Como pensar em práticas esportivas em um ano pandêmico? Com o distanciamento social imposto pela Covid-19, 2021 deixou muitos atletas fora de combate ou, como no caso dos campeonatos de futebol, sem torcida presente nos estádios. Até a vacinação começar a surtir efeito, diminuindo os casos de coronavírus, as atividades físicas precisaram ser adaptadas para dentro de casa, com treinos transmitidos de forma virtual. Uma realidade, até então, jamais imaginada por quem se beneficia da convivência social que o esporte proporciona. Neste cenário, o que propor a uma cidade em seu primeiro ano frente à Secretaria de Esporte e Lazer? Titular da pasta, o professor licenciado da UFJF Marcelo Matta faz um balanço deste primeiro ano e o que pretende fazer quando “a vida voltar ao normal”.
Tribuna – Quando o senhor assumiu a Secretaria de Esportes, o distanciamento social já havia suspendido campeonatos importantes no Brasil. Academias, ginásios e estádios estavam fechados. Sabendo que encontraria este cenário, como trabalhou com sua equipe para manter sua pasta em atividade?
– Este foi o maior desafio encontrado neste primeiro ano. Um momento de pandemia no qual tivemos que fazer uma gestão racional e cuidadosa. Muitos profissionais querendo realizar suas atividades e, em contrapartida, o Programa Juiz de Fora pela Vida publicando notas técnicas orientando procedimentos necessários para preservação da vida. Através de diálogos, conseguimos vencer o momento difícil.
A secretaria realizou os primeiros jogos de e-sports (jogos eletrônicos pela internet). Na nossa avaliação, foi um sucesso. Realizamos também um intercolegial com atividades virtuais. Nossos professores mantiveram contato constante com os alunos dos núcleos, enviando vídeos de atividades para serem realizadas nos espaços da casa, na garagem ou no quintal. Aproveitamos o momento para realizar cursos de capacitação para nossos professores, através de uma parceria com a Faculdade de Educação Física da UFJF. Trabalhamos também em questões relacionadas ao Estádio Municipal, aos campos de várzea e às legislações que regram o esporte da cidade. Mantivemos trabalho conjunto com o Conselho Municipal de Desportos (CMD). Após a liberação de atividades presenciais, graças ao bom trabalho de vacinação da cidade, voltamos com projetos que o calendário permitiu.
– Como foi a experiência com o campeonato de jogos virtuais? Ele veio para ficar?
– Sim, veio para ficar. Já faz parte do nosso calendário em 2022. Temos sempre que procurar avançar na qualidade do serviço e, desta maneira, vamos trabalhar para aumentar o número de participantes e criar condições de inclusão para que muitos possam participar. Importante ressaltar que temos a ideia de no próximo e-sports disponibilizar uma arena com plataformas para os competidores que têm dificuldade de acesso. A médio prazo, queremos fazer de Juiz de Fora um centro de referência desta competição.
– O senhor se reuniu com diversas lideranças esportivas para ouvir as demandas de variadas modalidades. Como foram esses encontros? Eles tiveram algum resultado prático?
– A Prefeitura tem mantido uma boa relação com as entidades esportivas da cidade. Alguns projetos estão em construção com a perspectiva de incluir e fomentar as modalidades. Posso destacar o projeto Pedala JF, em que grupos de trabalho, com representatividade de vários setores, estão trabalhando na relação das bicicletas com a cidade. Realizamos o projeto Praça Quente Pra Toda Gente, na praça do São Mateus, com a participação dos skatistas e das associações de basquete. Enfim, procuramos manter uma relação constante com o objetivo desenvolver uma cultura esportiva em Juiz de Fora.
– Em um contrato de concessão por 20 anos, a Prefeitura arrendou a sede campestre do Sesc, no Bairro Marilândia, e transformou o espaço em um Parque Municipal. As piscinas e o ginásio permanecem fechados ao público. Quando toda a estrutura poderá ser usada e quais os projetos que são pensados para o local?
– O comitê gestor do Parque Municipal, formado pelas secretarias de Esporte e Lazer, de Turismo e de Comunicação, espera abrir a piscina para o público de maneira gratuita brevemente. Estamos em processo de chamamento público para conseguir parceiros que participem deste projeto. Para utilização das áreas edificadas é necessário o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), e, para isto, é necessário atendermos algumas exigências do Corpo de Bombeiros, o que está sendo providenciado. Relativamente aos projetos, vamos oferecer para toda comunidade, principalmente a do entorno do parque, projetos esportivos, de lazer e de turismo.
