As mesas e carteiras da Escola Municipal União da Betânia, no Bairro Granjas Bethânia, região Nordeste de Juiz de Fora, dão lugar, após as aulas, ao tatame, ippons e disciplina aliada à diversão na reunião de jovens judocas de projetos da comunidade. Entre os dias 24 e 26 de novembro, quatro atletas do projeto terão uma experiência inédita ao disputar a 17ª edição do Campeonato Brasileiro das Ligas de Judô na Arena Pernambuco, em Recife (PE), evento promovido pela Liga Pernambucana de Judô em parceria com a Liga Nacional de Judô.
Sob comando de Gileanes de Paula, o mestre Gil, 39 anos, há sete na Escola e no bairro desde 1998 com o Projeto Sensei, gratuito, os talentosos Mateus Vieira, 8 anos, Wesley dos Santos, 14, Gabriel Amaral, 14, e Washington Luiz, 15, já acumulam títulos conquistados em território mineiro. A luta de Gil e da Escola União da Betânia, agora, é captar recursos para a viagem.
“A participação veio por um ranqueamento que conseguimos em um ano, em que os meninos foram aumentando suas pontuações e se classificaram. O torneio também irá formar a Seleção Nacional. Classificamos cinco para a competição, mas um não poderá ir, em função de trabalho. A escola vai tentar custear, e temos feito algumas ações para tentar dividir esse valor. Fizemos um torneio no último mês para angariar fundos. Temos o valor da alimentação mas, para as passagens, com gasto médio, para quatro atletas, daria cerca de R$ 1.800. O planejamento era ter as passagens já compradas, dando tranquilidade aos meninos. Por enquanto não deu, mas vamos conseguir”, acredita Gil.
O caçula Mateus irá acompanhado da família. A mãe, Raphaela Nathiele, é apoio certo em cada nova experiência no tatame. “Vou junto, sempre acompanho ele em todas as disputas. O coração fica na mão! É muito gratificante. A cada campeonato, ele traz uma medalha. É sensacional, e a gente já vai pensando no futuro dele, de quando crescer quem sabe representar o Brasil”, conta, ao lado do filho já repleto de medalhas.
Além do sucesso com o quimono, o quarteto compartilha a paixão pela arte marcial, destacada em poucas e tímidas palavras. Mateus e Gabriel afirmam que o judô é a vida da dupla. “Pretendo ser campeão olímpico”, revela Gabriel, otimista. Este também é o sonho de Washington, que não vê a hora de entrar em ação e seguir em harmonia com o esporte. “Eu era muito agitado quando criança, e meu pai decidiu me colocar para fazer uma luta. E assim começou. Me faz sentir muito calmo quando estou lutando, me dá uma paz. E no Brasileiro espero trazer medalha para nós aqui.”
Vínculo, autoconhecimento e disciplina
Diretora da EM União da Betânia, Fabiana de Paula Volpato é incentivadora do projeto que atende entre 50 e 60 alunos. “Os benefícios são vários. Primeiro na autoestima, porque os meninos do bairro precisam disso, e esse esporte é uma forma de vivenciarem grande conhecimento pessoal e a disciplina que o judô exige. Não é só ganhar, mas sim formar um cidadão. E eles treinam às vezes três horas em um dia, participam de vários campeonatos e acabam conhecendo novas possibilidades pelo esporte, que abre o campo de visão deles, limitado no bairro”, motiva.
Soma-se isto ao vínculo criado entre todos os integrantes da iniciativa, além da confiança. Exemplo disso é o jovem Wesley, que já vislumbra o topo do pódio nacional em discurso de personalidade. “Já viajei para outros lugares, mas essa é a mais longe. Não estou nervoso, mas consciente porque venho treinando bastante para o primeiro lugar do Brasileiro. Quero fazer o campeonato mais justo possível”, relata. Questionado sobre o ambiente, ele não titubeia. “Minha relação com o Gil é bastante bacana e somos amigos fora do judô, assim como tenho muitos amigos aqui. Com eles não é amizade só dentro do judô, mas fora também.”