Campeãs invictas, com 18 vitórias e quatro empates em 22 jogos. Esse foi o efeito da equipe sub-12 feminina do Queens Park, da Inglaterra, a única só com meninas a ter disputado a Bournemouth Youth Football League. Elas venceram outros 11 times masculinos na Terceira Divisão do campeonato, com 61 gols feitos e apenas 11 sofridos. No clube campeão, havia uma juiz-forana, criada em Bicas: a goleira Mariah Silva, de 12 anos.
A conquista ganhou destaque na mídia inglesa no último mês, e Mariah chegou a dar entrevista ao New York Times. Sua equipe ganhou a alcunha de “Las Invencibles” (as invencíveis, em português). Além de atuar no Queens Park, a goleira também faz parte da base do AFC Bournemonth – que, no futebol profissional masculino, joga a Premier League, considerada a competição nacional mais disputada do mundo. Por esse destaque, a reportagem entrevistou, virtualmente, Mariah, e a sua mãe, Helga Bamberg.
Além do título da Terceira Divisão da Bournemouth Youth Football League pelo Queens Park, a jogadora venceu a Hampshire Cup pelo AFC Bournemouth. “Nunca poderia imaginar isso na minha vida. Muito feliz por estar aqui e fazer parte do futebol da Inglaterra. Meu time me ajudou a me sentir em casa, mesmo quando eu não sabia falar nada em inglês”, declara Mariah à Tribuna.
“Os meninos zombavam”
Em um esporte ainda dominado por homens, apesar dos diversos avanços do futebol feminino nos últimos anos, Mariah diz que se sentia subestimada por alguns garotos, mesmo que o desempenho em campo fosse o melhor possível.
“Sempre jogamos contra meninos aqui, mas foi a primeira temporada que só jogamos contra eles. Zombavam da gente antes da partida, mas quando viam que jogávamos tão bem quanto eles, e ficavam bravos”, relata.
Futebol e estudos na Inglaterra
A pequena juiz-forana sempre quis jogar futebol. Ela começou em uma escolinha de Bicas aos 4 anos, e jogou até os 9, quando se mudou para a Inglaterra, em 2021. Seu pai, Valter Arthur, já havia ido em 2020, como explica a mãe da atleta, Helga.
“No início, não conhecíamos nada. Por indicação, ficamos sabendo do Queens Park Ladies. Eles viram o potencial que ela tinha e foram muito acolhedores. Ela também joga pelo futebol da escola, e em um torneio, foi convidada por um olheiro do AFC Bournemounth a fazer um teste. Ela passou e hoje atua pelo clube”, explica Helga.
Dessa forma, a garota treina duas vezes por semana no Queens Park Ladies, outras duas no AFC Bournemounth, e ainda disputa os jogos nos sábados e domingos. Porém, mesmo que Mariah dedique boa parte de seu tempo ao futebol, os pais fazem questão de tratar o ensino escolar como prioridade. Ela estuda em tempo integral de segunda a sexta, das 8h30 às 15h. “Dentro da escola, as turmas são separadas por níveis, e ela está no mais avançado. A rotina é um pouco puxada, mas ela consegue dar conta”, diz a mãe.
“Apoio incondicional”
Para o futuro, Mariah sonha em se tornar jogadora de futebol profissional. Porém, apesar da visibilidade com o troféu conquistado de forma invicta, a garota mantém os pés no chão e também considera importante a atenção ao estudo.
“Ainda tenho muito que aprender. Quero continuar a jogar futebol, mas também gosto de estudar. Quero fazer alguma faculdade ligada ao esporte ou biologia marinha”, pontua. Ao seu lado em todos os momentos, estão seus pais.
“Tenho um orgulho dela que não dá para expressar em palavras. Não são as vitórias em jogos, são as vitórias pessoais, ver que ela consegue sucesso em um país com tudo diferente, cultura, língua, clima. O apoio é incondicional”, promete a mãe.