– A Olimpíada de Tóquio apresentou ao mundo a força dos skatistas brasileiros. Juiz de Fora tem várias pistas públicas espalhadas pela cidade. A secretaria pensa em melhorar as condições destas pistas e incentivar a prática deste, agora, esporte olímpico?
– Sim, sempre que possível, vamos melhorar as condições estruturais dos aparelhos esportivos da cidade. A SEL, neste ano, realizou um evento com a Associação de Skate de Juiz de Fora que foi muito legal. A propósito, estamos em constante diálogo com eles na procura de melhorar as condições das práticas do skate na cidade. É do nosso interesse manter esta parceria e fomentar esta modalidade esportiva.
– O senhor é professor licenciado de futebol da Faculdade de Educação Física e Desportos da UFJF, deve conhecer bem os campos de várzea da cidade. Como está a manutenção destes espaços, depois que ficaram parados por muito tempo por causa da pandemia?
– As condições de muitos campos não são boas. A maneira que encontramos para lidar com esta situação foi nos aproximarmos das Comissões de Administração dos Espaços Municipais (os Caems), com o objetivo de encontrar soluções. A Prefeitura tem procurado atender algumas necessidades destes locais, mas cabe às comissões administrarem os espaços, trabalhando na manutenção e na organização de projetos sócio-esportivos e competições. Em 2022, vamos alterar a relação jurídica destes campos com a comunidade. Vamos abrir um edital de concessão para pessoas jurídicas interessadas em administrar o espaço, procurando sempre melhorar as condições destes espaços para os futebolistas da cidade.
– A política de utilização do Estádio Municipal é assunto recorrente entre os amantes do futebol. A Prefeitura tem um gasto alto para manter aquele espaço, que é muito pouco utilizado. Neste fim de ano, a manutenção da grama impediu que o Manchester, que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, jogasse no estádio a partida da semifinal. O que fazer para que o estádio devolva para a cidade o investimento dispensado pela Prefeitura?
– Entendemos que o estádio não pode ser considerado apenas como um campo de futebol e que só pode ter jogos desta modalidade. Pensamos em um local de uso misto. É possível que, a partir de 2022, empreendedores de eventos culturais realizem projetos neste espaço, com toda tecnologia usada em grandes estádios para preservação do gramado, é claro. Além disso, também planejamos iniciar o projeto “Estádio para todos”, que tem o objetivo de oferecer mais um espaço para realizar atividades de lazer.
– A Prefeitura pretende continuar apoiando, com a doação de verbas, os times de futebol profissional da cidade?
– Não existe outra opção a não ser cumprir a lei. Cabe ressaltar que, para os clubes de futebol profissional receberem o recurso público, é essencial atender a um regramento determinado pela Lei Municipal13842/19.
– Qual a situação hoje do Ginásio Poliesportivo Antônio Marcos? As obras estão em que fase? Há previsão de inauguração?
– Tivemos um edital publicado para empresas interessadas em terminar este importante aparelho esportivo para a cidade, mas, infelizmente, deu deserto, ou seja, nenhuma empresa se manifestou. No entanto, vamos, em janeiro ou, mais tardar, em fevereiro, publicar um novo edital. Para finalizá-lo, falta todo acabamento dos diferentes espaços, como quadra, vestiários e cabines, instalar as cadeiras nas arquibancadas e o placar eletrônico. A prefeita (Margarida Salmão-PT) trabalha para inaugurar o ginásio no final de 2022 e início de 2023.
– Há alguma previsão de retomada do Ranking de Corridas de Rua para 2022?
– O edital para manifestação das empresas interessadas será publicado brevemente. Após algumas reuniões com diferentes profissionais que têm experiência na realização das corridas em Juiz de Fora, ficou decidido que o ranking 2022 terá de oito a nove corridas.
– O JF Vôlei desistiu de disputar a Superliga A por falta de recursos. Há alguma intenção do Poder Municipal em apoiar o projeto?
– O apoio ao Projeto JF Vôlei pode acontecer, em um futuro bem próximo, através da disponibilidade do ginásio Antônio Marcos para realização de seus jogos. Entretanto, cabe ressaltar que a melhor maneira de apoiar projetos esportivos de rendimento, tal qual o JF Vôlei, é através do desenvolvimento econômico da cidade, pois, desta maneira, aumenta-se a possibilidade de conseguir patrocinadores, além da captação de recursos via projetos incentivados, estaduais e federais. Neste sentido, a prefeita Margarida trabalha de maneira a estimular os investimentos em Juiz de Fora.