Há cinco anos, justamente no dia da Independência do Brasil, um massagista centralizava os gritos de indignação de centenas de torcedores do Tupi no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. As manifestações, aliás, repercutiram no país inteiro naquela mesma noite de 7 de setembro de 2013. A indignação com Romildo Fonseca da Silva, o popular Esquerdinha – hoje no Anápolis (GO), tomou cada alvinegro juiz-forano por conta da invasão do então funcionário da Aparecidense (GO) para evitar o gol do atacante Ademilson e, no rebote, defender chute do lateral Henrique aos 44 minutos do segundo tempo – tento que daria a classificação carijó às quartas de final da Série D do Brasileiro.
Se em campo o árbitro terminou o jogo com um empate em 2 a 2 (1 a 1 na ida), que naquele instante dava a classificação aos goianos, a Justiça determinou, pouco mais de uma semana depois do embate, a exclusão da Aparecidense na competição, levando, o Galo, à fase seguinte contra o Mixto (MT), em duelo que selaria o acesso juiz-forano à Série C. Exatos cinco anos depois do acontecimento, o fotógrafo da Tribuna de Minas, Leonardo Costa, único profissional de imagem presente no campo, naquela partida – o outro era um cinegrafista que estava na cabine de imprensa, relembrou à reportagem como a sequência de fotos do histórico lance repercutiu e se tornou uma das mais valiosas em sua trajetória profissional. ”
“Se você pegar as cinco maiores fotos da minha carreira com certeza essa entra. É uma das mais importantes até por ter mostrado ele tirando a bola em cima da linha realmente, uma foto difícil, porque tinha muita gente na frente, e já estava no fim do jogo, o que te exige mais concentração pelo cansaço”, afirma. Leonardo conta que percebeu a presença de uma pessoa diferente dos atletas próximo à meta goiana, mas que demorou para saber o que, de fato, havia registrado em sua máquina fotográfica.
“Era um momento tenso da partida porque o Tupi precisava de um gol para a classificação. O Tupi pressionava eles e geralmente, por hábito, eu foco o gol e o lance que está acontecendo próximo dessa área. Não tirei a máquina do olho em momento nenhum e, por ela, percebi que tinha alguém do lado da trave com uniforme diferente dos jogadores. Não vi que era o massagista. E com o lance acontecendo fui clicando e senti que registrei alguma coisa. Só fui descobrir que era o Esquerdinha dez, 15 minutos depois do lance. Sabia que alguém tirou o gol, mas não fazia ideia que era o massagista”, conta.
Entre as indignações, Leonardo passou a ser alvo de profissionais presentes no gramado diante da possibilidade do registro. “Alguns jogadores e radialistas vieram atrás de mim para saber se eu tinha feito a foto. E, naquele momento, todos estavam reclamando que ele havia tirado a bola de dentro do gol, que ela teria entrado e o gol deveria ser validado. Mas as próprias fotos mostram que não entrou”, relembra.
A partir da publicação da foto em que Esquerdinha toca na bola, a imagem ganhou diversos cantos do Brasil e do mundo. “Quando a foto foi publicada pela Tribuna de Minas e o jornal soltou a informação no Facebook, rapidinho vi a imagem compartilhada em vários sites. De torcedores, da Itália, Arábia e no Brasil inteiro, porque eu era o único profissional de imagem em campo. Tinha um cinegrafista, mas em uma cabine de imprensa, e essa imagem só foi passar no dia seguinte na TV. Então no resto do dia a única foto que tinha do lance era a minha. Foi capa de jornais de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e outros locais, uma das minhas fotos que mais teve repercussão.”
Leonardo teve até o nome ovacionado no jogo seguinte por fãs carijós. “Depois dessa foto muitos torcedores gritaram meu nome no jogo seguinte, brincaram com a situação. Alguns jogadores comentam comigo da imagem até hoje, lembram de mim quando veem o vídeo. Foi a grande repercussão no meio do futebol para mim.”
Jovens perguntam a Ademilson sobre o lance até hoje
Autor da primeira finalização defendida pelo invasor goiano, o ídolo carijó, Ademilson, recorda que foi festejar o gol e não viu a interceptação. “Me lembro que fomos para aquele jogo muito focados pela importância da partida. Precisávamos vencer para classificar, e eu me recordo muito bem daquele lance. Quando a bola apareceu para mim, pensei em tirar do goleiro e já saí para comemorar. Mas quando vi meus companheiros, ninguém veio comigo, passaram direto na direção do Henrique, e então o vi correndo atrás do massagista”, conta Adê.
Tumulto instalado, o atacante foi conversar com o árbitro do jogo. “Quando cheguei perto do juiz ele disse que não podia dar gol por ser um objeto estranho no gramado. Não acreditei porque trabalhamos tanto… como uma pessoa impede uma classificação daquele jeito? Bateu uma aflição enorme por não termos conseguido o objetivo”, lamenta.
A decisão no STJD, contudo, fez justiça ao lance que, hoje, virou uma história com tons cômicos. As lembranças e questionamentos perduram até os dias atuais. “Passamos por decisão da Justiça depois, o que era correto. Hoje já é tudo mais conversado de uma forma mais leve. O que me espanta é que jovens me perguntam sobre isso até hoje. Ontem (quarta-feira) mesmo alguns garotos do sub-15 do Athletic (de São João del-Rey, atual equipe de Adê) pegaram o vídeo no YouTube e vieram me perguntar sobre ele. E quando encontro velhos amigos esse assunto sempre volta”, comenta o veterano jogador.
Massagista do Tupi: ‘Virou resenha’
Se o massagista da Aparecidense é alvo de críticas até hoje, o do Tupi é ídolo do torcedor alvinegro e não se esquece do ocorrido. Adeil Souza estava na arquibancada em 2013 ao lado do técnico Felipe Surian, suspenso naquela partida. Julio Cirico comandou o time da área técnica. E Adeil, incrédulo com o lance, não hesitou em ir ao gramado. “Não entendi nada naquele momento, fiquei estático e lembro que começou a confusão e eu fui para o campo. Falei com o árbitro, que primeiro também ficou sem reação. Eu falava que ele tinha que tomar alguma providência porque era o jogo da vida do Tupi. E nosso trabalho do ano inteiro estava indo por água abaixo por conta do massagista deles”, rememora.
Hoje, contudo, este é um dos principais assuntos em conversas de bares e lembranças do massagista que segue no clube. “Costumo recordar sempre com meus amigos e jogadores também. Se naquele dia foi tenso, hoje virou resenha, é mais cômico. Aquele dia foi um marco, depois ganhamos na Justiça e tudo deu certo para o clube. Nunca vou esquecer”, destaca.