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Há 30 anos, Flamengo fazia do Municipal o seu Maracanã na Copa do Brasil

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O ano de 1990 será sempre lembrado como aquele em que o Estádio Radialista Mário Helênio, em Juiz de Fora, viveu dias de Jornalista Mário Filho, o Maracanã. Naquele ano, por um curto período de tempo, o Estádio Municipal se transformou na casa do Clube de Regatas do Flamengo devido a interdição do Maracanã, que passava por reformas. Entre o fim de outubro e início de novembro o time mandou quatro jogos em sequência na cidade, sendo um deles um dos mais importantes da história da instituição: o primeiro jogo da final da Copa do Brasil contra o Goiás, realizado há exatos 30 anos e vencido pelo time carioca, por 1 a 0. O gol marcado em solo juiz-forano garantiu o título ao Rubro-Negro, já que na segunda partida, no Serra Dourada, as duas equipes não saíram do 0 a 0. Para relembrar as histórias por trás do primeiro título de Copa do Brasil flamenguista, a Tribuna conversou com dois ex-jogadores que fizeram parte daquele elenco campeão: o zagueiro Fernando, autor do gol das finais, e o lateral Aílton Ferraz, dono de outro tento decisivo daquela campanha, em partida também disputada em Juiz de Fora meses antes.

Naquele 1º de novembro de 1990, o técnico Jairo Pereira mandava a campo Zé Carlos; Aílton, Fernando, Vítor Hugo e Piá (Rogério); Júnior, Marquinho (Zanata) e Djalma Dias; Renato Gaúcho, Gaúcho e Zinho. Para incrementar a lista de alguns dos nomes que marcaram a história no futebol brasileiro, o Goiás ainda contava com Túlio Maravilha. Para prestigiar tantos jogadores conhecidos, um público muito modesto: 2.437 pagantes. Na edição da Tribuna de Minas publicada no dia seguinte à partida, é possível entender o porquê da baixa adesão: o confronto foi realizado em uma quinta-feira à tarde e, na ocasião, o comércio funcionou normalmente. Além disso, aquela era a segunda edição da recém criada Copa do Brasil, que estava longe de possuir o apelo atual, sendo o torneio de maior premiação do futebol sul-americano.

Fernando (6), no canto direito da imagem, marca o único gol do Flamengo na final e corre para comemorar (Foto: Cerezo/Arquivo TM)

Os 2.437 apaixonados viram a história ser escrita quando aos 16 minutos do segundo tempo Djalminha cobrou falta da intermediária, pela canhota, em direção à área. “ Naquele lance, além de leitura da jogada, tem o tempo de bola. E na hora que o Djalma corre para bater na bola eu saio do zagueiro. E quando você sobe antes do zagueiro, consegue ter grande chance de finalização. Foi isso que aconteceu nessa jogada. Eu tive na minha carreira a oportunidade de fazer muitos gols, e gols importantes, mas não tão importantes quanto esse, que marcou o título, como a primeira conquista do Flamengo da Copa do Brasil. Me sinto honrado de tê-lo feito”, recorda o herói da conquista, Fernando.

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Para o zagueiro, a alegria só não foi maior por conta da expulsão no fim da partida após confusão com o atacante Cacau, que o tirou do segundo jogo da final. “Eu não me recordo do lance, mas eu fiquei muito chateado. Eu não fiz nada com o Cacau. Eu só me lembro de ter partido pra cima dele com palavras mais ásperas, e aí o juiz colocou tudo no pacote e expulsou os dois. Eu fiquei muito chateado porque tinha outro jogo e me tirar daquela final me deixou muito triste”, relembra o ex-jogador, que vive em Santos e não trabalha mais com futebol.

Da arquibancada

Partida foi realizada em uma quinta-feira à tarde e público pagante foi de 2.437 pessoas (Foto: Roberto Fulgêncio/Arquivo TM)

Quem também guarda com carinho lembranças daquela partida é o juiz-forano e flamenguista Luis Augusto. Na época, com 12 anos de idade, foi levado pelo irmão mais velho ao estádio e pôde ver há poucos metros de distância o seu time do coração fazer história na cidade onde nasceu. “Foi uma emoção muito grande. Eu estava atrás do gol com meu irmão mais velho que me levou ao jogo. Foi uma avalanche e eu estava ali naquele bolo de gente. Eu tinha só 12 anos. Aquela foi uma época muito boa, da década de 1990, principalmente por conta disso, de poder ir ao estádio ver o Flamengo.”

