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Após vencer câncer, Guto Lima é 3º no Mundial de Veteranos no Motocross

Guto Lima foto Fausto Macieira
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Se as atitudes definem uma personalidade, Guto Lima é força, resiliência e amor. Há seis temporadas nos Estados Unidos, a referência do motocross brasileiro acelera sobre as dificuldades da vida como se estivesse sempre em cima das duas rodas. No último fim de semana, o juiz-forano de 56 anos conquistou a terceira colocação na disputa do Word Vet Motocross 2022, o Mundial de Veteranos, realizado na Califórnia. Um resultado que, mesmo diante de uma história rica em títulos, se tornou o mais especial de sua vida por motivos que ultrapassam as pistas. A medalha no peito veio acompanhada de outra vitória: o fim de um câncer. À Tribuna, Guto relembrou os capítulos subsequentes de aflição que começaram há 16 anos.

“Tive câncer na bexiga em 2006 e foram quatro anos de tratamento. Depois, fui com minha família aos Estados Unidos montar uma escola de motocross, e eles estudarem. Nossa casa pegou fogo, pega pelo ‘Thomas Fire’. Ficamos sem nada, começamos do zero. Quatro anos depois, eu tive outro câncer. Passei por mais de nove horas de cirurgia com uma equipe excepcional de médicos, Deus abençoou todos nós. Tiraram a bexiga e câncer no abdômen. Reconstruíram cortando parte do intestino. Fiz quimioterapia por um ano e oito meses, estive em recuperação por dois anos. Vim voltando à prática de atividades físicas e, aos poucos, aos treinos de moto”, recorda Guto.

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Guto Lima exibe, com orgulho, a bandeira do Brasil e premiação do Mundial de Veteranos (Foto: Arquivo pessoal)

O juiz-forano que mora em Ventura, na Califórnia, em um trailer, havia sido campeão, em 2020, do Mundial de Veteranos na categoria dois tempos. Com sua recuperação, ele acabou convidado para voltar ao evento, entre atletas com mais de 55 anos, e viveu uma emoção diferente do que já experienciou em sua carreira. “Foi um desafio muito grande voltar às pistas. Sabia que não ia fazer muito estando inseguro. Quando fui para os treinos oficiais, vi que não ficaria bem. Mas queria pelo menos largar”, contextualiza Guto. “Fui para a largada de sábado e quando olhei para o gate (portão) de largada e todos os pilotos, não acreditava que estava ali novamente. Veio a emoção, o choro e a gratidão. Não conseguia falar.”

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Mesmo com todas as dificuldades, Guto largou a primeira bateria entre os cinco primeiros. “Cheguei na segunda posição e tive ânsia de vômito por três vezes. Tirei a mão para respirar forte e terminei a bateria no sufoco. Eu teria uma hora e meia de descanso para a próxima bateria, sem saber se iria me recuperar. Acabei indo melhor na largada seguinte, mantive o terceiro lugar até o final, e a ânsia de vômito veio só na última volta. Percebi que estava melhorando. No domingo, finalizaram os 45 melhores e eu pude, com muitas disputas, terminar em terceiro novamente. Na final fiquei com o bronze.”

“Agradeço a Deus pela vida”

A medalha recebida representou muito mais que um desempenho nas três baterias de prova. A representatividade do prêmio era muito maior. “A minha verdadeira vitória era estar ali. Eu agradeço a Deus pela vida. E essa corrida foi a mais emocionante da minha trajetória, estando de moto 2T (dois tempos) competindo com as 4T e com dúvidas das minhas condições físicas e psicológicas para tudo. Eu dedico esse desafio e as vitórias aos meus filhos (Gustavo e Guilherme), a mãe deles, meus familiares, amigos e a todas as pessoas que, de alguma forma, participaram e me motivaram a batalhar e não desistir.”

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Guto, aliás, vive desafios 24 horas por dia. “Nossas vidas são uma competição, e a minha é assim dentro e fora das pistas. Como pode ver tudo que já passei, tentei superar, não cheguei nesse topo fácil. Tive uma infância de muitas disputas e poucas instituições em educação; uma adolescência e juventude julgadas e condenadas com péssimas companhias e exemplos. Eu não tinha recursos. Mas Deus me fez respirar outros caminhos e batalhar algo que fosse bom e valesse a pena. Eu erro, eu errei, mas procuro acertar sempre e dar incentivos a todos num melhor caminho. Todos nós temos muitas adversidades. Eu sou orgulhoso, invejoso, egoísta. Só com amor e fé em Deus você pode entender e continuar sua batalha.”

Esforços na nova geração do motocross

O filho de Guto, Guilherme, e o enteado, Gustavo, absorvem, há anos, os ensinamentos também sobre o esporte de duas rodas. Guto, aliás, foi ao pódio do Mundial de Veteranos após competir com a moto da dupla. No entanto, sua participação em competições deve ser menos frequente. O foco, quando o lado financeiro permitir, será na dupla de jovens.

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“Eu não tenho escolha em relação a continuar ou não nas competições, faço tudo de acordo com o tempo e as oportunidades do momento. Não ia correr esse World Vet, mas meu amigo Marlon Olsen, campeão do Brasil, de Curitiba, me convidou e disse que ajudaria nas despesas. Aí aceitei o desafio”, relata Guto, antes de falar sobre os ‘filhos’. “Eles fazem motocross, treinam todo mês, mas não estão competindo. Porque tem os custos e não possuímos apoio financeiro, patrocínio. Eles gostam muito e gostariam de competir, têm um bom nível técnico. E com oportunidades, iriam para as cabeças da geração deles, com certeza. Ainda sonho em aparecer uma oportunidade para eles. Eu tenho uma escola de motocross há tempos e sei das habilidades e facilidade dos atletas. O que precisamos é de um investidor para a gente fazer a diferença e mostrar onde pode chegar”, garante o piloto.

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