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Spartano vira febre e une a cidade de Rodeiro

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(Foto: Divulgação/ Spartano)
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“Não tem uma missa em que o padre não fala: ‘Lembrem o que eu pedi nos grupos: vamos para a missa de azul e amarelo’. Todo mundo foi com a camisa do Spartano. A gente voltou a ter voz ativa na comunidade. Tudo é possível para nós agora”, conta Marcella Teixeira, 34 anos, líder da organizada Guerreira Sparta, uma das duas do Spartano Futebol Clube, de Rodeiro, a cerca de 115km de Juiz de Fora. Embora tenha 95 anos, a agremiação rodeirense ausentou-se, por uma década, das pelejas do Campeonato Regional da Liga Atlética Ubaense – da qual foi campeã em 1993. Em 2018, o Estádio Adolfo Nicolato, na Avenida Raul Alves Ferreira, voltou a receber os rodeirenses; milhares, aliás. “A gente falava que, no domingo, antigamente, o rodeirense acordava cedo, ia na missa, almoçava com a família e, à tarde, ia para o campo ver o jogo do Spartano. A alegria da cidade foi resgatada”, fala Gabriel Contin, diretor de Comunicação e Marketing do Spartano.

Neste domingo (9), às 16h, a equipe recebe, no Adolfo Nicolato, o Portuense, de Astolfo Dutra, pelo segundo jogo da finalíssima da Liga Atlética Ubaense de 2018 em busca do bicampeonato. Como perdeu o primeiro jogo por 1 a 0, as chances de título dos spartanos passam pela vitória no tempo regulamentar e nas penalidades máximas. Os ingressos esgotaram-se em dois dias de venda. “Se você pergunta para um menino por qual time ele torce, ele não fala Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético. Ele fala Spartano. O Spartano está se apresentando às crianças com uma identidade”, diz Contin.

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Estádio lotado

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Desde setembro último, ocasião em que o Spartano regressou à Liga Atlética Ubaense, o Adolfo Nicolato recebe, semanalmente, entre 2.500 e 3 mil spartanos – a população de Rodeiro é estimada em 8 mil habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A união está linda. Famílias e antigas amizades, que estavam dispersas, uniram-se novamente. Isso está sendo bom, porque a cidade é muito pequenininha. Nos motivou de tal maneira que está todo mundo perto de todo mundo. Isso, por exemplo, melhorou o comércio e a relação das pessoas”, conta Marcella. Para além de reposicionar Rodeiro no cenário futebolístico regional, a ascensão do Spartano mobilizou a população local; as impressões são de rodeirenses e, também, ubaenses.

– “Os carros estão adesivados, as famílias estão indo para o estádio, as festas de aniversário têm foto do Spartano como decoração de bolo”, conta o torcedor Flávio Ribeiro (Foto: Arquivo pessoal)

“Como trabalho em Rodeiro, eu converso com todo mundo. Os carros estão adesivados, as famílias estão indo para o estádio, as festas de aniversário têm foto do Spartano como decoração de bolo, etc. É uma febre na cidade”, detalha Flavio Ribeiro, 36 anos, gestor de recursos humanos. Ribeiro segue a Liga Ubaense – conhecida, popularmente, como Liga Atlética Regional – “há mais ou menos cinco anos”; observa ele que “as pessoas se aproximaram. Na empresa onde trabalho, no horário do almoço o assunto é o Spartano; seja contratações, sócio-torcedor etc.” Embora desativado nos últimos anos, o Spartano é dos mais tradicionais clubes amadores do Regional, acumulando semifinais e finais; o único título, até o momento, foi em 1993, após vitória por 3 a 2 sobre o Aimorés.

