Imagine: você esquece tudo o que está à sua volta, concentrando sua atenção única e exclusivamente em um alvo móvel ou não, e precisa acertá-lo rapidamente com uma Beretta de 3,5kg. A programadora e atiradora juiz-forana Priscila Macêdo Campos, 25 anos, oitava entrevistada da série Olha Ela! (que foca mulheres que se destacam no esporte em Juiz de Fora e região) não só faz tudo isso. Novata em competições nacionais, pois começou este ano, ela já figura como uma promessa na modalidade. Desde janeiro, a jovem disputou suas primeiras competições oficiais já de olho em vaga no Mundial do próximo ano, na França. Isto porque, além de despontar na Copa Minas de tiro esportivo (olímpico), com apenas uma concorrente, Priscila luta para ficar entre as três melhores do país no Brasileiro de Tiro ao Prato. Na primeira etapa nacional, disputada este mês, a atiradora foi a quarta colocada entre experientes atletas, resultado que lhe dá confiança de que está no caminho correto.
Priscila começou no esporte após visita a um clube da cidade. “Meu chefe onde trabalho é presidente do clube de tiro e levou uma galera para conhecer. Já tinha o interesse, mas não sabia onde havia a prática até por ser muito pouco divulgado. Na hora que vi já sabia que era o que queria. É um esporte muito democrático. A pessoa pode começar tarde, tem gente de todas as idades, atiradores com mais de 70 anos. Não é como o futebol, por exemplo, em que a carreira é curta”, contou.
“Quando dizem que não consigo fazer algo é aí que vou mesmo. Falam que a arma é pesada para uma mulher, mas recentemente treinei com a esquerda e o que me disseram foi que viam homens que não conseguiam atirar tão bem com a ‘mão boa’. O atirador precisa de calma, concentração e reflexo principalmente no tiro prático. A principal dificuldade no uso é o peso. O coice que ela dá é mais forte, e ficamos com a arma apoiada no ombro, levando a pressão nele”, explicou.
Modalidades
Priscila disputa tanto o tiro esportivo, quanto o prático na categoria dama, de mulheres de todas as idades. “Tenho os dois como prioridade. O bom do esportivo é que posso tentar bolsa atleta, mas os dois são ótimos. O prático te cobra mais fisicamente, porque ainda há as pistas em que você corre. Já o esportivo você fica parada em uma posição e depende da pista, pois em algumas você atira até deitada”, explica a atleta.
Tiro no preconceito
Mesmo com pouco tempo de prática, a jovem já combate os preconceitos não apenas pelo esporte ainda ter maioria masculina, como ser realizado com um instrumento imediatamente ligado à violência. “Dizem que é um esporte elitizado porque é tudo caro, munição, armas, aqui não tem muito acessório para as armas e acham que somos perigosos. Falam que pode ter acidente e até matar alguém, mas não é assim. Temos medidas de segurança. Se em uma prova você faz um movimento errado, é desclassificado na hora. Mas é difícil de acontecer, porque tudo já está na mente das pessoas, que são treinadas. É muito seguro”, garantiu, complementando, em seguida, que inclusive se compara a homens no esporte para seguir evoluindo e em alto nível.
“Me comparo mais com os meninos, até por ter poucas mulheres no esporte. O meu namorado já foi campeão brasileiro, outro colega nosso que começou no ano passado já foi terceiro no Mineiro, tem uma galera do Rio que é sensacional. Dizem que estou atirando muito bem, comecei a preparar meu físico agora. No tiro prático você precisa de muita explosão, então faço musculação, acompanhamento nutricional e karatê, que trabalha muito a questão da concentração e do controle do corpo.”