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Especialistas detalham dificuldades em alavancar os e-sports em JF

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Se no Brasil os jogos eletrônicos têm se difundido e ganhado destaque, como prova a conquista da Copa do Mundo de Fifa em julho por jogadores brasileiros, e também o sucesso de streamers que fazem transmissões dos jogos como Gaules, que faturou o Prêmio eSports Brasil 2020 nas categorias Personalidade e Streamer do Ano, em Juiz de Fora o cenário ainda não foi desbravado no âmbito profissional, com poucas competições realizadas. A Tribuna conversou com um criador de conteúdo sobre games, o dono do CT e-Sports JF, o jogador que venceu as competições promovidas pelo CT e um organizador de eventos que busca incluir os jogos eletrônicos na cidade para entender o que falta para Juiz de Fora despontar no cenário estadual e nacional dos jogos eletrônicos.

CT e-Sports JF pode receber confrontos entre equipes de cinco integrantes cada (Foto: Felipe Couri)

“Sonho da maioria, realização da minoria”

Apesar da formação de times fortes e reconhecidos nos e-sports, como Corinthians, Cruzeiro, Flamengo e Santos, que contam com jogadores dedicados em tempo integral à profissão, a realidade da maioria dos atletas, incluindo Juiz de Fora, não é a mesma. É o que garante o criador de conteúdo sobre games, Pedro Arty, que trabalhou no time de Free Fire do Corinthians e está à frente do TM Games, canal recém-lançado nas redes sociais da Tribuna de Minas, para explorar o cenário na região.

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“Cheguei a visitar a casa dos atletas, a ‘game house’, que tinha nutricionista, psicólogo e gestor. Eles não precisam se preocupar em nada a não ser em jogar, que é o trabalho deles. Fazem exercícios físicos, atividades específicas, não ficam o dia todo jogando. Possuem todo um acompanhamento, e os que são menores de idade são obrigados a ir para a escola. Mas aqui em Juiz de Fora, a realidade de muitos meninos é treinar dentro de casa, sem apoio, para tentar entrar em uma equipe. É o sonho da maioria e a realização da minoria. Muitos jogam em computadores ruins se esforçando para chegar em alguma organização grande. É no mesmo pique do futebol”, relata Arty.

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Outro fator que limita a projeção de jogadores até o nível profissional, de acordo com Arty, é a baixa longevidade. “Grande parte dos atletas não fazem faculdade, só que a carreira deles é muito curta. Geralmente, os jogadores ficam no auge até no máximo os 25 anos. É um período bom, se dedicando exclusivamente aos e-sports e fazendo live em paralelo, que ajuda na renda. Mas depois, para continuar nisso, a única opção é virar comentarista. É tudo novo no cenário, ainda não tem muitas profissões disponíveis”, lamenta o criador de conteúdo.

Pedro Arty comanda, agora, o TM Games nas redes sociais da Tribuna (Foto: Arquivo pessoal)

O que tem ajudado o cenário a crescer, inclusive na pandemia, segundo Arty, é a possibilidade de praticar os e-sports remotamente, além da interação pelas redes sociais. “A geração de conteúdo e entretenimento de jogos eletrônicos por pessoas independentes, em plataformas como Twitch, YouTube, e até Tik Tok, cresceu muito. Os streamers e criadores de conteúdo que estão em alta surgiram e cresceram também dentro dessa época. No início da pandemia a gente teve um pequeno percalço porque alguns campeonatos de e-sports, por serem presenciais, foram cancelados. Mas rapidamente tudo se ajustou para o on-line e muita coisa foi feita. Vários campeonatos rolaram no país”, conta.

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Mesmo com esses mecanismos de desenvolvimento, o criador de conteúdo enxerga que, na cidade, “tudo é difícil”, e com isso, os próprios atletas precisam buscar alternativas. “A ca3.GG, uma organização, tem trabalhado, mas pouca coisa acontece na cidade. Por exemplo, quando mais novo, eu era apaixonado pelo jogo Dota. Morava em Muriaé, e em 2015 vim aqui para Juiz de Fora achando que teriam vários torneios, mas não teve nada. Em 2016, no Instituto Federal de Juiz de Fora (IFJF), onde eu estudei, fazia parte do centro acadêmico. Lá, organizamos um evento chamado IF Games. Tivemos que fazer pela falta de competições aqui na cidade. Aconteceram disputas de CS, LOL, Fifa e outros. Tudo certo, com regras”, se recorda.

“O polo é São Paulo, não tem como fugir. Uma coisa ou outra rola em Belo Horizonte. Aqui em Juiz de Fora, o CS é o mais forte, acontecem alguns campeonatos, mesmo que amadores. Mas mesmo assim é pouco. Free Fire, Pubg, Rainbow Six e Pókemon United estão em ascensão. A cidade precisa de mais campeonatos. A galera precisa se movimentar para fazer acontecer”, pede Arty.

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Missão: ‘desbravar o cenário em JF’

Bernardo vê espaço amplo para evolução estrutura, de marketing e jogadores (Foto: Arquivo pessoal)

O dono da chamada primeira lan house gamer da cidade (CT e-sportsJF), Bernardo Carnot, também crê que os jogos eletrônicos na cidade estão muito abaixo do que poderiam ser. “Em Juiz de Fora, há pouquíssimas competições. Presencial é só o CT que organiza, não tem outro lugar que as pessoas possam jogar. Aqui são dez computadores gamers, cinco computadores frente a frente com outros cinco, que permitem jogar um time contra outro, ter uma rivalidade. On-line é mais fácil de fazer, mas mesmo assim, tem muito pouco. As divulgações também estão muito fracas. O nosso campeonato mesmo só divulgamos pelo Instagram, que é onde está quem curte o público, mas é muito pouco… Juiz de Fora é muito grande”, se entristece Bernardo.