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‘Era um amor adormecido’

“Sempre fui muito envolvida com o futebol e com o Spartano. E, por este motivo, observei a grande quantidade de mulheres, crianças e idosos que voltaram ao estádio. Foi um projeto que deu vida para todo mundo. Era um amor adormecido há 12, 13 anos”, explica Marcella Teixeira. Há duas torcidas organizadas do Spartano: Sparta e Guerreira Sparta, sendo a última espontaneamente criada por Marcella. A princípio, a intenção da rodeirense era a criação de uma camisa feminina do Spartano para “as pessoas de casa”, como a mãe e a filha. Ao fim, mais de 350 camisas já encomendadas. “Consultei o preço e o pedido deveria ter, no mínimo, 20 abadás. Expliquei a situação para a mulherada, mandei uma foto e, de um dia para o outro, nós conseguimos encomendar 150. Na outra semana, a procura foi tão grande que hoje temos mais de 350 abadás”, conta Marcella.

“O que me deixa feliz é que a gente está muito ativa em tudo. Muitas pessoas têm na cabeça que [estádio] é só para homem; mas não, a mulherada está com muita força. É a coisa mais linda do mundo”, diz Marcella Teixeira, uma das organizadoras da torcida organizada Guerreira Sparta (Foto: Arquivo pessoal)

Tanto ela quanto Gabriel Contin destacam a presença de crianças, idosos e, sobretudo, mulheres no Estádio Adolfo Nicolato. “A torcida feminina é fantástica. O engajamento é muitíssimo alto. Há muitas mulheres no estádio, famílias e crianças”, realça o diretor de Comunicação e Marketing. “A minha única intenção é mostrar o poder que a mulher tem dentro do estádio. A mulher pode estar aonde ela quiser, em qualquer situação. O que me deixa feliz é que a gente está muito ativa em tudo. Muitas pessoas têm na cabeça que [estádio] é só para homem; mas não, a mulherada está com muita força. É a coisa mais linda do mundo”, destaca Marcella.

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Amador, mas profissional

(Foto: Divulgação/Spartano)

De Guidoval, o Cruzeiro Futebol Clube é um dos responsáveis pelo renascimento do Spartano, como fala Contin. “O Leo [Leonardo Delazari], presidente, tem um funcionário de Guidoval, uma das cidades do lado de Rodeiro. Guidoval também tem o seu time no campeonato – Cruzeiro de Guidoval, tradicional – e esse funcionário o convidou à época para patrocinar o Cruzeiro no ano passado.” Delazari é empresário do setor moveleiro em Rodeiro; após acompanhar o Cruzeiro no Regional, decidiu elaborar o projeto de reativação do Spartano entre novembro e dezembro de 2017. Em nível de organização, desde que acompanha o torneio, Flavio Ribeiro não viu algo semelhante. “Através do trabalho de organização de time, o Spartano incentivou a cidade a encher o estádio. Vejo um time motivado, em sintonia com a torcida. Apesar de ter jogadores de fora, parece que o pessoal é da cidade, pois jogam com raça, amor à camisa.”

Dentre os jogadores que passaram pelo Spartano estão Leandro Euzébio, 37, ex-Fluminense, e Erick Flores, 29, ex-Flamengo. Atualmente, defendem o clube o rodeirense Francismar, 34, ex-Vasco e Cruzeiro, e Welton Felipe, 32, ex-Atlético. “Os jogadores recebem por jogo e não treinam. Chegam um dia antes do jogo e alguns até chegam no dia do jogo, jogam e vão embora, porque a maioria é profissional. Eles jogam em outros clubes também”, explica Contin. Ainda que o programa de sócio-torcedor tenha cerca de 600 filiados, patrocinadores estampados no uniforme e no muro do Adolfo Nicolato e a renda de bilheteria sejam as principais fontes de renda do Spartano para contratar jogadores, a relação entre eles e a torcida chega a ser familiar. “Uns já falaram em vir morar em Rodeiro, porque a cidade é boa, é tranquila; outros querem manter a amizade. Há um jogador que chama a minha mãe de mãe. Sua esposa me falou que ele nunca teve carinho de mãe porque ela o abandonou”, conta Marcella.

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