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Formado em JF, fisioterapeuta vive bolha do US Open ao auxiliar tenista

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Parte da estrutura montada na bolha foi registrada por Fábio (Fotos: Arquivo pessoal)

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Nascido no Rio de Janeiro, de origem humilde, Fábio Oliveira seguramente não imaginaria, ao chegar em Juiz de Fora ainda na adolescência sem a família, que desembarcaria depois no município, onde permanece no Bairro São Mateus, que, mais de 20 anos depois, ele viveria uma experiência inédita no mundo em uma das principais competições esportivas do planeta.

De vitorioso atleta de taekwondo com passagem, por exemplo, pela seleção brasileira universitária, o profissional de base fixada em Juiz de Fora, hoje aos 40 anos e formado em Fisioterapia pela Unipac, fez parte da equipe do tenista profissional Radu Albot, número 75 do ranking da ATP (Associação de Tenistas Profissionais, a principal da modalidade), na disputa do US Open. Não fosse o bastante a experiência de participar de um Grand Slam em uma das mais antigas competições existentes, este ainda foi o segundo torneio realizado após a pausa pela pandemia do coronavírus, com todos os envolvidos isolados em uma bolha sanitária criada na cidade de Nova York para reduzir ao máximo o risco de contaminações pelo coronavírus.

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“As regras eram muito interessantes. Tínhamos medo da contaminação massiva, mas acabava por ser um desafio e todos que passaram pela bolha entraram para a história. Uma bolha de cinco semanas, a primeira delas para o ATP de Cincinnati e as outras quatro para o US Open. Foi interessante, uma estrutura muito bem construída, só que com falhas, claro. Mas me senti bem seguro e não baixei a guarda em momento algum”, conta Fábio à Tribuna.

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O ineditismo já começou em sua profissão antes mesmo da ida para a estrutura montada em prol do isolamento. “Passei toda a pandemia, até a competição, planejando o que seria feito para o US Open, com a preparação física por meio de exercícios preventivos. E ele (Albot) chegou muito bem, sem mazelas”, relata Fábio, ainda contextualizando. “Meu trabalho como fisioterapeuta de um tenista é baseado em três pilares: a prevenção, a recuperação otimizada e a reabilitação. São trabalhos diários com várias técnicas para preparar o corpo do atleta para as demandas do que ele vai fazer em quadra. Nesse período que vivemos, esse trabalho preventivo foi feito à distância.”

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Tenista Radu Albot em trabalho sob orientação de Fábio Oliveira (Foto: Arquivo pessoal)

A disciplinada rotina na bolha

Fábio esmiuçou sua experiência de três semanas e meia na recém-criada bolha sanitária, a partir dos testes para Covid-19, regulares e realizados desde antes da entrada. “Fizemos primeiro no hotel, assim que chegamos não podíamos encontrar com ninguém. Você faz um teste e é direcionado ao quarto. Fica 24 horas só até o resultado. Se for negativo, busca sua credencial; se der positivo, passa por quarentena de dez a 14 dias”, conta.

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A partir do primeiro resultado negativo para o vírus, Fábio, toda a equipe e o tenista moldavo, que já chegou a ocupar o número 36 do ranking da ATP, mas acabou eliminado cedo no US Open, eram testados de quatro em quatro dias, além de serem obrigados a usar máscara e credencial fora dos respectivos quartos. “É um método legal, deu pra controlar bem, mas não garante 100% de eficiência porque se você é contaminado um dia após o teste, fica três até um novo.” A pontuação de Fábio se justifica, além da preocupação para com a saúde geral, pela responsabilidade do fisioterapeuta em não prejudicar seu atleta. “Na questão competitiva, o staff não podia se contaminar porque desclassificaria o atleta também.”

Os resultados, no entanto, foram importantes no primeiro teste da bolha. “Levaram todos 14 dias antes do US Open para dar tempo do contaminado participar da competição ainda. Ainda bem que só duas pessoas testaram positivo. Já esperávamos casos lá, mas graças a Deus foram poucos.”

