Tem horas que a gente entra numa briga que sabe que vai perder, mas entra assim mesmo. Às vezes é só para exercitar cada músculo que sente, como dizia o filho do João Araújo. Ou para extravasar alguma raiva até então contida. Ou para não correr do pau. Por orgulho. Por necessidade. Ou por puro espírito esportivo.
Não fosse isso, imaginem se aquela nadadora de Lesoto, Masempe Theko, teria ido às Olimpíadas de Londres ano passado. De porte pouco atlético e bem acima do peso das rivais, ela terminou os 50 metros livre no último lugar entre as 73 competidoras. Enquanto a líder, uma holandesa braçuda de feições havaianas, fez a distância na casa dos 24 segundos, Masempe chegou sozinha, um tempão depois das outras meninas, 42 segundos depois do tiro de largada. Mas botou Lesoto no mapa.
Se não fosse o espírito esportivo (e a possibilidade de conseguir melhores contratos), os jogadores da Udinese não disputariam o Campeonato Italiano, o Queens Park Rangers não jogaria o Inglês e o Granada não entraria no Espanhol. A Coreia do Norte não cismaria de jogar a Copa do Mundo, e o Tupi não se arriscaria na Copa do Brasil que, mais cedo ou mais tarde, torce o rabo da porca.
Porque, como diz o pessoal por aí, para o bom viajante o que menos importa é o destino, o negócio é queimar chão. Para o verdadeiro esportista, que não precisa ser necessariamente um atleta, é a mesma coisa. Senão esses beques de roça nunca entrariam em campo sabendo que do lado de lá tem um Ronaldinho Gaúcho, um Neymar, um Mário Tarcitano.
Mas eles entram assim mesmo, como aqueles soldados de Napoleão marchando rumo à poderosa Mãe Rússia sob o inverno assassino, certos de que, botas em farrapos e dedos necrosados, virariam comida de lobos e dos próprios companheiros. A diferença é que os homens de Napoleão não tinham escolha. Masempe Theko tinha.
O negócio é que, mesmo encarando a bocarra de um horizonte inexoravelmente devorador, é preciso saber fazer valer seus momentos no campo de jogo ou no campo de batalha, porque entrar ali sabendo que vai perder é uma coisa; entrar derrotado é outra completamente diferente.