As cores fortes dos velames de cerca de 30 atletas que participam de um campeonato de paraquedismo, estilo precisão, que começou neste sábado (04) no Aeroclube de Juiz de Fora, no Aeroporto da Serrinha, deixaram mais bonito o céu azul que, com suas nuvens brancas, sorriu para a cidade durante todo o dia. Todavia, beleza mesmo quem experimentou foram os malucos que se atiraram de um monomotor a mais de dois mil metros de altitude e tiveram uma visão privilegiada da “Princesinha de Minas” durante os saltos, que têm duração média de 15 segundos de queda livre e quatro minutos com o paraquedas aberto. “A visão que temos lá de cima é maravilhosa”, considera o paraquedista Rodrigo Madeira, que veio de Barbacena para participar do torneio.
Contudo, mais do que se enamorar pelo relevo juiz-forano, os competidores estavam ali para uma disputa sadia, o que enaltece a beleza do esporte. “Só saltando para entender. Por mais que exista toda a confiança no equipamento, a sensação é de que nos jogamos nas mãos de Deus. A cada salto, é como se nascesse de novo”, afirma o renascido Rodrigo. Outro participante, Magdo Sérgio, um dos que registraram o salto com uma câmera acoplada em seu capacete, não consegue traduzir a emoção em palavras. “É algo inexplicável. Lá de cima é tudo mais belo. Vai lá, faz um salto que você vai entender”, disse, em tom desafiador, diante de um repórter que se sente mais seguro com os pés no chão.
Não bastasse o céu azul, as nuvens brancas, a profusão de cores dos velames e a adrenalina tingindo ainda mais de vermelho o sangue que corre nas veias dos paraquedistas, o esporte ainda mostra a beleza da competição saudável. Ganha quem aterrissa mais próximo do alvo delimitado no chão, mas, a cada salto, adversários trocam aplausos e incentivos entre si, em reconhecimento à coragem e ao gosto por aventura compartilhado por todos. Até mesmo, após um salto perfeito, com o pouso cravado no centro do alvo, o sucesso pode ser compartilhado. “Saltei com o paraquedas do meu amigo. Isso me trouxe sorte”, brinca o paraquedista Gian Carnevale, após acertar a mosca e conseguir a pontuação máxima (100 pontos) em uma de suas performances.
Ao sabor dos ventos
O reconhecimento ao apoio do amigo, talvez, possa ser justificado e ser somado à técnica do competidor. Um dos primeiros a saltar no dia, em sua performance anterior, Gian foi surpreendido pelo vento e teve que improvisar. Parou bem longe do alvo e aterrissou no gramado do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. “Percebi que não ia conseguir chegar e optei pela segurança de um pouso em área aberta. Foi tudo consciente”, afirma, antes de brincar, lamentando a ausência de público. “Fiz um salto de exibição para uma arquibancada vazia.”
Um dos que tiveram êxito em aterrissar no centro do alvo foi Roberto Aguiar, um dos organizadores do torneio. Com uma experiência de mais de dois mil saltos, ele afirma que o principal desafio é domar os anseios do vento, que tem características distintas quando se está a centenas de metros de altura ou mais próximo ao chão. “Meu salto foi todo em cima das técnicas de vento, compensando o forte vento no alto, que atrapalha a navegação, e investindo no vento de solo. É preciso equilibrar tudo isso.”
O torneio continua neste domingo, a partir das 8h. A expectativa é de que até meio-dia todos os competidores já tenham realizado seus três saltos. Mais uma vez, a entrada do público interessado pelo evento é gratuita. Ao final de todos os saltos será conhecido quem obteve a melhor pontuação, o que parece ficar em segundo plano em um esporte feito de coragem, êxitos individuais e amizade.