Não critico quem se dedica a assistir todas as partidas durante a Copa, usando o futebol como ópio ou analgésico em um momento de tensões políticas, sociais e econômicas no Brasil. Também não deprecio aqueles que têm abstinência nos dias sem jogos. A Copa é curta, só acontece a cada quatro anos, a vida dura continua amanhã. Só não se pode esquecer de acordar no dia seguinte, com ou sem o hexa, lembrando que Neymar e companhia estão com a vida ganha. Abrindo um parênteses: invejo o México neste momento. Claro que não pela derrota na Rússia, mas o país acaba de eleger Andrés Manuel López Obrador, um presidente que fez uma campanha dizendo que irá priorizar os pobres em seu mandato. Mas isso é assunto para outros momentos.
Voltando ao campo, apesar do meu distanciamento corriqueiro com os gramados e de fazer valer a preconceituosa regra de que, como mulher, não sou grande coisa em relação a entender sobre futebol, tenho certeza e convicção de que este esporte não é coisa “para homens”. Aos poucos, muito aos poucos mesmo, as mulheres que gostam vêm tentando conquistar seu espaço, seja jogando, apitando, comentando e até narrando o jogo pela televisão. Mais que isso, vêm enfrentando grandes batalhas, a começar pelas diferenças astronômicas entre os salários pagos a elas e aos colegas do sexo oposto.
Portanto, nós, mulheres, não somos de ficar só nos estádios torcendo para maridos e gritando apenas no momento do gol. Diante disso, me indignou a fala do simpático técnico mexicano Juan Carlos Osorio, após a derrota de sua Seleção para os brasileiros, na última segunda-feira. Osorio, irritado com a arbitragem e com o resultado disse, durante a entrevista coletiva: “Infelizmente a arbitragem nos atrapalhou. Futebol deve ser um jogo viril, de homens, de contato, e não com palhaçadas”. Ora, Osorio, não piore as coisas e retrate-se com o mundo em relação ao futebol e, principalmente, em relação às mulheres. Futebol não é coisa de homem. Carlos Drummond de Andrade já dizia: “futebol é coisa de alma”.