Ex-Tupi, Luis Augusto é o atual preparador físico do Sampaio Corrêa (MA), e revela que por conta da profissão no meio futebolístico precisa saber separar muito bem o lado profissional do torcedor. Em contrapartida, admira e incentiva o sentimento do filho pelo Flamengo. “Com certeza os jogos do Flamengo em Juiz de Fora reforçaram muito o meu sentimento de ser rubro-negro. Hoje eu tento passar esse mesmo sentimento ao meu filho de 11 anos. Já levei ele ao Maracanã umas três ou quatro vezes e em outras duas oportunidades no Municipal. Em Juiz de Fora ele entrou de mãos dadas com o Guerrero na partida contra o Botafogo há uns anos. É um sentimento que passou do meu pai para mim e eu tento passar para ele.”

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Ailton, um filho do casamento entre Flamengo e JF

Pela conexão histórica existente entre Maracanã e Flamengo é de se imaginar que a notícia de mandar uma sequência de jogos em outro estado, incluindo a final de um campeonato nacional, seria mal recebida pelos atletas. Entretanto, de acordo com o ex-jogador Ailton Ferraz, a maturidade do grupo e a proximidade da cidade com o Rio de Janeiro foram fatores que amenizaram a recepção daquela decisão. “É lógico que a gente queria estar jogando no Maracanã, mas na época todos os jogadores gostaram da escolha que acabou dando certo. A equipe atuou muito bem dentro do estádio e conseguimos ganhar o primeiro jogo da final.”

O ex-lateral-direito, no entanto, já se sentia jogando em casa, afinal, em julho daquele mesmo ano pelas quartas de final da Copa do Brasil o Flamengo já havia mandado um jogo em Juiz de Fora, dessa vez o da volta contra o Bahia, com atuação decisiva de Aílton. Coincidentemente, o gol saiu de uma cabeçada após cruzamento de Zinho da faixa lateral esquerda do campo, lance muito parecido com o que decidiu a final. O tento foi o único do confronto e a vitória simples por 1 a 0 deixou o placar agregado em 2 a 1 para o Rubro-Negro, garantindo a equipe na próxima fase. “Tem um jogo que não sai da minha cabeça, que foi contra o Bahia. Eu era titular, caí minutos antes do jogo e fui pro banco. Acabei entrando e fazendo um gol de cabeça muito importante para a gente, que garantiu a classificação à semifinal. É algo que não sai da minha memória e que aconteceu em uma cidade que eu jamais esperava ter o carinho que eu tenho hoje. Eu amo Juiz de Fora e foi aí que a gente deu a nossa caminhada para o título da Copa do Brasil.”

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Gol de Ailton, contra o Bahia, foi no fim da partida em jogada semelhante a do gol da final marcado por Fernando (Foto: Roberto Fulgêncio/Arquivo TM)

A partir do momento marcante, outros surgiram, como no comando técnico do Tupi, e a conexão entre o ex-jogador ficou ainda mais forte, culminando na condecoração de cidadão juiz-forano. “Eu fui convidado pelo Fabinho, que hoje está no Flamengo, e que em 2017 era gerente de futebol do Tupi, para tirar o time da parte de baixo da tabela. Conseguimos livrar o Tupi do rebaixamento e quase classificamos. Depois fizemos um trabalho ótimo na Série C e quase subimos para a B, com uma campanha fantástica perto da folha salarial baixa. Mas os jogadores compraram a ideia e conseguimos fazer um trabalho muito bom. Sem dúvidas que Juiz de Fora está no meu coração, estou com uma saudade imensa de visitar meus amigos. Eu tenho a honra de ter recebido o título de cidadão juiz-forano e isso pra mim é um orgulho imenso e isso tudo foi plantado lá atrás.”

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