Quatro reais o pacote com cinco figurinhas. Cada uma vale 80 centavos, o dobro do preço da Copa anterior. Para preencher os 670 espaços em branco no álbum do Mundial de 2022, que acontece entre os dias 20 de novembro e 18 de dezembro, no Catar, é necessário, no cenário mais otimista e improvável, sem uma figurinha repetida sequer, R$ 536, além do álbum de capa mole, o mais barato, a R$ 12. Um total de R$ 548, quase metade de um salário mínimo. Diante de preços como esse, a Tribuna foi ao Parque Halfeld, no coração de Juiz de Fora, local onde ocorre troca de figurinhas todos os dias, conversar com os apaixonados por futebol para entender o cenário do contraponto da atmosfera que envolve a Copa com os gastos inerentes ao colecionismo.
O estudante de Jornalismo da UFJF, Dartan Silva, de 19 anos, morador do Centro da cidade, fez o álbum nos anos anteriores, mas os altos preços em 2022 se tornaram um empecilho. “Sempre colecionei porque sou apaixonado por futebol, ainda mais por Copa do Mundo. Mas os valores também eram bem mais razoáveis dos que os atuais. Tem a inflação, que vejo como o principal motivo para a alta dos preços, porém não acho que isso justifique o valor que estão cobrando”, aponta o garoto.
Mesmo com o gasto necessário, a decisão de fazer o álbum foi dificil para o jovem, já que ele sonha em trabalhar com futebol por meio do jornalismo esportivo. “Os álbuns, para mim, sempre foram uma forma de recordar o espírito de cada torneio. Infelizmente, para esta Copa, não vou ter as memórias das figurinhas, de todo o clima que está envolvido como tive nas últimas edições”, lamenta Dartan.
Dividir com amigo se torna uma solução
A estudante Ana Luíza Campos, de 17 anos, do Bairro Ipiranga, combinou com seu melhor amigo de fazerem o álbum juntos, para que haja redução dos preços. “Em todas as Copas do Mundo, eu faço o álbum. Mas esse ano o pacote está muito caro. Em 2018, era R$ 2. Por isso estou dividindo com meu amigo. O álbum é uma recordação, faz a gente se lembrar do que aconteceu naquela Copa. Ainda mais nessa, que o Brasil tem muita chance, não podia deixar de fazer. Quero completar” pretende a adolescente.
E para que cumpra seu objetivo, Ana Luiza tem o costume de ir ao Parque Halfeld para trocar as figurinhas repetidas. “A gente sai da escola e passa aqui no Parque Halfeld quando temos um dinheiro. Os nossos colegas às vezes nos ajudam também”, conta. “No final, eu e meu amigo vamos brigar para ver quem fica com o álbum”, brinca a garota.
“É lenda. Ninguém paga 7 mil”
Uma novidade no álbum deste ano é a presença das figurinhas “Rookies” e “Legends”, nas cores bordô, bronze, prata e ouro. Nas redes sociais, o valor divulgado para essas figurinhas variam de R$ 10 até R$ 7.600 para Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi na cor dourada. Mas de acordo com o proprietário da banca no Parque Halfeld, Giulio Caruso, esses preços não passam de uma empolgação. “Pelo que a gente ouve falar no mercado, não existe aquele valor. É lenda. Ninguém paga R$ 9 mil em uma figurinha. Mas ajuda a promover, a galera tá sempre atrás. Todo mundo está doido para tirar”, destaca.
Além do pacote com cinco figurinhas a R$ 4 e o álbum de capa mole a R$ 12, também há possibilidade do álbum de capa dura, a R$ 49,90, de maior durabilidade. Mesmo que considere os preços altos, Giulio enxerga um movimento satisfatório neste início. “A venda está maior que da última Copa, em 2018. Acho que pelo pessoal ter ficado dentro de casa por conta da pandemia, isso deu uma animada para fazer o álbum, interagir, trocar”, acredita. “Aos sábados, vêm umas 400 pessoas trocar figurinha no Parque Halfeld. Claro que existem as reclamações sobre o preço, mas vejo que o pessoal está comprando”, analisa.
Ele ainda conta que alguns colecionadores compram todos os álbuns de futebol, mas que o da Copa possui um público mais diverso. “Junta toda a galera. Crianças, adolescentes, adultos, idosos. Vem mãe e filho, pai e filha. Avó. Abrange todo mundo, é legal de se ver. Sem distinção, sem grupo. Esse ano estou vendo muitas mulheres, seja sozinha ou com amigas”, conta.
Álbum completo em uma semana
Os fanáticos por colecionismo e Copa do Mundo não ficam de fora. O estudante Caio Capobiango, de 19 anos, que também mora no Centro, coleciona figurinha desde 2010. Neste ano, em menos de uma semana, completou o álbum. “Quanto mais rápido, melhor. Fico ansioso, penso que preciso fechar logo. Gastei uns R$ 1.200 para completar, mas com certeza valeu a pena”, conta Caio, que agora, vende suas repetidas. “Noventa centavos a normal, jogadores do Brasil estão a R$ 2, e Cristiano Ronaldo, Neymar, Messi e brilhantes saem a R$ 3. Mas ainda está devagar a venda. Difícil para trocar. As figurinhas aumentaram de preço e a qualidade diminuiu. As numerações estão confusas, não tem o time que o jogador atua”, opina o jovem.
“Mas mesmo com o preço, decidi fazer e completar rápido pelas lembranças que tenho desde criança. Minha família toda sempre teve o costume de colecionar figurinha. O clima é ótimo, você reencontra pessoas que você conviveu há quatro, oito anos. Fica na resenha, conversa, troca. Venho para o Parque Halfeld sabendo que vou ter um dia legal”, se alegra Caio. “Só que ainda tem as 80 raras para colecionar fora do álbum. Tenho algumas, mas vou em busca de todas”, promete.