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Fantasma do Mineirão: relembre a histórica equipe do Tupi que assombrou times da capital

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O Mineirão, principal palco esportivo de Minas Gerais, completou 60 anos na sexta-feira (5). O Gigante da Pampulha, ao longo de sua história, foi palco de cinco finais de Libertadores, dez decisões de Copa do Brasil, seis partidas da Copa do Mundo de 2014, além de inúmeros jogos inesquecíveis para as equipes mineiras. Mesmo estando a 261 quilômetros de Belo Horizonte, o Tupi possui uma histórica relação com o estádio: em 1966, o Galo Carijó venceu os três clubes da capital, feito que rendeu ao grupo a alcunha de Fantasma do Mineirão.

A lenda do Fantasma do Mineirão começou em 1965. O Tupi terminou o primeiro turno do campeonato da cidade na última posição e, por isso, trouxe de volta o treinador Geraldo Magela Tavares. A troca no comando técnico deu certo e a equipe foi campeã do segundo turno, vencendo o Tupynambás na final.

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À época, era hábito convidar o campeão belo-horizontino para enfrentar o vencedor de Juiz de Fora. No dia 6 de março de 1966, o Tupi superou o Cruzeiro por 3 a 2 no Estádio Salles de Oliveira. Após a derrota do rival, o Atlético-MG convidou o Galo Carijó para um embate no Mineirão no dia 10 de março. O confronto terminou com vitória da equipe juiz-forana por 3 a 2.

Depois, foi a vez do América de tentar a sorte contra o Alvinegro de Santa Terezinha. No dia 6 de abril, os clubes se enfrentaram em BH e, novamente, triunfo do Tupi por 2 a 1. Por fim, uma nova partida contra o Cruzeiro no dia 17 de abril, com mais uma vitória carijó por 2 a 1.

Jogadores do Tupi posam para foto antes do jogo contra o América (Foto: Memorial Carijó Joacyr Soares de Lima)

Após as quatro vitórias seguidas sobre as equipes de Belo Horizonte, o time do Tupi formado por Valdir, Manoel, Murilo, Dário, Valter, França, Mauro, João Pires, Toledo, Vicente e Eurico, comandado por Geraldo Magela Tavares, ganhou a alcunha de “O Fantasma do Mineirão” pelo jornalista Osvaldo Faria, da Rádio Itatiaia.

Diante dos feitos obtidos por essa equipe, o técnico da Seleção Brasileira, Vicente Feola, que preparava o Brasil para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, convidou o Tupi para dois jogos-treinos, um em Caxambu (MG) e o outro em Três Rios (RJ). Em ambos, o Carijó foi derrotado por 3 a 1.

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“A história do Fantasma do Mineirão não foi um título, mas foi um feito. O Mineirão recém-inaugurado tem um valor simbólico também muito grande. O Tupi não estava acostumado a jogar em grandes estádios, só estava jogando nos estádios da região da Zona da Mata. Então, sendo um time do interior, ter feito essas três vitórias contra os três grandes times da capital foi uma grande realização”, analisa Léo Lima, professor e pesquisador. Léo é filho de Eurico, um dos integrantes do Fantasma. Além disso, é torcedor do Tupi e administra, em sua casa, o Memorial Carijó Joacyr Soares de Lima.

Léo guarda com carinho as lembranças de seu pai (Foto: Leonardo Costa)

Para Paulo Henrique Toledo, filho de Moacyr Toledo, o “Toledinho”, falecido em 2019, capitão daquele time, os feitos do Tupi em 1966 surpreenderam a todos à época e foram fundamental para a história do Carijó. Emocionado, ele atribui o desempenho da equipe ao trabalho do técnico Geraldo Magela Tavares. “Ele foi o mentor de tudo. Que inteligência, que capacidade ele tinha na época, mesmo sem muitos recursos. O Tupi era um time que disputava competições regionais. Foi uma coisa que ficou para a história e tem que ser lembrado pelo resto de nossas vidas e de nossos filhos, nossos netos”, relata, emocionado.

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Um time histórico

Léo valoriza os grandes times que o Tupi teve ao longo dos seus 123 anos de história, como o que foi campeão brasileiro da Série D, em 2011. Porém, em seu entendimento, a equipe do Fantasma do Mineirão pode ser considerada a maior da história do Carijó.

“São épocas diferentes, mas esse time provou, dentro de campo, principalmente, que os jogadores realmente eram muito acima da média. Além disso, tem a questão tática. Por que a Seleção Brasileira procurou o Tupi? Não foi à toa. Lógico que esses resultados do Mineirão contribuíram, mas o Tupi tinha o apelido de ‘Ferrolho Carijó’. E a Seleção ia enfrentar muitas seleções da Copa do Mundo utilizando esse mesmo esquema tático que o Tupi utilizava”, analisa o pesquisador.

De acordo com Paulo Henrique, Toledinho sempre destacava que era muito fácil jogar junto com aqueles jogadores e que suas principais lembranças eram do confronto contra a Seleção Brasileira, em Caxambu. “Foi um alvoroço danado depois que acabou o jogo, no hotel onde eles estavam”, conta.

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Em 2018, 52 anos depois do jogo histórico entre Tupi e Seleção Brasileira, Toledo recebeu um presente de Pelé: uma camisa comemorativa e uma foto, ambos autografados pelo Rei do Futebol. “Para ele, foi muito gratificante receber essa foto das mãos do Pelé”, conta Paulo Henrique.

Pelé autografou a foto do jogo-treino contra o Tupi (Foto: Leonardo Costa)

Preservação da memória

Atualmente, o Tupi atravessa o pior momento de sua história. Nos últimos sete anos, o Carijó acumula três rebaixamentos, além de não disputar uma competição nacional desde 2019. Para Léo, manter vivo o legado do Fantasma do Mineirão é fundamental para que o clube consiga dar a volta por cima.

“Nesses momentos que o clube passa de incertezas, é muito importante você ter uma referência positiva. Rever a história do clube é muito bom. Esse time tem que ser reverenciado, como em outras épocas também têm que ser reverenciadas. Mas esse time marcou. Foi uma referência positiva para outras gerações. Foi uma referência da própria marca do clube. Se o Tupi, hoje, tem uma marca, um escudo, um nome respeitado no Brasil, com certeza foi a partir dessa época que isso foi se estruturando”, diz.

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Paulo Henrique se emociona ao lembrar dos feitos de seu pai (Foto: Leonardo Costa)

Relembrando os versos do hino do Tupi, Paulo Henrique também considera que o legado do Fantasma do Mineirão tem que servir como combustível para os atuais jogadores. “O que seria do presente, do futuro sem um passado? O pai costumava dizer muito isso também. Esses jogadores têm que se inspirar nisso, não só nessa equipe do Fantasma, mas em outras equipes que o Tupi também formou e conquistaram. Eu tiro esses dois refrões do hino do Tupi: ’Grandes vitórias sempre alcançam. E vive a glória dos imortais”, relata.

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