Para esse ano, o espírito era o mesmo: mantra na ponta da língua, repetido à exaustão para deixar claro aos defensores da equipe verde e amarela a minha falta de paixão pelo time (sentimento fomentado pela quantidade de quedas teatrais do Neymar e pelo salário exorbitante do Tite). No entanto, algo bastante inesperado me fez reavaliar algumas concepções. Não foi o surgimento de uma nova seleção de 1982, nem o futebol arte de nenhum jogador. Ao chegar em casa no dia do jogo entre Brasil e Sérvia, encontrei uma espécie de reportagem sobre a partida, escrita espontaneamente por uma menina de 5 anos e em processo de alfabetização, relatando vários lances do duelo. Minha esposa tem prazer em vestir minhas filhas para o jogos, e ela já tinha me dito que a Isabel gosta muito de torcer. Contudo, aquelas linhas escritas iam muito além de um amor motivado pelo clima da Copa, exigindo atenção e dedicação.
Então, imagine a minha alegria quando Brasil e México se enfrentaram às 11h e eu pude conferir de perto um pouco dessa devoção. Minha filha gritava, torcia, vibrava, reclamava, fazia perguntas que eu não sabia responder. Esforcei-me de verdade para torcer junto, embora ainda não morra de amores pela seleção, apenas para vê-la feliz. De todas as pessoas lá em casa naquele dia, fui o único a perceber o simbolismo de tudo aquilo. Não terei todas as repostas e independente das minhas experiências e opiniões, é a Isabel quem vai escolher pelo que se apaixonar. Também não poderei poupá-la do sofrimento, pois a vida é como um jogo, algumas vezes se ganha, em outras, se perde, faz do crescimento. Mas eu sei que quero estar sempre por perto.