Ícone do site Tribuna de Minas

‘Venho sorrir e ser feliz’: com deficiência visual, atleta de JF trilha caminho na corrida há 15 anos

PUBLICIDADE

O corredor Bruno Guedes, de 34 anos, morador do Bairro Linhares, na Zona Leste de Juiz de Fora, é um exemplo de superação e inspiração. Mesmo com as limitações impostas pela baixa visão, ele encontrou no esporte uma forma de transformar sua vida. Hoje, o atleta se sobressai em disputas locais e viaja pelo estado para competir. Além de sua qualidade na pista, se destaca pela facilidade em fazer amizade e pelo sorriso no rosto, seja às 7h da manhã, quando inicia seu treinamento, ou às 22h da noite, em corridas noturnas.

Bruno, inclusive, será um dos participantes da Meia Maratona de Juiz de Fora, sexta etapa do 36° Ranking de Corridas de Rua da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A disputa acontece neste domingo (4), a partir das 7h, com largada no estacionamento do Shopping Jardim Norte. Há a opção para os atletas de correrem 5km, 10km ou 21km. No sábado (3), ocorre a disputa infantil, às 15h, no mesmo local.

PUBLICIDADE
Bruno conta com a ajuda de guias e professores para treinar. São três treinos por semana, além da musculação (Foto: Leonardo Costa)

Trajetória de Bruno

A história do atleta com a corrida começou em 2009, quando ele terminou o ensino médio. “Na época, fiquei sem saber o que fazer, para onde ir. Me falaram da Associação de Cegos, fui lá e me apresentaram o atletismo e o futebol de cinco. Fiz os dois no início, mas como tenho baixa visão, teria que jogar o futebol de olhos fechados, e me enrolei. A corrida me chamou bem mais a atenção. Logo falei com a minha mãe que era o que eu queria para o meu futuro”, relembra Bruno.

PUBLICIDADE

Desde então, o juiz-forano treina e participa de competições, totalizando 15 anos no meio do esporte. “Aos poucos, fui melhorando, os resultados foram aparecendo, perdi bastante peso. Adquiri mais qualidade de vida, me transformei. Na época de escola, precisava de auxílio, como letra grande, ou as pessoas ditando para mim. Era o único aluno da sala de aula com deficiência. Com o projeto da corrida, tive mais contatos com pessoas com deficiência visual e outras deficiências. Fui me incluindo, e além de crescer no esporte, cresci como pessoa”, comemora o corredor.

No momento, Bruno tem uma rotina regrada, na qual o esporte é prioridade. São três treinos de corrida semanais, de quatro horas cada um, realizados na Faculdade de Educação Física (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A quilometragem varia entre 6km a 10km, assim como a intensidade também depende do dia. Além dos treinos da modalidade, ele pratica musculação.

PUBLICIDADE

“Tenho muito mais liberdade hoje. Antes, eu nem andava sozinho na rua. Hoje, vou e volto para qualquer lugar. Também estou estudando para concursos, quero fazer uma prova interessante e construir uma carreira”, projeta.

Pela mãe

Há 11 meses, Bruno perdeu a mãe, Creuza, sua maior incentivadora. “Ela que me levou para correr no início, foi fundamental na minha vida. Se não fosse ela do meu lado, me apoiando, eu não teria chegado onde cheguei. Tenho pai e namorada, mas preciso me virar mais sozinho, mexeu muito comigo”. Como conta, a corrida é uma “verdadeira terapia”, já que é o momento em que se desconecta dos problemas.

PUBLICIDADE

“Aqui nos treinos eu tenho gente para conversar, as pessoas me dão força. Fiz muitos amigos. Cada um que conheci, guias, atletas ou professores, me ajudam muito a crescer como atleta e pessoa. Digo que o Bruno com a corrida é um, e sem, é outro. Melhorou minha vida e autoestima em 100%”, relata.

Sobre a questão das pessoas com deficiência visual na modalidade, o morador do Bairro Linhares acredita ter havido evolução nos últimos anos. “Quando comecei, todo mundo largava junto, no meio do pelotão geral. Hoje, nós vamos na frente, pensam na gente. Isso ajudou muito. As pessoas da elite passam mais fácil por você. Se fosse no meio do bolo, ficaria muito difícil”.

Ajuda do guia e futuro na corrida

Bruno e Célia, sua guia, desenvolveram uma amizade para além da relação entre professora e aluno: “Ele é especial”, diz Célia (Foto: Leonardo Costa)

Com o foco em participar de todas as corridas do Ranking de Juiz de Fora, Bruno conta com a ajuda de Célia Claveland, professora da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), há mais de dez anos. “Nosso trabalho é desenvolvido com pessoas com deficiência visual, física e intelectual. As pessoas com deficiência visual necessitam de um guia. Ele é extremamente importante para o trabalho ser feito com eficiência, e são vários atletas”, comenta a treinadora.

PUBLICIDADE

O trabalho, conforme diz Célia, precisa ser feito por um profissional de educação física. “Há toda uma planilha de treino, uma elaboração anual de acordo com os objetivos e necessidades de cada atleta. As metas são diferentes, então, o trabalho precisa ser individual, para que seja feito com a necessidade e especificidade de cada um”.

Sempre juntos, Célia e Bruno criaram uma relação maior que a de aluno e professor. “Ele é especial. Está com a gente tem muito tempo, é muito dedicado e comprometido com os treinos. Não falta às corridas, somente quando tem algum imprevisto. Somos amigos, viramos parte da família. Os atletas aqui sempre se envolvem além do espaço da corrida, ficamos sabendo da vida deles”.

Para o futuro, Bruno almeja participar de cada vez mais corridas, e dá um recado para as outras pessoas com deficiência. “O esporte muda a vida. Se não fosse ele, estaria dentro de casa, sedentário, com sobrepeso, só comendo besteira. Além da qualidade de vida física, o esporte dá autoestima, você conhece um mundo que você nunca imaginaria. Peço às famílias que tragam a pessoa com deficiência seja para corrida, natação ou futebol. Porque aqui tenho uma vida, venho sorrir, brincar, e ser feliz”, vibra.

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile