“Aos 5 anos, a Natália já tinha uma perda auditiva na casa de 40%. Quando foi impedida de fazer natação, que ela adorava e também se destacava, viu um programa, e apaixonada com o Malvino Salvador (ator), quis fazer o jiu-jítsu por causa dele e da Kyra (Gracie, campeã mundial). O médico, na época, disse que era importante a prática de uma atividade física regular. Como no jiu-jítsu ela tem muitos exercícios, é muito dinâmico, ela começou a produzir certos hormônios que favoreciam o desenvolvimento auditivo. Hoje a audiometria da Nati é de 100%, já não apresenta problema nenhum. Claro que tomamos conta, não a deixamos abusar nada, mas essa melhoria foi devido principalmente à atividade física regular, ela treina de cinco a seis vezes por semana.”
Esta é a história da jovem Natália Salles, contada por seu pai, professor da modalidade e taxista, Flávio Salles, à Tribuna, na Academia Power Up, onde sua equipe, a Grappling Fight Team, treina. Na vida desta juiz-forana de apenas 9 anos, lutadora de jiu-jítsu há cinco, a coleção de medalhas – que também impressiona – está longe de ser o maior motivo de comemoração dentro e fora do tatame. As consequências da evolução de seu quadro clínico foram além do desempenho na arte marcial.
‘O jiu-jítsu significa meu futuro’
“Quando descobrimos que ela não estava escutando bem, houve um prejuízo. Não pegava a matéria direito, possuía problema de concentração. Hoje não. Estuda, tem só notão. E no jiu-jítsu também é só alegria, deixa todos os professores muito felizes e orgulhosos”, reitera o pai da atleta, Flávio.
“Amo o esporte!”, conta Nati, como é carinhosamente chamada. Por que? “Não sei, mas gosto muito”, responde, tímida. E o que ele representa para você? “O jiu-jístu significa meu futuro, se Deus quiser. Não me vejo sem ele. Quero entrar para a Marinha e seguir lutando”, projeta. A arte marcial, contudo, também é passado e o presente da lutadora multicampeã. “Já ganhei torneios como a Copa Judô, Copa Sol e Neve, um Pan-Americano, um Sul-Americano e um Mundial (todos em 2016), além do Brasileiro (abril de 2017) e ter sido vice no Mundial (julho de 2017) e no Brasileiro (maio de 2017) em categorias de 11 e 13 anos, sendo que tenho 9”, conta a faixa amarela, que atua na categoria pesadíssima.
Estrutura de peso e dom
A carreira de Nati é monitorada de perto por família e professores. A mãe, Julimar Salles, pedagoga, conta que os entes próximos fazem o possível pela alegria da jovem. “É uma satisfação muito grande, primeiro pela recuperação de sua saúde, e depois como resultado de todo o esforço dela. Incentivamos ao máximo, da maneira que podemos, porque é o sonho dela. E ainda somos recompensados com as medalhas também”, relata.
O pai, Flávio, voltou ao esporte pela filha. “Tudo muda com o esporte. Ela começa, eu reencontro o esporte, porque era algo que fiz há muito tempo e ela nem sabia, temos a ajuda do mestre Diego Soares, que abraçou a causa e disse para eu treinar com ela. Aí depois de um tempo ele falou que se eu quisesse sair, tudo bem, porque ela já sabia treinar sozinha. Tanto é que hoje ela treina com crianças e depois com adultos”, lembra.
Para o mestre de Nati, citado por Flávio, a juiz-forana é especial no tatame. “Diferente é o dom que ela tem. Parece que nasceu para o jiu-jítsu. Nos campeonatos que vai, quase sempre ganha. Quando tira o segundo lugar, fica satisfeita e volta mais compenetrada para competir e chegar ao seu ideal. Tenho certeza que futuramente ela irá estourar na mídia do Brasil inteiro e até do mundo. Já está querendo o MMA também, mas disse para ter calma!”, conta.
E Nati não para. No próximo dia 16, a jovem lutadora disputa a Copa do Mundo da Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu Olímpico (CBJJO), no Rio de Janeiro (RJ). No dia seguinte, ainda na Cidade Maravilhosa, ela compete no Sul-Americano.