e natação, além de ter incluído o spinning baby. Esse exercício é feito em dupla, meu marido faz comigo todas as noites. Alivia muito as dores no corpo e ajuda a preparar o corpo para o parto”, acredita a mulher.
Ela também participa de rodas de gestantes e de amamentação, e recomenda que outras grávidas façam atividades físicas. “Não entendo como algumas mulheres conseguem passar pela gestação sem se exercitar. Se fazendo todas essas atividades ainda sofro com dores na lombar, pernas inchadas e peito dolorido, não sei o que seria de mim sem o meu amor pela atividade física. Temos que ter em mente que estamos produzindo um ‘humaninho’, isso é muita coisa, é muito gasto de energia. É um peso a mais no corpo. E a atividade física acalma a mãe e o bebê, diminui a azia, as dores e melhora a circulação”, avalia.
Segundo Marcela, o mais importante é que as grávidas tenham em mente os seus próprios limites. “Em muitos momentos não dou conta de fazer tudo o que me proponho, e está tudo bem. Não me cobro e nem me torturo. O hábito de uma vida saudável requer reeducação, deveria ser ensinado na escola. Um adulto, para mudar seu estilo de vida, precisa investir, antes da atividade física, na sua saúde mental, porque o corpo da mulher na gestação se torna alvo de muitas críticas. Todo mundo quer palpitar, dar um conselho sobre o que deve ser feito e não ser feito. Minha dica é para curtir a gestação, fazer o que for possível, porque vai ficar tudo bem”.
“Menor risco de desenvolver doenças”, diz especialista
Com mestrado em obstetrícia com ênfase em diabetes gestacional, e especializada em medicina fetal e ecocardiografia fetal, Mariana Sirimarco explica à reportagem os benefícios das atividades físicas para as grávidas. “Diminui as dores crônicas, melhora a postura, o sono e o funcionamento intestinal. Durante a gestação, também ajuda no controle do ganho de peso porque, habitualmente, elas ganham peso ao longo do processo. Se exercitando, também há menor risco de desenvolverem doenças relacionadas à gravidez como diabetes gestacional e hipertensão gestacional”, avalia.
De acordo com a médica, as grávidas podem se exercitar inclusive no primeiro semestre da gestação. Algumas atividades, segundo ela, precisam de adequação à condição física da mulher. Todavia, não há complicações associadas aos exercícios. “São muitas mudanças, muitas vezes (a mulher) vai ter náusea, vômito. Mas não há nenhuma associação de prática de atividade física e perda gestacional”, garante a obstetra.
Ainda conforme Mariana, o esporte é imprescindível quando a grávida tem o diagnóstico de diabetes gestacional. “Elas conseguem controlar melhor a glicemia delas quando praticam. O tratamento é feito com base em dieta, mas tem um resultado muito melhor se associando às atividades físicas”. Além disso, há ajuda na saúde mental da gestante. “Yoga e meditação ajudam nisso, além da psicoterapia”, aponta.
À parte de todos os benefícios, está a existência de alguns mitos relacionados aos exercícios na gravidez. “Dizem que as atividades físicas aumentam a frequência cardíaca, que isso faz mal pro bebê. Mas, na verdade, isso caiu por terra, não há comprovações científicas. Fazemos o controle da intensidade dos exercícios pela disposição e bem-estar de cada paciente. E sempre é necessário um acompanhamento profissional especializado porque o maior risco da prática da atividade física durante a gestação é a gente ter lesão”, recomenda.
Mariana lembra que a gravidez impacta na postura, coluna e pisada das mulheres. “Há um afrouxamento dos ligamentos e uma alteração na parte muscular. Então, as mulheres precisam ser auxiliadas nas atividades físicas, para que elas gostem e possam levar isso para o resto da vida”, reitera.