“Quando meu pai chega em Kobe, é uma loucura, todo mundo admira e pede para tirar foto”. É essa lembrança que Jonathas Botti, de 20 anos, filho de Raphael Botti, 43, tem de mais memorável na sua cabeça. Raphael, juiz-forano, é o maior ídolo da história de um dos grandes clubes do Japão, o Vissel Kobe, e foi companheiro de Bebeto e Romário no Vasco. Desde 2017, quando se aposentou, ele retornou à sua cidade natal para passar mais tempo com sua família, a qual conta, também, com a esposa, Lívia, e a filha, Raphaela, de 6 anos.
Nesse 11 de agosto, em que se comemora o Dia dos Pais, a Tribuna relembra a trajetória de Raphael e mostra o seu pós-carreira em Juiz de Fora, regado de amor à família, com o apoio intenso ao filho Jonathas, além de um novo trabalho e diversão com os amigos. Ele também fala sobre o atual momento do futebol brasileiro, especialmente sobre o Vasco, clube em que iniciou a carreira.
Do Vasco ao Japão
Raphael começou sua carreira com muita responsabilidade. Aos 13 anos, após se destacar no Clube Bom Pastor, ele foi para o Vasco e fez toda sua base lá. Se profissionalizou e teve a missão de dividir o gramado com Bebeto e Romário, campeões do mundo e ídolos do clube.
“O Sérgio Moraes, junto com o pai, Eros, estavam começando a escolinha no Bom Pastor quando entrei. Ele foi um grande incentivador, esteve comigo o tempo todo e sou muito grato por isso”, agradece. Já no Vasco, em 2001, Raphael conta que estar com a dupla do Tetra era uma relação de aluno e professor. “Eu concentrava no mesmo quarto que o Bebeto. Ter a oportunidade de estar ao lado dele no hotel e ouvir as histórias dele foi incrível. Observá-los nos treinamentos era uma escola, são jogadores consagrados mundialmente e com uma qualidade técnica absurda”.
No ano seguinte, com 21 anos, Botti recebeu a oferta do Jeonbuk Hyundai, da Coreia do Sul. Em cinco anos na agremiação, foi campeão quatro vezes. “Ganhei a Champions da Ásia, título máximo do continente. Joguei o Mundial de Clubes de 2006, em que o Inter venceu o Barcelona”. Na oportunidade, o time espanhol contava com jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Lionel Messi.
Já em 2007, o meio-campista acertou sua transferência para o Vissel Kobe, atual campeão da Liga Japonesa. Lá, ficou por cinco anos e foi eleito o melhor jogador estrangeiro da história do clube e o que mais vestiu a camisa. No clube, seu apelido era “Coração de Kobe”.
“É do japonês ter muito carinho por quem jogou lá, independente se a pessoa teve sucesso ou não. Como joguei por muito tempo e tive história e identificação, o pessoal estendia faixa, cantava música. É um time com uma história muito bonita. O dia da fundação estava marcado e aconteceu o terremoto que acabou com a cidade. O time foi instrumento para dar alegria ao povo após aquilo. O hino é sobre tudo que eles passaram e superaram”, detalha.
Após cinco anos que deixou o Vissel, o jogador foi chamado para retornar e fazer uma série de reportagens para a enciclopédia do clube. “A preparação que fizeram para me receber e o movimento da cidade me marcaram bastante. Quando você está no auge, é meio que normal as pessoas te considerarem. Anos após, depois de já ter feito o que era preciso, ser recebido daquela forma me contagiou”, recorda.
Em 2012, Raphael retornou ao Brasil para jogar no Figueirense, até o ano seguinte. De 2013 a 2016 atuou pelo Army United, da Tailândia, último clube da carreira. “Depois me aposentei e quis ficar próximo à família. Sai de Juiz de Fora com 13 anos, e agora me estabilizei aqui de novo”.
“Meu pai é nota 11”
Com toda essa trajetória, Raphael é referência máxima para o filho Jonathas. “Tenho muito orgulho por tudo que ele representa, pelo que passou. Sei como é a pessoa, um ótimo ser humano, verdadeiro, nota 11. Me ensina muita coisa até hoje. Sou feliz demais por ter ele como pai”, diz.
Referenciado dentro de casa, o filho seguiu o caminho de Raphael no futebol, atuando em clubes de base do México e Portugal. Agora, com o pai atuando como empresário, Jonathas quer seguir ao lado. “Além de estar no trabalho dele hoje, continuo no meio do esporte, trabalho e jogo no ‘Fitmesa’, vou jogar o brasileiro de foot table”, acrescenta o jovem.
Como não poderia ser diferente, o que pai e filho mais gostam de fazer juntos é praticar futebol. “Jogo todo sábado uma pelada de um amigo, o Valério, no Ribeirão do Mata. É muito bom ter a oportunidade de jogar com o Jonathas, em Juiz de Fora, onde me sinto bem e feliz. Pego no pé um pouquinho, mas vejo nele, eu em campo”, vibra Raphael. O filho brinca e diz que o pai é “chato” jogando. “Ele me cobra bastante, fala na minha cabeça para fazer sempre o melhor. Também gostamos muito de fazer churrasco juntos”.
Coração vascaíno e diferenças do futebol de hoje
Desde que saiu do Vasco, seja em qual país estivesse, Raphael conta que sempre acompanhou seu time de coração. “Vivi a época áurea, um dos melhores momentos do clube. Quando fui embora, teve a transição para esses problemas que duram até hoje. Mas estou com esperança, o Pedrinho (presidente) é um amigo, joguei com ele. Está fazendo um trabalho sério, procurando o bem do clube, colocando o Vasco em primeiro lugar, isso é essencial. Torço para que dê certo e o clube volte para onde merece.
Questionado sobre as diferenças que vê no futebol brasileiro nos dias atuais, o juiz-forano atenta para o físico dos jogadores. “Quando voltei para o Brasil já tinha uma diferença, e hoje está ainda maior. A parte física sobressai à parte técnica. Às vezes, um jogador muito superior com a bola não consegue jogar pelo nível corporal de outros jogadores”.
Para os futuros jogadores, que sonham em trilhar um caminho parecido, Botti recomenda dedicação e foco. “O conselho é viver aquilo mesmo, se dedicar, com muita intensidade, para alcançar os objetivos”, conclui.