A paixão pelo fisiculturismo levou Ester Ferreira e Flávia Mendes ao Campeonato Mundial em Santa Susanna, na Espanha, no último final de semana. Muito mais que isso. O sentimento, a disciplina e o objetivo de difundirem a modalidade na Zona da Mata e no país, e de mostrar o esporte brasileiro para outros cantos do planeta, fizeram com que Ester, de 35 anos, conquistasse o título internacional na categoria sênior e a medalha de prata entre as atletas master da categoria women’s physique, enquanto Flavinha, 30, finalizasse a participação como a quarta melhor entre as concorrentes na disputa women’s bikini fitness, ambas no palco com mulheres de até 1,63m de altura.
“Foi com muito suor e força de vontade que conseguimos atravessar o Atlântico e viver essa experiência única que é participar de um Campeonato Mundial, dessa vez na Espanha, e primeiro ser vice-campeã em minha estreia na categoria master. É tudo diferente, as atletas são muito condicionadas, lindas e com bagagem. Aí chega uma mineira ‘do nada’ em seu primeiro Mundial e fica entre as melhores do mundo! A sensação de ser uma campeã mundial, chamar atenção da arbitragem com o trabalho apresentado e, melhor que isso, trazer pra casa uma bagagem rica de conhecimento e gratidão, não há como mensurar. Poder levar meu nome, o do meu treinador Jholbest, de Santos Dumont e de Juiz de Fora, do nosso estado e país mundo afora me traz a certeza de que o caminho percorrido vai além da expectativa”, exalta Ester, natural de Santos Dumont, mas radicada em JF.
Ester e Flavinha foram juntas, dividiram quarto e torceram uma pela outra. Promoveram vaquinhas on-line e até mesmo uma rifa, ainda em andamento, para obterem recursos e arcarem com as despesas da ida ao Velho Continente. “Essa experiência foi incrível. Superou todas as expectativas. Na verdade, foi tudo tão de repente e intenso, que não deu nem tempo de criar expectativas, planejar nada. Eu e Ester só fomos aproveitando os sinais de Deus que nos mostravam sempre que isso seria possível e fomos vivendo tudo nos mínimos detalhes e sentimentos”, relata Flavinha, atleta de Ponte Nova radicada em Viçosa.
Conforme Ester, “daria pra escrever um livro, pois lá passamos certo sufoco também, mas nada que nos desestabilizasse, afinal fomos para competir, trabalhar e não a passeio. Sabíamos que poderiam acontecer coisas que nos tirariam do foco. É normal, pois as coisas são bem diferentes do Brasil, e eu dessa vez não fui com meu esposo nem nosso treinador e confesso que a presença deles nos fez falta porque sempre se propõem a correr atrás de tudo para que eu descanse até o dia da apresentação”, conta a campeã mundial. “Dessa vez, eu e a Flavinha tínhamos que nos deslocar para comprar coisas da finalização. Nós mesmas nos pintamos para economizar dinheiro, foi uma escola. Nos fortalecemos lá. Eu competi no sábado e ela segurou as ondas me ajudando. No domingo foi a minha vez de honrá-la. Esse é o verdadeiro espírito esportivo, não medir esforços com o próximo.”
Fim de temporada, mas não de sonhos
Sobre a quarta colocação, Flavinha ainda reforça que “estar entre as melhores atletas do mundo e poder disputar de igual pra igual com as referências do padrão da minha categoria foi muito desafiador e motivador. Entre sete meninas lindas, ficar em quarto lugar já logo de cara, foi a certeza de que estou no caminho certo do trabalho junto ao nosso treinador, ‘paizão’ e amigo Jholbest.”
Para Flavinha, o desembarque em Minas significa o término da temporada de competições, mas longe de frear o desejo por mais resultados históricos. “Volto pra casa transbordando gratidão, com muitas recordações incríveis, aprendizado e uma vontade louca de continuar nessa pegada, buscando ser internacionalmente reconhecida pelo trabalho”, conta. “Além da esperança de que o reconhecimento e o apoio financeiro através de grandes empresas parceiras se tornem cada vez mais factíveis. No caminho de volta sentimos carinho e respeito por pessoas que viram nossas medalhas e troféus e o coração se sentiu realizado por fazer parte da história da popularização e divulgação do nosso esporte no Brasil, país de muitos atletas com potencial gigante pra estar no topo do ranking mundial, mas onde falta o suporte financeiro”, completa.
“Certamente não paramos por aqui”, garante Ester, também atrás de valorização do fisiculturismo. “Nós vivemos esse esporte 24 horas, o palco é apenas um detalhe e todo suporte necessário está antes dele. Eu gostaria muito de ser reconhecida em nosso governo. Existem países que investem nos atletas arcando com todas as despesas, e isso é lindo de ver, pois eles podem se sentir valorizados em sua nação. Sei que as coisas podem e na verdade deveriam ser diferentes no Brasil, um país rico em tantas coisas, e saber que temos direito a um suporte financeiro, porém a prática evidencia o oposto, uma pena”, lamenta. “Mas não posso deixar meus sonhos nas mãos de outros, preciso correr atrás e continuarei fazendo. Um dia quem sabe nós poderemos viajar tranquilas sabendo que temos amparo de algum órgão governamental, empresas, lojistas. Se cada um contribuir com o que pode, não pesa para ninguém. Enquanto isso seguimos trabalhando.”