Mineiro de Três Corações, hoje eternizado nos corações não só dos 220 milhões de brasileiros, como de uma legião de fãs espalhados em cada canto do planeta. Maior nome do cenário esportivo no Brasil, Edson Arantes do Nascimento promoveu dias de entusiasmo nas cidades em que esteve, como Juiz de Fora. Pelé, que morreu na última quinta-feira (29), aos 82 anos, em decorrência de insuficiências renal e cardíaca, broncopneumonia e consequências de um câncer de cólon, participou de ao menos quatro acontecimentos relevantes no futebol de Juiz de Fora. A Tribuna procurou relembrar esses momentos, com pessoas que participaram diretamente deles. Uma reverência ao soberano da bola, dos dribles e dos gols, o qual já presenteou um ídolo carijó e elogiou o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio.
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1960: Seleção Mineira x Seleção Paulista no Verdão
No dia 27 de janeiro de 1960, Pelé chegaria em Juiz de Fora para representar a Seleção Paulista em jogo contra a Seleção Mineira, realizado no Estádio Doutor José Procópio Teixeira, o tradicional campo do Sport Club JF. A partida foi válida pela fase final do Campeonato Brasileiro de Seleções de 1959, que reunia Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco, e terminou com vitória da equipe do Rei por 4 a 3. Os tentos dos visitantes foram de Pelé, Lima, Coutinho e Dorval. Já Ipojucam (2x) e Toledo marcaram para os donos da casa.
A Seleção Mineira, comandada pelo técnico José Paiz Soares, foi escalada com Hélio, Adherbal, Djalma, Faninho, Francinha e Kelebes; Odir (Oiama) e Célio; Ipojucam, Jorge e Toledo. Já a representação paulista, do técnico Vicente Feola, teve Gilmar, Zé Carlos, Olavo, Juths e Lima; Orécio, Durval e Coutinho; Chinezinho, Pelé (Bazani) e Pepe, conforme informações veiculadas no canal do YouTube do Portal Toque de Bola.
De acordo com o historiador Léo Lima, o jogo contra a equipe de Pelé no Sport foi o primeiro do turno da fase final do campeonato. “Foi em uma quarta-feira, durante a semana e muito equilibrado. Na etapa inicial, São Paulo abriu 4 a 1. Mas depois o Pelé saiu, e a Seleção Mineira fez dois gols. Mesmo assim, o técnico José Paiz Soares foi demitido, e contrataram o Geraldo Magela”, conta.
Um dos torcedores presentes na arquibancada era o engenheiro e ex-jogador da base de Tupi, Tupynambás e Sport, Luiz Fernando Sirimarco, o Dida, que revela à reportagem o clima de euforia presente na cidade. “Estava muito cheio, o Pelé já era famoso na época. Tinha sido campeão mundial em 58, estava no auge da carreira. A arquibancada que existia, a chamada geral, ficou lotada. Acabou que muita gente nem no campo entrou. Devido à lotação, vários ficaram de fora desse jogaço. Foi incrível ter visto esse desfile de craque”, declara Sirimarco.
“Eu era pequeno, mas lembro que ele desequilibrou o jogo. Fazia jogadas incríveis. Lembro que alguns jogadores o subestimavam, perguntavam ‘quem é Pelé’. Se não conheciam, passaram a conhecer a partir daquele dia”, brinca.
1966: Tupi x Seleção Brasileira, com Toledo e Pelé
No ano de 1966, o Tupi vivia um de seus melhores momentos. A equipe acabava de passar pela histórica sequência de vitórias sobre América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro no Mineirão, o que rendeu a alcunha ao time carijó de “Fantasma do Mineirão”. Valorizado no cenário nacional, o clube foi convidado para um amistoso contra a Seleção Brasileira, que se preparava para a Copa do Mundo na cidade de Caxambu. A partida, que aconteceu no dia 27 de abril, terminou em 3 a 1 para o Brasil, após o Tupi abrir o placar com João Pires e a Seleção virar com Pelé, Servilho e Dário (contra).
