Ainda criança no Bairro Cidade Nova, na Zona Sul de Juiz de Fora, Waldeí Fernando Moreira era um daqueles jovens apaixonados por bicicletas. Ansiava em andar sobre duas rodas. Entre seus sonhos, talvez não imaginasse que, aos 33 anos, seria bicampeão brasileiro de BMX Flatland, realizando manobras em sua bike, e estaria a um passo de competir na categoria profissional da modalidade. A possível despedida ocorre no próximo fim de semana, quando o atleta embarca para Itapevi (SP), onde disputará o Campeonato Brasileiro e uma etapa do Sul-Americano.
“Sempre fui doido por bicicletas. Toda criança quer ter uma. Mas a condição financeira da minha família não era tão boa, então foi difícil ter uma. Quando consegui, que era de aro maior, 26, conheci alguns amigos que tinham vídeos de pessoas fazendo manobras (nas bikes). Dali apanhei amor pelo esporte. Gostei, falei que queria fazer. Achava impossível, mas um dia iria fazer. Hoje conheci até atletas que estavam nos vídeos que eu assistia quando pequeno, e fui tentando manobras com os amigos. Até que aprendi bastante coisa”, conta Waldeí.
O juiz-forano faz malabarismos em cima de uma bike há uma vida adulta, com currículo vitorioso. “Pratico desde os 15 anos e minha primeira competição foi em 2013, em que fiquei em sexto lugar. Daí para frente decidi seguir rumo ao profissionalismo. Sou bicampeão brasileiro: fui campeão em 2014 invicto, ganhei as três etapas; em 2015 fui vice e tive uma lesão que me tirou pouco mais de um ano das competições. Mas voltei no ano passado e fui campeão nacional na categoria amador. Neste ano estou em busca do tricampeonato e de subir de nível para a categoria profissional.”
O profissionalismo
Com a bagagem, Waldeí se credenciou a integrar o rol dos principais atletas do país em sua modalidade. “Todo mundo, quando começa a participar de competições no esporte, tem como foco chegar na categoria profissional, o nível máximo. Quando comecei a competir, olhava para os profissionais e queria ser igual a eles ou estar no meio algum dia. Consegui participar da categoria iniciante e ser campeão brasileiro, fui para a amador, também fui campeão brasileiro, e agora estou para ir à profissional. Pretendo conquistar o Campeonato Brasileiro, algum dia nela”, projeta.
Quanto ao nível técnico da nova etapa de sua vida, Waldeí também já conquistou segurança após uma experiência não planejada. “No ano passado fui a João Pessoa (PB), a convite de um amigo, e, chegando lá, tinha a categoria amador, mas com poucos atletas. Aí ele me convenceu a participar da categoria profissional. Estava meio inseguro, mas, mesmo assim, participei e consegui ficar em segundo lugar. Então sou um amador, mas que já tem até um troféu da categoria profissional”, destaca o juiz-forano.
A modalidade
Flatland, termo em inglês, significa piso plano. Logo, o BMX Flatland é um tipo de variação freestyle, nesta condição de terreno, da mais conhecida BMX – modalidade do ciclismo com rampas, saltos e manobras nas bicicletas. Entre as diferenças, há a obrigatoriedade de que o atleta realize manobras sem obstáculos, na maioria das vezes.
“A avaliação (dos competidores) é feita da consistência do atleta, dos acertos da manobra e da criatividade. Um pé no chão já elimina um pouco de pontos. Quanto menos você errar, melhor para a pontuação”, conta Waldeí, que busca na internet ideias de performance.”Procuro sempre ver manobras que poucas pessoas fazem. Ou antigas, que ninguém faz hoje; ou que alguém realiza, mas tento pegar de uma forma diferente para ser o mais criativo possível.”
Manobras nunca feitas no Brasil
O Campeonato Brasileiro de BMX Flatland desta temporada será disputado em etapa única, que também será válida como uma fase do Sul-Americano. Para este próximo evento, em Itapevi (SP), o juiz-forano que treina, em média, quatro horas por dia, promete uma atuação memorável aos brasileiros apaixonados por ciclismo e manobras.
“Treinei pouco esse ano, estava com compromissos particulares, mas, mesmo assim, consegui colocar minha rotina de treinos em dia e tenho bastante manobras novas que nunca foram feitas em campeonatos no Brasil”, promete.