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Pandemia faz aumentar o número de ciclistas em Juiz de Fora

tania by arquivo pessoal destacada
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Que o estilo de vida das pessoas sofreu modificações com a pandemia, não resta dúvida. O interessante é que alguns hábitos podem ter chegado para ficar. Nos últimos meses, o mercado de bikes sentiu um aumento incomum na demanda. Além de ser um substituto para atividades físicas, a bicicleta vem sendo adotada como um meio de transporte alternativo para evitar aglomerações, como indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na Bike Company, localizada no Centro, os funcionários têm visto cada dia mais movimento na porta aberta, agora com uma barreira para evitar a entrada de clientes. Consequentemente, a venda de bikes, peças, acessórios e mão de obra também têm crescido além do esperado.

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“Devido às academias estarem todas fechadas, a bicicleta foi uma alternativa para praticar uma atividade física. Também há o fato da bicicleta estar sendo inserida, ao longo dos anos, como um transporte alternativo. Antes era um aumento gradual, de 10% a 12% ao ano, mas, com a pandemia, esse aumento foi muito além”, observa o proprietário Reinaldo Souza Pinto, que ressaltou ainda a procura pelo veículo como instrumento de trabalho para entregadores de aplicativo.

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Segundo o proprietário Reinaldo Souza Pinto, da Bike Company, as bicicletas têm sido procuradas por esportistas e também pela sociedade em geral (Foto: Fernando Priamo)

Em outra loja, os clientes esperam em uma fila de até 15 dias para serem atendidos em serviços de manutenção, de tão cheia que tem estado a agenda. Segundo a proprietária da Terrabike, em 27 anos de mercado, este tem sido o momento de maior lucratividade. O faturamento com as vendas triplicou e falta produto para atender a demanda dos clientes.

“Aumentou absurdamente a procura em nível nacional e mundial. A maioria das fábricas nacionais estão em Manaus (AM) e, quando voltaram às atividades, trabalharam com o estoque que tinham. Mas, agora, falta peça para produzir, porque vem tudo da China. Na oficina não damos conta (de atender aos clientes) porque não tem mecânico para contratar, falta mão de obra qualificada. Não há curso de mecânica de bike em Juiz de Fora, só em São Paulo, e são caros. A maioria dos meus funcionários gostam de bicicleta e aprenderam sozinhos”, explica a empresária Mariana Bellini.

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Em sua loja, já apareceram lutadores, nadadores, praticantes de crossfit e até famílias inteiras aderindo ao pedal. “Nunca vi tantas mulheres pedalando quanto hoje”, comenta.

De empresária do setor a ciclista: Mariana Bellini também passou a usar a bicicleta como meio de transporte nos últimos meses (Foto: Arquivo Pessoal)

Adaptação do trânsito

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A própria Mariana deixou o carro de lado e passou a utilizar a bicicleta como um meio de transporte, desde o início da pandemia. Para ela, esse mercado, que antes era tão específico, tem chance de continuar expandindo, o que pode pressionar os sistemas de trânsito a se adaptarem a este novo modelo de mobilidade urbana.

“Já passou da hora da prefeitura olhar para isso e ver a bike como um meio de transporte integrado na nossa sociedade. Comecei a pedalar agora e passo muita dificuldade, os carros e as pessoas não têm respeito pelo ciclista. Ainda somos a minoria. Tem alguns trechos da rua que estão demarcados para o compartilhamento, mas isso não é respeitado. Além disso, o sistema de ônibus vive superlotado, acho que seria interessante (essa adoção) para a cidade, e tenho fé que isso vá acontecer.”

Bikes para todos os gostos

Para atender a tantos perfis, o mercado de bikes é bastante amplo, e o valor do produto também varia segundo suas funcionalidades. Segundo Reinaldo, o preço de uma bicicleta da linha urbana pode custar em torno de R$ 600, com poucos acessórios, a R$ 3 mil reais, mais completa. Para deslocamento urbano, o recomendado são bicicletas mais básicas, podendo ter até uma carregadeira, para transporte de pequenas cargas. Mas saber disto não basta, também é preciso considerar o tipo de trajeto que será feito.

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“Um trajeto com muito morro precisa de algo que dê mais conforto e também um freio melhor para as descidas, para proporcionar segurança. Uma pessoa que mora em locais mais planos, não precisa disso tudo”, explica o empresário.

Já para a prática esportiva, a bike pode sair mais cara, já que a prática intensa, enfrentando longos trajetos e terrenos variados, exige mais conforto. “Já há também bicicletas elétricas com modelos urbanos e para trilhas, que também têm bastante procura”, comenta.

