Em pleito realizado no último sábado (7), na sede social do Tupi, a chapa única “Tupi para todos” venceu a eleição do Conselho Deliberativo para comandar o clube no triênio 2024-2026, com 88 votos dos 115 sócios aptos a votar. No próximo dia 30, o Conselho se reúne para definir o nome do mandatário. O atual presidente carijó, Eloísio Pereira de Siqueira, o “Tiquinho”, aparece como o principal nome e deve continuar no posto.
Nessa toada, a Tribuna entrevistou Tiquinho após a eleição do Conselho. O presidente falou sobre questões como a penhora do Estádio Salles Oliveira – que tem leilão marcado para o dia 1° de dezembro por causa de dívidas com atletas – e a possível transformação do Tupi em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Tiquinho enfatizou que o campo não vai a leilão e afirmou que conversas estão avançadas para a SAF em 2025, apesar de não garantir que o time dispute o Módulo II do Campeonato Mineiro em 2024. Leia a entrevista completa a seguir.
Tribuna: Tiquinho, qual a avaliação do seu mandato? Você entra em outubro de 2021, após a licença do ex-presidente Juninho, e fica até o final de 2023. Acha que foram bons anos à frente do clube?
Tiquinho: Na realidade, nem tempo eu tive. Foi tudo muito tumultuado e árduo. Tinham vários incêndios e tentei apagar cada um. Mas colocamos os funcionários em dia, fizemos uma pequena reforma na sede. Cheguei aqui sem dinheiro nenhum, até conta de luz tinha (pendente). Não tem receita a não ser os aluguéis que estão penhorados. Nos unimos para poder levantar o Tupi e vamos conseguir passo a passo. O Tupi estava jogado, ninguém tinha prazer de vir ao clube. Agora, é bem frequentado, o quadro social aumentou muito. Eram 45 sócios em dia, agora são 115. Não provoquei dívida nenhuma enquanto estive no Tupi, todas são antigas. Só tenho cinco jogadores que levaram ao Ministério do Trabalho, e vou pagar. Começamos a trabalhar em setembro (em 2022) e treinar em fevereiro. O elenco não sobressaiu, mas as condições que dei, acho que poucas vezes o Tupi teve.
– Mas não tem nada que você ache que daria para ter feito melhor?
Sempre tem algo para fazer de diferente. O primeiro ano foi de apanhar, o segundo de aprender e o terceiro de errar pouco. O salário de funcionário atrasava cinco meses e a sede estava jogada a traça, e agora não tem isso mais.
– O Salles Oliveira está sendo penhorado por conta de dívidas com atletas, e, inclusive, tem leilão marcado. O que você pretende fazer para não perder o campo e para conseguir pagar os jogadores?
Eu tenho que resolver a questão do Salles. Não vai para leilão, isso é certo. O patrimônio vale de cerca de 15 milhões e não vamos deixar esse patrimônio ir à execução por 150 mil reais (o valor que o Tupi deve a atletas). Quem tem o contrato e é responsável pelas dívidas é a empresa Rezende Roriz, esperamos que eles cumpram, nós estamos pressionando. Posso dizer que vou resolver esse problema, não importa como, porque se não, não posso estar à frente desse clube centenário. Afirmo que o Tupi não vai a leilão e vamos tentar negociar com o advogado que está responsável pelas dívidas dos atletas.
– Quais são os planos para seu mandato? O Tupi vai jogar o Módulo II do Campeonato Mineiro em 2024?
O Tupi não tem dinheiro, não existe patrocínio. Não posso garantir a participação. Mas, em dois anos de futebol, não devo a praticamente ninguém. Fiquei aborrecido da forma que cinco jogadores (os quais jogaram no Tupi nesse ano) levaram o clube ao Ministério do Trabalho. Não aguardaram um mês para receber o último salário. Mas, em novembro, devo definir se o Tupi vai jogar. Se for, iremos buscar treinadores e jogadores.
– Caso o Tupi jogue o Módulo II em 2024, o técnico seria o Wesley Assis, que está no Villa Real e comandou o Carijó em parte do ano passado?
Não posso afirmar quem seria, mas tenho o Wesley como um bom treinador, é um nome. Para isso tudo, já temos um planejamento. Mas precisamos levantar recursos. Por isso, do futebol, prefiro não falar muito.
– O Tupi iniciou o processo para se transformar em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no dia 29 de junho, quando os conselheiros aprovaram a busca por investidores e o início do processo de mudança do estatuto. É a intenção dar continuidade a esse processo?
Já estou em contato com um pessoal para transformar o Tupi em SAF, estamos em conversas avançadas para 2025, só que prefiro não dizer mais, porque não é tão fácil. Tem que fazer uma assembleia, uma reforma estatutária. Precisa ser algo certo, que seja bom para o investidor e para o Tupi.
– O que fazer para que a torcida volte a apoiar o Tupi?
A gente só consegue trazer torcida com time bom, Botafogo é um exemplo disso. As pessoas só voltam com a paixão fazendo um time vitorioso, aí o povo reage. Por isso a ideia da SAF.
– Quando chegar o último dia do seu mandato, o que você quer ter feito? Como quer ser conhecido?
Quero deixar dignidade, honra e meu caráter, que tudo foi feito certo. Prefiro trabalhar passo a passo e deixar as coisas acontecerem. Se você chegar perto dos funcionários e dos sócios, vai ver como é minha imagem. Fico muito satisfeito disso, procuro lutar. Eles querem que eu continue. Cansa muito, mas, por enquanto, eu tenho que continuar à frente para dar sequência ao trabalho. Só eu sei como foi. O clube vem de 20 anos de gestão ruim, e hoje a gente enxerga que está sendo feito um bom trabalho. Todo dia aqui é matar um leão para deixar o clube em pé.
– Se tiver mais algo que você queira falar, fique à vontade.
Muitas pessoas enxergam o Tupi de outra forma. Que o clube tem dinheiro, que é fácil fazer time. Queria que sentasse aqui e fizesse isso. É difícil, não consegue. Não foi eu que difamei o nome do Tupi, já paguei conta de gelo de 2016. Todas as dívidas são anteriores ao meu mandato, a com o Ademilson (jogador), por exemplo. Devo a alguns atletas e R$ 14 mil para o Tinoco, converso com ele e vou pagar, assim como fui pagando os jogadores. Assumo de novo com a alegria de que vou lutar para o Tupi renascer. Com fé em Deus, isso vai acontecer.