Em Juiz de Fora, Free Fire, League of Legends (LOL) e Valorant possuem muita adesão, mas o Counter Strike é o que possui maior número de jogadores, conforme Bernardo. “Já organizamos dois campeonatos presenciais de CS e deram certo. No primeiro, fizemos uma estrutura com um telão na loja, então permitimos que os players levassem amigos e familiares para assistirem. Nós transmitimos também na Twitch, com narrador e comentarista para dar visibilidade. Já no segundo campeonato colocamos uma televisão de 50 polegadas na Praça Manoel Honório. Fizemos venda de bebidas, foi bem interessante”, relembra.

Segundo o dono do CT, a falta de apoio é outro obstáculo. “A Prefeitura começou a lançar algumas modalidades agora, mas as que eles estão trazendo não são as de maior adesão do público. Algumas não têm engajamento. Os mais famosos eles não estão fazendo, talvez por ser jogo de tiro. Não sei se isso afeta alguma coisa, se tem certo preconceito”, opina o dono do CT.

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Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) da Prefeitura de Juiz de Fora reiterou que “nas duas edições da Copa Prefeitura Bahamas de e-Sports, reuniões foram feitas para analisar quais seriam as modalidades. Foi analisado que jogos de arma com violência (como é o caso do CS) não são recomendados para crianças. A Copa Prefeitura Bahamas de e-Sports é um torneio que tem por objetivo, além de incentivar a prática desportiva eletrônica, valorizar os benefícios educacionais e comportamentais inerentes ao esporte como amizade, respeito mútuo, inclusão e solidariedade, não estimulando a violência”.

Para Bernardo, que se declara fã do empreendedorismo e dos jogos eletrônicos, a busca do CT é por propiciar um local tanto de competição quanto de divertimento para os atletas. “Estou tentando desbravar o cenário de Juiz de Fora, essa é a minha missão. Queremos dar visibilidade às pessoas que sonham em ser jogadores profissionais e possibilitar que se profissionalizem na cidade. Hoje, eles têm que ir para outros estados, porque aqui não tem oportunidade, sem equipes formadas, nenhum patrocinador. São muitos talentos perdidos. Pela falta de oportunidade acabam não levando isso pra frente. Não tem sido fácil, o CT é o único local da cidade. É bom pela exclusividade, mas está tudo adormecido e tenho que correr atrás sozinho. Não tem essa cultura na cidade. Aqui ninguém tem o costume de voltar a ir em lan- houses. Em São Paulo, Coritiba, Rio de Janeiro, as oportunidades são muito maiores. Temos que lutar contra o preconceito, não é fácil”, aponta.

Campeão prioriza Economia na UFJF

Apesar do talento, Matheus entende que seu caminho é focar nos estudos diante da falta de apoio nos e-Sports (Foto: Arquivo pessoal)

O jovem Matheus Xavier, de 18 anos, fez parte da equipe campeã dos dois torneios de Counter Strike organizado pelo CT e-sports JF. Seu irmão foi quem lhe introduziu no mundo dos games, ainda quando criança, no Playstation 1. Depois, Matheus ganhou um Playstation 3 e se apaixonou por Call Of Duty. A partir disso, decidiu comprar um computador em 2016, e três anos depois, começou no Counter Strike, seu jogo preferido até hoje. Entretanto, o garoto acredita que a preparação na cidade não é a ideal, mesmo que tenha se refletido em conquistas

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“Foi muito bom ter ganho os campeonatos, a minha equipe entrou bem focada em vencer ambas as edições. Foi fruto do nosso talento. Já jogamos junto há algum tempo, o que facilita no entrosamento e na tática. Mas no dia a dia eu costumo só entrar no computador e jogar, sem treinar muito. Eu faço faculdade de Economia na UFJF já e tenho outras prioridades”, confessa o estudante.

De acordo com o garoto, o que falta para que pessoas como ele se tornem profissionais é o incentivo dentro de casa e também na questão financeira. “Minha família não me apoiou muito para ter os melhores equipamentos. Joguei por muito tempo com os periféricos bem abaixo do nível profissional. Isso me fez desistir de tentar essa carreira e focar mais nos estudos. Falta investimento para os jogadores, acaba que em Juiz de Fora costumamos apenas jogar por hobby e diversão. Se houvesse mais incentivo na parte financeira, a dedicação seria maior”‘, opina Matheus.

Problemas de estrutura

Já para o produtor de eventos de cultura Pop, Eustáquio Júnior, que organiza competições como o Soul Geek e o Festival Anima Clube (FAC), são muitas as pessoas na cidade que se interessam pelos jogos eletrônicos. “Nós montamos um espaço gamer nos eventos com consoles variados e organizamos torneios simples de Fifa, Naruto e Mortal Kombat 11. Mesmo assim, ainda longe do que seria ideal, mas é uma forma de entretenimento que encontramos para garantir um pouco da inclusão desse público ao evento”, conta. O principal dificultador, segundo ele, é o quesito estrutural.

“Temos muitos players, mas pouquíssimos locais para recebê-los. Precisaríamos de uma ‘game house’ para concentrar os jogadores ou mesmo criar um time. O incentivo a essa cultura ainda é muito reduzido. A Prefeitura tem feito algumas ações para incentivar os jogadores, mas ainda sim esbarra no problema de viabilidade para realização de campeonatos. Seria necessário computadores compatíveis e suficiente para dois times e internet de qualidade para abrigar o servidor, de maneira móvel. Os organizadores precisam de uma arena com um estrutura extremamente cara para fazer um evento de qualidade para levar público e poder ter um retorno. O patrocínio nessa área é bem escasso, precisamos de mais”, conclui Eustáquio.

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