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Rastreamento, comida e voluntários

Um ponto elogiado por Fábio foi a possibilidade de os organizadores saberem quem esteve perto de pessoas contaminadas, se necessário. “Na nossa credencial tinha uma espécie de chip com tecnologia de radiofrequência. Era possível monitorar onde a pessoa esteve no horário que fosse necessário”, destaca. “E não deixávamos o hotel para nada, a não ser rumo ao Centro de Tênis, mas não podíamos sair do Corona Park (sede do US Open). Lá dava pra andar bastante, com distanciamento, que era um pouco desrespeitado.”

Em toda a estrutura ainda haviam locais para a desinfecção das mãos. No entanto, um ponto chamou a atenção de forma negativa. “Uma das falhas da bolha é que as pessoas podiam pedir comida de estabelecimentos na parte externa da bolha. Mesmo sem o acesso direto ao entregador, é um material que vem de fora e pode conter o vírus”, reitera. “Outro ponto é que achei que os voluntários, locais, dormiriam no hotel. Mas iam pra casa e quando voltavam apenas faziam aferição da temperatura, um risco enorme na minha opinião”, alerta.

 Do taekwondo para o mundo

A trajetória de Fábio no esporte começou na arte marcial, base que lhe foi fundamental no crescimento como fisioterapeuta. “Eu era atleta de taekwondo, no Fernando Taekwondo Clube. Tentei vaga para a Olimpíada, tive um bom desempenho a nível nacional, era da seleção brasileira universitária e, por conta disso, consegui uma bolsa integral na Unipac”, recorda, com vasta gratidão.

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“O esporte mudou a minha vida. Não fosse por isso, acho que não teria conseguido seguir na carreira acadêmica. Não tinha uma grande perspectiva de vida. Mas as diversas participações em competições me possibilitaram viajar, conhecer outras culturas e idiomas. Vi que era possível seguir uma carreira acadêmica e continuar evoluindo”, explica Fábio.

O então atleta-estudante se formou e começou um estágio no Vasco. A ausência de comodismo, tomada pela vontade em evoluir, o fez crescer dia após dia, experiência por experiência. “Quis sair do Vasco para buscar um diferencial. Todos os outros estagiários de lá tinham alguma pessoa pra indicar e eu não. Então iniciei um mestrado na Alemanha, fiquei um ano me preparando lá, e nesse período, fui contatado pelo treinador da seleção portuguesa de taekwondo para tentar a vaga olímpica por eles. Mas não deu certo, eles tinham muitos problemas internos. Mas terminei o mestrado na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física”, conta.

Na caminhada, durante um curso de especialização em fisioterapia esportiva de elite, Fábio conheceu um ex-fisioterapeuta da ATP, que o elogiou e disse que poderia auxiliá-lo a entrar no circuito. Mas Fábio não esperou pelo chamado. “Fui buscar meu espaço. Tentava sempre algo nos torneios, mas diziam que eu não tinha experiência. Aí em um circuito da ITF (Federação Internacional de Tênis) pela Europa, comecei um trabalho voluntário e, em pouco tempo, já estava em torneios grandes, como nos Jogos Europeus Universitários, o Europeu Sub-18, com vários atletas importantes como o (Alexander) Zverev (tenista alemão atualmente nº 7 da ATP).

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Tupi e Vôlei UFJF

Em 2013, Fábio voltou para Juiz de Fora. Vieram, então, duas oportunidades em importantes equipes da cidade. “Trabalho na Dynamo (academia) sempre que volto. Fiquei um ano e meio lá, e trabalhei também com o Téo Lopes (fisioterapeuta) no Tupi. Mas nesse meio tempo tive a oportunidade de ir para o JF Vôlei, o então Vôlei UFJF.”

Após uma temporada na equipe de voleibol local, em meio às conversas de renovação, Fábio recebeu uma oferta de doutorado no Canadá. “Conclui o doutorado em 2018, depois dois ‘pós-doc’, e estou partindo para o terceiro. Atualmente trabalho em um centro de pesquisa da Universidade Laval, onde fiz o doutorado”, explica Fábio.

Após um período fora do circuito de tênis, veio a proposta para o US Open. Assim como sempre ocorreu na vida de Fábio, as portas sempre estariam abertas, com máscara ou não, para o conhecimento e a história. “Achei bem legal a oportunidade, muito diferente da normalidade. E um torneio de tênis já é muito bom, mas um Grand Slam é fenomenal.”

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