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Multimedalhista Gabriel Geraldo volta do Parapan e planeja futuro com Tóquio 2020

esp Gabriel natação foto Olavo Prazeres
Gabriel Geraldo terá como principal objetivo a obtenção de vaga em Tóquio 2020 (Foto: Olavo Prazeres)
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Alegria. Esse é um sentimento que transparece em Gabriel Geraldo Araújo de modo tão cristalino quanto o brilho das cinco medalhas que o atleta conquistou nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, no último mês de agosto. Recém-chegado da competição, a jovem estrela mineira teve o primeiro contato com a imprensa juiz-forana na manhã desta terça-feira (10), em coletiva ao lado do presidente do Clube Bom Pastor, Carlos Augusto Bandeira Moraes (Catgut), o treinador Fábio Antunes e o Diretor de Esportes Aquáticos da agremiação, Paulo Sérgio Costa (Paulinho).

Após desfilar em carro aberto do Corpo de Bombeiros por duas horas pelo centro de Juiz de Fora nesta segunda (9), Gabriel, de apenas 17 anos, falou sobre a experiência longe da mãe e do treinador, companheiros até então inseparáveis do prodígio. “Foi uma viagem diferente, minha primeira vez fora do país. Mais diferente ainda porque eu não tinha o Fábio e nem a minha mãe, como de costume”, explica o atleta.

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A adaptação ao cenário incomum, no entanto, foi rápida, e a distância da família e do treinador, que tiveram que sofrer acompanhando as competições pela televisão, foi quase a mesma distância que Gabriel reservou para deixar os adversários para trás. Resultado: dois ouros, nos 50m (57s87) e nos 100m livre (2min04s60), batendo o recorde brasileiro nas duas provas; uma prata nos 200m livre (4min45s96) e duas medalhas de bronze, nos 50m costas (1in13s59) e 50m borboleta (1min01s65). O bronze no nado borboleta veio junto com o recorde mundial na sua divisão paralímpica, mas não valeu o ouro para o nadador por se tratar de uma prova multiclasse.

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“Parecia que ele estava em casa. Sempre feliz, com facilidade de se adaptar a uma situação adversa. Tem 17 anos que ele faz isso, ele tem que se adaptar a cada dia”, analisa o treinador Fábio Antunes, complementado pela mãe de Gabriel, Eneida Santos Araújo. “O Gabriel mostrou que está preparado psicologicamente. Ele conseguiu me provar que está pronto para o mundo, e é uma coisa que eu não havia percebido. Apesar de ele precisar de meu apoio para as necessidades fisiológicas, ele está com o cordão umbilical cortado, bem amadurecido”, afirma, orgulhosa.

Catgut, Gabriel, Fábio e Paulinho estiveram presentes na entrevista coletiva no Bom Pastor (Foto: Olavo Prazeres)

Tóquio 2020

A surpresa pela quantidade de medalhas conquistadas – a esperança era por três bronzes, segundo Antunes – ainda se tornou mais agradável pelas marcas conquistadas por Gabriel, com dois recordes nacionais e um mundial. O que torna ainda mais presente a inevitável pergunta: e os Jogos Paralímpicos de Tóquio? A principal competição esportiva mundial está no radar do atleta, mas ainda é cedo para planejar qual será a participação de Gabriel no Japão, uma vez que ainda não foram divulgados os índices necessários para as classificações. “Eles vão soltar uma tabela de tempos que os atletas deverão atingir, e podem colocar um período de validação de índice. Pode ser de novembro a março, por exemplo, e ele terá que conseguir (a marca) nesse período”, explica Fábio Antunes.

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A possível chegada a Tóquio será com uma bagagem expressiva após a experiência em Lima. Além de competir com atletas de ponta de diversos países das Américas, o aprendizado também se deu na convivência com astros brasileiros como Daniel Dias, detentor de 24 medalhas paralímpicas. “Eu estava ao lado de pessoas conhecidas, como o Daniel Dias, e foi muito emocionante para mim, trocando ideias e recebendo conselhos. Os atletas me passaram tranquilidade e me ajudaram bastante”.

Bom Pastor planeja expansão

Para a cúpula do Clube Bom Pastor, o feito da jovem estrela no Parapan é motivo de comemoração e também de projeções. Até o momento, os esportes adaptados careciam de apoio de patrocinadores e eram bancados pelos sócios do clube. Para ter participação ainda maior em competições nacionais e internacionais, porém, são necessários mais apoiadores. “Patrocínio, de fato, para o esporte paralímpico, nós não tivemos. Agora temos muitas conversas acontecendo, obviamente as conquistas do Gabriel atraíram muita gente e eu acredito que nós vamos fechar muitos patrocínios”, explica o presidente Carlos Moraes.

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Iniciada há dez anos com apenas dois atletas, a natação paralímpica conta atualmente com 18 integrantes no Clube Bom Pastor. Nem mesmo o atleta master Paulinho, que acompanha o projeto desde o princípio, sonhava em tamanho sucesso a curto prazo.

“O Gabriel veio coroar esse trabalho e colocar num patamar que a gente até não esperava tanto, mas aconteceu. E é nessa toada que vamos buscar objetivos maiores”, conta. “Um dia o Fábio (treinador) me ligou: ‘Está ligando um monte de gente querendo entrar para a equipe, como que a gente vai fazer agora?’, e eu respondi: ‘Põe para dentro e depois a gente vê o que faz'”, complementa Catgut. Agora, a ideia da direção é atrair ainda mais nadadores com uma possível expansão nos esportes aquáticos adaptados. Ao final da coletiva, questionado sobre o aprendizado tardio de quem não sabe nadar, Gabriel, como de costume, irradiou alegria. “Ah, nadar não é muito difícil, não”.

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