A matéria especial com Gerson é a estreia do novo quadro original da Tribuna, o “Fala Mestre”. Nele, a reportagem irá contar histórias de professores dos mais diversos esportes na cidade. A intenção é valorizar a trajetória, relembrar personalidades marcantes e reforçar o poder da atividade física na transformação social, no lazer e na saúde.
Ex-jogador profissional
Natural de Juiz de Fora, nascido e criado em Benfica, na Zona Norte, Gerson sempre teve o futebol como parte de sua vida. “Joguei profissionalmente durante muitos anos. Atuei no Tupi entre 1984 e 1990, tive uma passagem pelo Sport em 1989, joguei no Espírito Santo, em Barra do Piraí (RJ), em Marília (SP)”, conta. Depois de encerrar a carreira em 1994, ele voltou à cidade natal e começou a jogar futsal e a treinar atletas no Sport.
“Como o futsal adulto não era remunerado, o presidente me convidou para participar do time adulto. Passei a trabalhar com a escolinha durante o dia e a treinar à noite. Fiquei de 1996 a 2015 dando aula. Saí do Sport, e voltei em 2021”, relembra. Em todos esses anos, foram incontáveis gerações e elencos formados, mas Gerson guarda com carinho os primeiros títulos da base. “Fomos os primeiros campeões sub-9, na estreia da categoria lançada pela Federação. Conquistamos também o sub-11 e o sub-13”.
Atletas revelados
Entre os jogadores que treinaram com Gerson, há diversos nomes que chegaram longe. “Hoje, o mais consagrado no futsal é o Léo Santana, que começou aqui, passou pelo Praia Clube, jogou no Barcelona (na Espanha) e agora está na Polônia. Tem também o Ramon Pavão, com larga carreira na Tailândia, e tantos outros atletas deixaram sua marca.”
Atualmente, outros garotos seguem esse caminho. “O mais recente é o Gregore (campeão pela Libertadores com o Botafogo), que começou comigo com 6 anos. Tem também o Wesley Hudson, que jogava no Atlético e hoje está no Novo Horizontino; o Gustavinho, que está no América-MG; o Max, do Cuiabá; e o Thomás Jaguaribe, que esteve no Flamengo e jogou fora do país”, enumera.
O tempo passou, mas o legado é incontestável. Gerson acredita que mais de 10 mil atletas já passaram por seu comando. “O mais prazeroso é ver que, mesmo aqueles que não seguiram no esporte, se tornaram pessoas de bem. Muitos são casados, têm filhos, são advogados, trabalham em bancos. Isso é muito gratificante.”
Dessa forma, os reencontros são frequentes e cheios de nostalgia. “Muitos me chamam de ‘tio’. É engraçado porque mudam muito. Meninos que tinham 10, 12 anos, hoje estão com 30 e poucos. Às vezes eles me reconhecem antes de eu lembrar quem são. Aí me dão uma dica e eu lembro: ‘Ah, já sei quem é você, do time tal, da época tal'”.
Mais do que formar atletas, Gerson conta que sempre se preocupa em formar cidadãos. “O que tento passar nos treinos é que os meninos precisam acreditar neles mesmos, independente de quem vai chegar mais longe ou não. Às vezes um atleta tem muito potencial, mas entre os 12 e 18 anos acontecem muitas coisas. Por isso, o mais importante é se preparar para a vida.” Apesar de ter treinado equipes de campo, o futsal sempre foi sua maior paixão. “Procuro ensinar valores como responsabilidade e respeito. O atleta precisa respeitar não só os companheiros de time, mas também os adversários. Hoje você está num clube, amanhã pode estar em outro, e vai reencontrar pessoas com quem já jogou.”
Gerson do Sport
E se o futsal é parte essencial de sua vida, o Sport é quase uma extensão da própria casa. “Vivi mais tempo aqui dentro do que em qualquer outro lugar. Vim para cá ainda solteiro. Casei, criei meus filhos. Tenho um carinho enorme pelo clube e espero que continue resistindo. O Sport é um dos clubes mais importantes de Juiz de Fora e não pode desaparecer.”
Em qualquer lugar, o apelido o acompanha. “As pessoas me chamam de Gerson do Sport. Pretendo continuar por aqui por mais tempo. Quero que haja mais investimento no futsal, não só no clube , mas em Juiz de Fora. Há dez, 15 anos, o futsal daqui era muito forte, com times como o Bom Pastor e o Olímpico. Revelávamos grandes jogadores. Hoje o futsal da cidade se resume praticamente à Copa Bahamas”, critica.
Com o olhar de quem viu gerações passarem, o professor também aconselha quem está começando. “O mais importante é observar e ouvir os mais experientes. A vivência conta muito. Hoje, o professor tem toda a parte didática, mas a experiência de jogo é diferente. Quase nada acontece exatamente como planejado no quadro tático.” Reconhecido como referência no futsal local, ele encara o título com humildade.
“Nunca me considerei o melhor treinador, mas tive o privilégio de conquistar 21 campeonatos mineiros. Fui parte da comissão da seleção mineira uma vez, quando fomos campeões e o Léo Santana, com 12 anos, foi convocado”. Mais do que troféus, o que o move é o respeito conquistado.
“É muito gratificante chegar em qualquer lugar e ser reconhecido pelo trabalho. Quero deixar um abraço para todos que passaram por mim. Vejo muitos jogando veterano hoje. Fico feliz de saber que a maioria deles está bem, muitos casados, outros solteiros, empresários, trabalhando em vários setores. É muito bom ver que seguiram um bom caminho. Espero que o futsal volte a evoluir, a chegar ao patamar que já tivemos — disputando o Campeonato Mineiro e o Rio-Minas-São Paulo adulto. Que as pessoas olhem com mais carinho pro futsal, não só do Sport, mas de toda Juiz de Fora.”
