Para a atleta Neuza Tomás, de 57 anos, natural de Descoberto e residente em Juiz de Fora há 40 anos, corrida é sinônimo de amizade. Além de praticar o esporte para se manter ativa, a cuidadora de idosos ganha, com a modalidade, uma fonte de amizades e conexões – uma “segunda família”, como ela define. Sem o apoio dos familiares, que não têm afinidade com a prática esportiva, é nos outros corredores em que ela se espelha, ao mesmo tempo em que também busca inspirar outras pessoas. Conforme conta, hoje, sua coleção de medalhas chega a mais de 200.
Devido a toda sua história nas corridas de Juiz de Fora e região, Neuza Tomás, moradora do Bairro Santa Luzia, é mais uma personagem da série original da Tribuna de Minas, a “Qual é o seu Corre”, que conta a história de um atleta a cada etapa do Ranking de Corridas de Juiz de Fora, a disputa mais movimentada da cidade.
Neuza, inclusive, será uma das 1.200 atletas participantes da Corrida da Unimed. A disputa acontece neste domingo (9), a partir das 8h, na Via São Pedro. Serão seis quilômetros no percurso principal e três quilômetros aos que optarem pela caminhada. Haverá premiação para os cinco primeiros colocados da classificação geral da corrida e os três primeiros de cada faixa etária.
“Uma ave voando”
Natural da pequena cidade de Descoberto, de cerca de cinco mil habitantes, Neuza se mudou aos 17 anos para Juiz de Fora em busca de mais qualidade de vida. Foi após a chegada em território juiz-forano que ela começou a correr, sozinha, nas ruas do novo município, às 5h. Foram 20 anos assim, até uma amiga fazer o convite para ela entrar em uma equipe. Com o chamado, o esporte começou a ser levado ainda mais a sério por Neuza, na época, com 37 anos.
“Eu tinha bronquite, mas sarei, hoje não sinto mais nada. Também era gordinha e emagreci, fiquei com muito mais disposição. Foi uma superação de mim mesma. Não tinha na minha cabeça que eu ia ser corredora nunca”, fala.
Hoje, com 57 anos, a corredora tem uma rotina regrada, em que a corrida é prioridade. Ela acorda às 5h, corre de 5h30 às 7h, cerca de dez a 12 quilômetros por dia, no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e na Via São Pedro. Neuza ainda faz musculação e spinning na parte de manhã. Depois, ela trabalha como cuidadora de idosos.
“A corrida é o ar que respiro, a graça do meu dia a dia. Às vezes, estou mal comigo mesma, saio para correr e volto outra pessoa. Me sinto uma ave voando, é toda liberdade do mundo estar com o pessoal passeando” diz a esportista. Até o momento, ela já fez duas maratonas e diversas meia maratonas e participou de provas em cidades como Tiradentes, Rio Preto e Chiador.
“A melhor coisa que me aconteceu”
Além de todo benefício mental, a corrida também trouxe à atleta a socialização. “Na minha família, ninguém corre, não fazem esportes. Mas tenho meus amigos, todos da corrida, que são minha segunda família. A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi eles terem aparecido. Se preciso para correr, estão comigo. Se preciso para viajar, também estão. Vamos para a casa uma da outra, fazemos tudo juntas, é inexplicável”, diz, sorrindo, Neusa.
A corredora Maria Inês, de 64 anos – hoje muito amiga de Neuza – tinha a atleta como referência antes de conhecê-la. Depois de correrem juntas por iniciativa de amigos próximos, a amizade – ou irmandade – começou. “A partir dali começamos a treinar todo domingo. Viajamos juntas para as corridas, já fomos em Maceió. A Neuzinha é uma pessoa muito boa, dona de um coração enorme. Está sempre pronta a ajudar, é para a vida. Chamo ela de foguetinho, porque corre muito. E o que tem de pequena de estatura, tem de grande no coração”, declara Inês sobre a amiga.
Além de vibrar com as amizades, Neuza comemora o reconhecimento que adquiriu com tantos anos na modalidade. “Hoje, as pessoas me gritam na rua, me reconhecem. Chamam pelo nome, isso é muito gratificante, ser reconhecida pelo seu esporte. Levo minhas amigas para correrem, sempre aumentando o esporte. A melhor coisa que fiz na vida foi entrar na corrida”.
Foco e futuro da corredora
No momento, a descobertense tem como foco a participação no Ranking de Juiz de Fora e os planos de fazer uma maratona, no ano que vem, abaixo de quatro horas. Suas próximas corridas serão em Aparecida do Norte e Canoa Quebrada. “Acho que Juiz de Fora deveria melhorar. Os corredores não têm apoio. Em outras competições, tem café da manhã e tudo. Aqui é tudo muito caro, na redondeza dão mais valor aos atletas e é mais barato”, avalia.
Para seu futuro nas corridas, Neuza quer se tornar uma “velhinha corredora”. Ela busca “correr até quando Deus permitir e ser referência. Que as pessoas me sigam e me acompanhem”. E, para quem ainda não corre, Neuza aconselha. “Comece, é de graça. É só ter tênis e roupa, além da sua disposição”.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva.