A dupla Miguel Romeiro e Vinycius Gabriel percorreu mais de 1.450 quilômetros para morar em uma cidade desconhecida e ir em busca dos seus sonhos. Nascidos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, os jovens, ambos com 17 anos, tomaram a corajosa decisão de se mudarem para Juiz de Fora, com a expectativa de terem mais oportunidades no esporte que amam: a natação. Ambos os garotos fecharam acordo com Fábio Antunes, treinador do Praia Clube, de Uberlândia, para representar a equipe, uma das mais tradicionais de Minas Gerais, nas competições desta temporada. O treinamento, entretanto, ocorre em Juiz de Fora.
Além dos treinos na piscina de segunda a sábado, realizados na Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a dupla conseguiu bolsa integral para estudar direito no UniAcademia. Eles chegaram em Juiz de Fora na semana passada e estão morando juntos no Bairro São Pedro, Cidade Alta. Os treinos já começaram, assim como as aulas na faculdade, de forma virtual no momento. Neste sábado e domingo, eles disputam a primeira competição com as cores preto e amarelo, o Campeonato Brasileiro sub-20, na cidade São Paulo.
Oportunidade para melhorar resultados
O jovem Vinycius, que nada pela classe S9 – destinada ao atletas amputados de uma mão – conheceu o novo treinador nos Jogos Escolares, quando ainda representava a equipe Submersos-MS. Seu pai era apaixonado pelo trabalho de Fábio, mas foi o próprio garoto que entrou em contato. “Fomos conversando, e depois de um tempo, ele me fez o convite para vir até Juiz de Fora e nadar representando o Praia Clube. Não pensei duas vezes e logo aceitei, pois é uma oportunidade para eu estourar, o time é um dos melhores do Brasil na natação”, explica.
“Estou morando com o Miguel, e é uma loucura. Vim de um lugar onde tinha apoio da mãe, pai, avó. Já agora, é responsabilidade todo o tempo. Tenho que fazer seu almoço, jantar, resolver meus problemas. Juiz de Fora é totalmente diferente de onde eu vim. Principalmente os morros, no Mato Grosso do Sul é totalmente plano. Mas estou gostando muito da cidade, achei a vista super bonita”, opina.
Já Miguel, também ex-Submersos e representante da classe S6 – para os nadadores com um braço e uma perna amputados em lados opostos, ou paralisação em braço e em uma perna no mesmo lado do corpo – foi apresentado para Fábio pelo pai de um colega. “Fiquei com dúvida de aceitar e deixar meus pais, nunca fiquei sem minha mãe do meu lado. Mas depois de um tempo aceitei porque pensei que seria melhor me desenvolver na natação. Achei Juiz de Fora linda, estou adorando”, declara.
A decisão de trazer os garotos para Juiz de Fora, conta o treinador Fábio Antunes, veio a partir de bons resultados nas Paralimpiadas Escolares. “Miguel tem índice para disputar as próximas competições nacionais, e Vinycius está perto de alcançar o Brasileiro. Eles são atletas focados e buscam sempre treinar melhor. É extremamente gratificante ter atletas assim em nosso programa. A atitude de sair do Mato Grosso do Sul e vir para Juiz de Fora mostra que a oportunidade que oferecemos para eles vão render ótimos resultados, tanto na vida pessoal quanto profissional”, acredita Fábio, também técnico do medalhista paralímpico Gabrielzinho.
Além dos treinos na piscina de segunda a sábado, a dupla pratica, duas vezes na semana, musculação e potência física. “As atividades são pesadas. Eu não estava acostumado, nadava só aos sábados. O Fábio mesmo me diz que se eu consegui bons resultados treinando só uma vez na semana, imagina todos os dias. Vim de Mato Grosso do Sul e quero mostrar que qualquer um consegue o que deseja”, busca Vinycius. Já Miguel, afirma que seu foco ao longo do ano é “pegar índices brasileiro, nacional e internacional”.