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Escritora juiz-forana lança livro sobre tragédia do Ninho do Urubu

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Capa do livro “Longe do Ninho”, da escritora Daniela Arbex (Foto: Reprodução)
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A premiada jornalista juiz-forana Daniela Arbex lançou, na última segunda-feira (5), o livro “Longe do Ninho”, pela editora Intrínseca. A obra retrata a tragédia que aconteceu na fatídica madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019 no chamado Ninho do Urubu, quando dez adolescentes, entre 14 e 16 anos, das categorias de base do Flamengo, foram vitimados no incêndio que atingiu o centro de treinamentos do clube carioca no Rio de Janeiro.

Daniela Arbex lançou seu sexto livro-reportagem (Foto: Leo Aversa)

Daniela possui diversas obras que buscam elucidar capítulos da história brasileira, como “Holocausto brasileiro”, livro-reportagem sobre o Hospital Colônia de Barbacena lançado em 2013, e “Todo dia a mesma noite”, obra sobre a tragédia da boate Kiss, lançada em 2018. Segundo a autora, essa foi a motivação para escrever e investigar os acontecimentos na tragédia do Ninho do Urubu. “Um dos principais objetivos do meu trabalho é lançar a luz sobre temas sensíveis. E o Longe do Ninho é uma declaração de amor de dez pais para seus filhos, mas é também uma recusa ao esquecimento”, conta Arbex.

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Para escrever o livro e reconstituir os acontecimentos do dia 8 de fevereiro de 2019, Daniela reuniu laudos técnicos, trocas de mensagens e e-mails, dados e relatos até então não divulgados, além de entrevistas feitas com todas as famílias dos dez jovens, sobreviventes, profissionais da perícia criminal e do IML. A obtenção desta vasta quantidade de materiais foi a principal dificuldade para produzir a obra, conforme afirma Daniela.

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“Eu acho que a dificuldade no trabalho de apuração foi a reconstituição do incêndio, do que aconteceu. A gente precisou fazer dezenas de entrevistas e unir muitos documentos para que a gente pudesse entender exatamente o que aconteceu em cada quarto, naquela madrugada trágica, e trazer tantas revelações inéditas do livro, inclusive contestando a versão oficial do Flamengo de que os meninos morreram dormindo. O livro mostra que eles não morreram dormindo, como o Flamengo sempre defendeu, sempre divulgou e mostra toda a trajetória de fuga dos atletas”, relata a autora.

Legado da obra

Uma das missões mais importantes da obra é registrar os fatos para que eles não se repitam mais, conta Daniela. “Esquecer é negar a história, e quando a gente esquece, a gente repete os erros do passado que nos fizeram chegar até aqui, cinco anos depois, sem nenhuma responsabilização. Eu costumo dizer que quando uma história não é contada, é como se ela não tivesse existido”, diz.

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Passados cinco anos da tragédia, ninguém foi responsabilizado pela justiça pela morte dos dez adolescentes até o momento. Daniela entende que seu livro poderá desempenhar papel importante contra a impunidade neste caso. “A construção da memória coletiva do Brasil é um caminho potente para a busca da justiça. Eu acho que nesse sentido, Longe do Ninho veio para mostrar todas as irregularidades que culminaram no 8 de fevereiro de 2019, mas principalmente para confirmar que foi uma tragédia anunciada”, afirma.

Tragédia do Ninho do Urubu

Na madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019, um contêiner que servia de alojamento para os jogadores das categorias de base do Flamengo pegou fogo e levou a morte de dez jovens, com idades de 14 a 16 anos. São eles: Christian Esmério, 15 anos; Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 14 anos; Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos; Bernardo Pisetta, 15 anos; Vitor Isaias, 15 anos; Samuel Thomas Rosa, 15 anos; Athila Paixão, 14 anos; Jorge Eduardo, 15 anos; Gedson Santos, 14 anos; e Rykelmo Viana, 16 anos. Outros 16 adolescentes conseguiram sobreviver à tragédia.

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De acordo com perícia da Polícia Civil, o incêndio foi causado por um defeito no ar-condicionado e pelo material inflamável das paredes dos contêineres, local onde os adolescentes ficavam alojados. Em janeiro de 2021, o Ministério Público indiciou 11 pessoas por incêndio culposo qualificado que terminou em mortes, além de lesão corporal de três dos sobreviventes. O caso ainda aguarda resolução.

Os indiciados são: Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo; Márcio Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo; Carlos Noval, ex-diretor da base do Flamengo, atual gerente de transição do clube; Luis Felipe Pondé e Marcelo Sá, engenheiros do Flamengo; Marcus Vinicius Medeiros, monitor do Flamengo; Claudia Pereira Rodrigues, Weslley Gimenes, Danilo da Silva Duarte e Fabio Hilário da Silva, da NHJ, empresa que forneceu os contêineres; Edson Colman da Silva, técnico em refrigeração.

*Estagiário sob a supervisão do editor Gabriel Silva

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