Atraindo novos adeptos

Tânia, que não pedalava desde o período da adolescência, comprou uma bicicleta e redescobriu uma antiga paixão (Foto: Arquivo Pessoal)

Há cinco anos, Tânia Oliveira começou a correr para aliviar o estresse. “Quando dei a primeira volta na lagoa do Museu Mariano Procópio, já me senti corredora. Comecei a voltar do trabalho correndo para casa e a me sentir bem. Fiz a Corrida da Fogueira em julho de 2015 e não consegui parar mais. A cada dez segundos que diminuía no tempo, ficava uma felicidade só e comecei a almejar provas maiores”, conta a juiz-forana de 50 anos, que já conquistou pódio no Ranking de Corrida de Rua e troféus em outras provas da região.

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Com o início da pandemia, Tânia passou a ter dificuldades para seguir treinando sozinha e teve que buscar alternativas para seguir na prática da atividade física. “Para treinar tem que ser sozinha, de máscara, ou bem cedo em um lugar isolado. Não podendo encontrar em grupo, dá uma tristeza. Mas para o corpo acostumado com atividade física, é sofrido ficar parado”, destaca. A alternativa, então, foi comprar uma bicicleta, realizando um sonho antigo – parado desde a adolescência – de pedalar.

Sem orientação profissional, Tânia entrou em um grupo para ciclistas no WhatsApp, onde recebe dicas para aumentar seu ritmo gradualmente. Com treinos aqui e ali, encaixando na rotina apertada, ela vai se encantando pelo novo esporte enquanto supera obstáculos.

“A princípio a gente olha o ciclista na rua e acha que é simples, mas não é. Depende de equilíbrio, força, e, principalmente, de treino. Se achar que está difícil, amanhã estará bem mais fácil que hoje e, depois que começa, a gente apaixona”, conta ela, que tem pedalado de duas a três vezes na Avenida Brasil, sozinha, ou em grupo – com distanciamento social – na Remonta.

Pedalar contribui para isolamento social

Segundo o médico ortopedista Samuel Lopes, a recomendação da OMS pelo uso da bicicleta não é à toa. Por ser um transporte individual, desde que praticado solo, o pedal contribui para o isolamento social, sendo considerada a medida mais eficaz de proteção contra a Covid-19.
“Como as pessoas se deslocam para ir ao trabalho e outros afazeres do dia a dia, seja de táxi, transporte por aplicativo ou ônibus, as pessoas se expõem mais nessas situações. Mas quando temos a bicicleta como meio de transporte, a pessoa fica mais segura. Outro benefício para a saúde é a prática de atividade física, além de colaborar com o meio ambiente, tendo menos poluição”, observa.

Muito importante para combater o sedentarismo, a OMS recomenda que cada pessoa pratique 150 minutos de atividade de intensidade leve a moderada por semana. Nesse ponto, entra outra vantagem do ciclismo, que é, inclusive, considerada um exercício tão completo quanto a caminhada.

Ortopedista estimula o uso da bike como prática esportiva, mas recomenda evoluções gradativas para evitar lesões (Foto: Arquivo Pessoal)

“Imaginando que a pessoa use a bike como um meio de transporte no trabalho, pedalando 15 minutos para ir e mais 15 minutos para voltar, de segunda a sexta-feira, ela já está cumprindo o mínimo de atividade física regular recomendada por semana. Além de ter benefícios como prevenção de doenças cardiovasculares, melhora no metabolismo e na saúde mental, prevenção de câncer, dentre outros. Com o ciclismo, temos o recrutamento maior de músculos em comparação com a caminhada, além de trabalhar a postura e movimentar os membros superiores e inferiores”, explica o médico, que trabalha com traumas provocados pelo esporte.

Apesar de contribuir para o isolamento, o ciclismo não elimina a necessidade do uso de máscara. Outros equipamentos de proteção como capacete e luvas também são indicados. Para não causar danos ao corpo, o veículo também precisa ser ajustado de acordo com seu usuário.

Cada um tem seu ritmo

Para aqueles que estão iniciando no pedal agora, é preciso lembrar que, ao começar uma nova atividade física, precisamos dar um passo de cada vez. Como ortopedista e ciclista por hobby, o ortopedista observa que nunca se deve tentar acompanhar o ritmo de outra pessoa, pois o exercício em excesso tem suas con

sequências. A dica é aumentar a intensidade da atividade gradativamente e respeitar a própria individualidade, para que o pedal não deixe de ser algo prazeroso.

“Sem academias, crossfit e funcional, as pessoas têm buscado alternativas. Uma delas é treinar em casa, mas muitos têm buscado atividades ao ar livre, como corrida e ciclismo. Mas, por mais que as pessoas façam outros exercícios, quando ela vai para o pedal, ela tem uma solicitação muscular diferente do que fazia em outras atividades e existe o risco de gerar algum tipo de sobrecarga ou dor. Acompanhar alguém que já pedala há mais tempo, forçar essa atividade mais intensa ou prolongada, gera sobrecarga sobre as articulações e a coluna lombar. Se essas pessoas tiverem ficado paradas durante a pandemia, por mais que fossem bem condicionadas meses atrás, perderam um pouco de força muscular”, explica.

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