O Tupi atuou com Waldir; Manoel, Murilo, Dario e Eli Flores; Mauro (Paulino) e Francinha; João Pires, Amarílio (Joel), Toledo e Eurico. O time era comandado por Geraldo Magela. Enquanto isso, a Seleção Brasileira, já bicampeã mundial, teve Gilmar (Waldir); Carlos Alberto (Djalma Santos), Brito (Djalma Dias), Orlando (Leônidas) e Rildo (Paulo Henrique); Dudu e Gerson (Denilson); Garrincha (Paulo Borges), Servilho, Pelé (Flávio) e Paraná (Ivair). O técnico era Vicente Feola.
Após a partida, um dos maiores ídolos da história do Tupi, Moacyr Toledo foi presenteado por Pelé. É o que enaltece seu filho, Paulo Henrique Toledo. “Terminando o jogo de Caxambu, a delegação do Tupi estava no hotel, e até em palavras do meu pai, foi um alvoroço danado. Ali estava o Pelé, procurando um loirinho que tão bem marcou ele no amistoso. Ele deu uma foto para o (meu) pai, a foto deles disputando bola, que é histórica”. Hoje em dia, essa foto está exposta no saguão de entrada do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, próxima, inclusive, da estátua de Toledinho.
Houve, ainda, mais uma partida entre Tupi e Brasil, no dia 7 de maio de 1966, dessa vez realizada em Três Rios (RJ). A Seleção Nacional venceu novamente por 3 a 1, com todos os gols marcados por Alcindo, enquanto João Pires assinalou para o Carijó novamente.
Cinquenta e dois anos depois, em 2018, Pelé entregou mais um presente para Toledo. “Essa foto foi passada para uma camisa. O Pelé autografou, fez uma dedicatória e mandou para o pai. Guardamos a camisa em uma moldura, foi muito emocionante receber esse presente. Não tem valor, ainda mais que meu pai estava em vida”, se emociona Paulo. No ano seguinte, Toledo, o jogador que encantou Pelé, morreu, aos 87 anos.
1970: Pelé apostou no Clássico Tu-Tu
No ano em que o Brasil conquistava a Copa do Mundo pela terceira vez, a Loteria Esportiva no Brasil dava seu pontapé inicial. E o clássico entre Tupi e Tupynambás fez parte deste início. O duelo, realizado em 19 de abril de 1970 pela primeira divisão estadual, era o jogo dez no cartão produzido em cem mil unidades, com 76.649 delas vendidas. Nem mesmo Pelé e Zagallo, técnico da Seleção Brasileira à epoca, deixaram de apostar.
“Fizeram uma enquete na época e o Pelé, no auge com a Seleção Brasileira de 1970, palpitou no Tupynambás como vencedor, enquanto o Zagalo apostou no Tupi”, se recorda o historiador Léo Lima. A partida terminou com vitória do Tupi por 2 a 0.
1996: Pelé visita e elogia o Estádio Municipal
Na última vinda à Juiz de Fora, em 1996, Pelé era Ministro de Esportes do governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-jogador conheceu o projeto social “Bom de Bola, Bom de Escola”, no Bairro Vila Olavo Costa. Em entrevista para a Tribuna na época, Pelé declarou que “um projeto como esse é muito bom. Ajuda tudo: na saúde, na segurança. As crianças não se tornando bandidos não vao precisar de segurança e com o esporte se adquire saúde”.
Pelé esteve também no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, onde deu o pontapé inicial e assistiu ao jogo entre dois núcleos do projeto social, além de inaugurar uma placa que dava seu nome a um dos vestiários, que fica do mesmo lado de onde se instalam as cabines de transmissão. O rei do futebol se impressionou com a qualidade do palco esportivo “Eu falei para o prefeito: se o Santos que é bicampeão do mundo, teve todos os títulos do mundo e é o time mais conhecido do mundo, tivesse um estádio desse seria ótimo, porque o Santos não tem”, afirmou.
O professor e jornalista Márcio Guerra era um dos profissionais que trabalhavam durante a vinda de Pelé. “Era muita emoção, ver o rei de perto foi diferenciado. Para nós, jornalistas esportivos, foi um privilégio. Foi muito movimentado, apesar de que ele não era mais jogador, já estava de terno e gravata, como ministro. Mesmo assim, causou muita comoção”, rememora.